quinta-feira, 28 de março, 2024
31.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

“Queria ter assumido em outro momento”

- Publicidade -

3 por quatro – Por Anna Ruth Dantas

No final do primeiro mandato como vereadora de Natal, a publicitária Júlia Arruda vive um momento que a colocou na história da Câmara Municipal de Natal. Com todas as transições pelas quais passou a Prefeitura da capital potiguar, o comando do Legislativo da cidade terminou nas mãos de Júlia, que era segunda vice-presidente. Ela tem apenas três dias úteis para gerir a Casa. Admite que, pelo pouco tempo, há pouco a fazer, mas nem por isso se mostra desestimulada a gerir o Legislativo. Reunião com os servidores da Casa, definição da solenidade de posse da nova legislatura, na qual está incluída como vereadora reeleita, Júlia Arruda se mostra arrojada, um estilo adotado desde quando deixou a carreira de publicitária, estável e realizada, como ela mesmo define, para abraçar a política. A vida pública é justificada, por ela mesma, através da veia familiar. Afinal, suas seus avós exerceram mandatos eletivos, além do pai dela, o ex-deputado Leonardo Arruda. Júlia Arruda evita falar em projetos políticos para 2014, destaca que está centrada no novo mandato. Mas a julgar pela disposição e pelo engajamento na política, não é difícil prever que ela buscará novos voos na carreira. Tentou um, há poucos dias: ser candidata a presidente da Câmara Municipal, mas foi preterida, no grupo que integra, que escolheu o vereador Albert Dickson.A convidada de hoje do 3 por 4 é uma vereadora jovem que, logo na primeira legislatura, foi escolhida duas vezes parlamentar do ano e encerra o mandato se tornando a primeira mulher a comandar o Legislativo da capital potiguar. Com vocês, Júlia Arruda.
Logo que fui comunicada  pela Câmara me apresentei para tomar posse, não seria eu a responsável por deixar a Câmara sem presidente, da mesma forma que a prefeitura ficou alguns dias sem prefeito - Júlia Arruda
Terminar o primeiro mandato como presidente da Câmara Municipal de Natal, como a senhora avalia esse momento?
Fui pega de surpresa diante desses acontecimentos que ocorreram em Natal. A renúncia de Edivan Martins, a saída de Ney Júnior da Câmara. Eu avalio esse momento muito delicado. Até que ponto chegamos em Natal com a troca de prefeitos. Em menos de 45 dias três prefeitos entraram e saíram da Prefeitura. E pela ordem sucessória não iria negar a minha responsabilidade de assumir a presidência, mesmo diante de um recesso parlamentar, mas sabemos que a Câmara, a questão administrativa, funciona. Irei até o dia 31 de dezembro assumir as minhas responsabilidades. Confesso que queria ter assumido a presidência em outro momento e não em um momento apenas para realmente levar a presidência até o final. Mas gostaria de ter assumido em um momento onde eu pudesse também deixar a minha marca, deixar minha contribuição. Agora apenas vou cumprir o que a Câmara, a burocracia, a formalidade irá exigir.

O que é possível fazer em três dias úteis como presidente da Câmara?
A Câmara está em recesso, mas ontem (quarta-feira) nos reunimos com toda a parte administrativa, cerimonial, com a guarda legislativa, já pensando em providência para posse. A festa, a solenidade, é feita pela Câmara. O cerimonial cabe a Câmara organizar isso. Até com a questão da interdição das ruas, tomamos as providências para o dia primeiro (dia da posse de vereadores e prefeito). Esperamos que tudo entre e nada fuja do nosso controle. Caberá a presidência determinar e entregar o novo plenário que está em reforma e também os novos gabinetes para acomodar os vereadores novos. Tudo isso caberá a mim e estou a disposição dos vereadores que quiserem conversar comigo. Estarei presente aqui até o dia 31. É pouca coisa, eu não tenho como fazer, até porque de dias úteis são apenas três dias.
Uma Câmara muitas vezes tão julgada, tão desconfiada, e Graças a Deus posso andar em Natal de cabeça erguida com o sentimento de que estou cumprindo a missão - Júlia Arruda
A senhora não acha que faltou atenção do vereador Edivan Martins com a senhora, já que ficou sabendo da renúncia dele apenas pela imprensa?
É verdade. Faltou sim. Ele não me adiantou nada. Tudo que eu vinha acompanhando era pela imprensa. Foi a imprensa que me ligou e disse. Logo que fui comunicada oficialmente pela Câmara me apresentei para tomar posse, não seria eu a responsável por deixar a Câmara sem presidente, da mesma forma que a prefeitura ficou alguns dias sem prefeito. Assumi e estou aqui tentando desempenhar a missão da melhor forma possível.

Para uma vereadora que está no primeiro mandato e chega, ao final, a presidência da Câmara, tornando-se a primeira mulher a presidir o Legislativo da capital. A senhora chegou longe demais nesse primeiro mandato?
Durante o meu mandato foi muito de aprendizado, de avaliação. No primeiro ano eu observei mais do que me posicionei. E depois fui criando até autonomia, confiança, assumindo de fato um papel mais de protagonismo. Em determinadas situações quando muitos pensavam que eu não assumiria, iria fraquejar, mas assumi e dei conta do recado, como foi o caso da CEI (Comissão Especial de Inquérito, que investigou os contratos da Prefeitura de Natal). Aquele foi o maior desafio do meu mandato, uma CEI que partiu de um momento delicado que foi a pressão popular, de um movimento que se instalou na Câmara. Eu fui até o fim e tanto é que serviu de pauta, como roteiro, como material para investigação e operações que foram deflagradas pelo Ministério Público. Tudo isso mostra que com nosso trabalho equilibrado, realmente responsável tínhamos razão desde o início. A tentativa de desqualificar o trabalho da CEI ocorreu a todo tempo, mas tudo mostra agora que tínhamos razão. Não foi fácil, desde o primeiro ano assumi postura de oposição a essa gestão quando muitos optaram pela facilidade, pelo caminho mais fácil, eu, realmente, marquei posição e fui coerente. Eu não havia apoiado a prefeita (Micarla de Sousa) e por questão de coerência não fui adesista e não procurei a facilidade. Fui eleita Parlamentar do Ano no primeiro ano. Muitas pessoas tinham pré-julgamento por eu ser jovem, eu ser mulher. O título de Parlamentar do Ano veio para mostrar que eu estava comprometida com a causa. E no final do mandato fui agraciada com mais um título de Parlamentar do Ano. Mas nada disso me envaidece ao ponto de achar que fiz demais. Acho que não fiz mais do que minha obrigação, que era traduzir o que a população espera de um vereador. Uma Câmara muitas vezes tão julgada, tão desconfiada, e Graças a Deus posso andar em Natal de cabeça erguida com o sentimento de que estou cumprindo a missão. E agora assumindo mais uma responsabilidade pelo que consta nos anais da Câmara, sou a primeira vereadora a assumir a presidência. É pouco tempo, mas deixo a minha marca, protagonismo, pioneirismo. Agora a nova legislatura terá uma representação mais feminina e vamos poder somar e dar cada vez mais voz e vez as mulheres.
A vereadora vive um momento que a colocou na história da Câmara Municipal de Natal. Com todas as transições pelas quais passou a Prefeitura da capital potiguar, o comando do Legislativo da cidade terminou nas mãos de Júlia, que era segunda vice-presidente.
Durante o mandato você chegou a sentir medo?
Confesso que cheguei aqui com uma imagem muito negativa. Durante a campanha a Câmara viveu momento conturbado, não estava em sintonia com a sociedade natalense. Quando cheguei aqui me surpreendi positivamente e falo isso sobre produção legislativa. Essa renovação de quase 50% nessa legislatura foi muito válida. Acho que os vereadores novos que entraram chegaram para dar uma mexida na Câmara e até impulsionar os outros que já estavam aqui acomodados. A oposição marcou essa legislatura, foi fundamental, foi uma oposição pequena em quantidade, mas qualitativa. Me orgulho de ter feito parte de uma oposição que foi de começo ao fim e fez a diferença na Câmara. Mas em nenhum momento eu temi. Ocorreram momentos que nos frustram, nos decepcionam, mas a partir do momento que decidi sair da minha vida tranqüila como publicitária, tinha uma vida estabilizada, realizada profissionalmente, sabia que era realmente uma mudança muito grande na minha vida. Fui até o fim e estou até agora.

Por que uma publicitária realizada procura ser política?
Eu tenho um histórico familiar tanto de um lado quanto de outro. Minhas duas avós, uma foi prefeita em Nova Cruz outra foi vereadora e presidente da Câmara em Alexandria, meus dois avós foram prefeitos e deputado, meu pai, desde o início. Eu nasci em um ano político, em 1982, um ano de campanha do meu pai. Não tinha como fugir. Mas digo sempre que não basta ser filho de político, tem que ter vocação, tem que encarar isso como vocação, mas nunca imaginei ser protagonista, ser a candidata. Sempre gostei, participei, mas de bastidores. Não era filiada a nenhum partido até então. Fazia três legislaturas que não tinha representante feminina na Câmara e pensei por que não? Me filiei ao PSB por influência também de ter o exemplo de Wilma em relação a mulher pioneira. Decidi me filiar e fui as ruas, fui determinada. Saí nos quatro cantos de Natal levando a proposta de renovação. Deu certo.

Foi mais fácil a eleição de primeiro mandato ou a reeleição?
São dois cenários completamente diferentes. No primeiro eu era novidade, mas também não tinha a credibilidade, o respeito que tenho hoje. Pelo contrário, tinha muitos pré-julgamentos na primeira eleição. Isso dificultou. Quanto a isso acho que foi mais difícil a primeira porque não tinha serviço prestado, nunca tinha ocupado cargo público, então as pessoas não me conheciam. O segundo eu tive o voto espontâneo, o voto de quem acompanhou o meu mandato, que construiu o mandato junto comigo. Tive o reconhecimento dessas pessoas. Estamos em avaliação constante, qualquer ato nosso tem que ser muito pensado e em sintonia com a população. Acredito que a primeira eleição foi mais difícil diante do desconhecimento em relação ao meu nome.

A senhora buscou ser candidata a presidente da Câmara para nova legislatura, mas foi preterida já que o grupo escolheu Albert Dickson. Esse fato, de alguma forma, lhe desestimula nesse início de legislatura?
Não. Em relação a presidência também. Surgiu naturalmente, as pessoas achavam que eu seria presidente. Até então nunca despertou eu ser a presidente, é responsabilidade grande, até pelo momento vivido pela Câmara. Faço parte de um grupo de 17 vereadores, a maioria é novato. Alguns vereadores não se dispuseram para disputar a presidência. Foram três vereadores reeleitos que colocaram o nome a disposição. O meu, o do vereador Adão Eridan e o de Albert Dickson. Fui até o fim por entender que meu nome poderia agregar, mas o grupo decidiu pelo vereador Albert Dickson.

Detalhes

Você se projeta para 2014 – Não. Acabei de sair de uma eleição, uma eleição difícil, atípica, que realmente muita gente, já vereador, ficou de fora. Houve renovação muito grande, sinto-me uma vitoriosa por ter chegado e chegado bem. Passado esse momento, vou focar no meu segundo mandato. Vou adotar postura diferente porque serei da situação, mas não vai ser postura de comprometimento, mas não serei subserviente.

Meta para o segundo mandato – o grande desafio é manter a mesma dedicação, mesmo trabalho, mesmo empenho e ampliando as ações.

Perfil

A publicitária Júlia Arruda está no primeiro mandato como vereadora de Natal. Filha do ex-deputado estadual Leonardo Arruda, Júlia foi reeleita para o próximo mandato, tendo sido a nona vereadora mais votada da cidade e a primeira da sua legislatura. Ela foi presidente da Comissão Especial de Inquérito  que investigou os contratos da Prefeitura de Natal.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas