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“Quero provar a minha inocência ou obter anistia”

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PRESSA - Ex-ministro quer ser julgado logo e voltar para a política

O ex-deputado federal e ex-ministro José Dirceu perdeu os cargos, mas não perdeu o tom de autoridade. Com a experiência de ter participado do Governo Lula, o ex-ministro guarda uma visão macro dos problemas do Brasil  e aponta soluções. Como era de se esperar, Dirceu aposta no segundo Governo de Lula e acredita que essa será uma fase de desenvolvimento.  Sobre o próprio desfecho da sua carreira política, que hoje está inelegível, o ex-ministro diz que a principal lição aprendida de todo o episódio é nunca subestimar os adversários. “A lição que aprendi é que nós nunca devemos subestimar a direita brasileira, do que é capaz parte importante da mídia brasileira e do que é capaz a elite conservadora do país. O que ela tentou fazer com o Governo Lula, culpar o presidente, tentar derrotar a pretexto de combater a corrupção. Combater a corrupção o Governo combate”. O convidado do 3 por 4 de hoje é um petista com voz autoritária, um advogado por formação e um deputado cassado que ainda alimenta o sonho de retornar ao Congresso Nacional. 

Hoje José Dirceu é político, advogado ou consultor?
Eu sou político e nunca deixei de ser em nenhum instante. Sou da esquerda e do PT. Sou advogado e consultor porque tenho que me sustentar. Não sou advogado, não sou ministro, portanto, como eu não roubei, tenho que trabalhar para me sustentar. Eu sou também consultor e advogado. Sempre fui advogado. Já exerci entre 1995 e 1998. Tive um escritório com a mesma associada que eu tenho hoje. Estou dando uma consultoria também para várias empresas. É uma consultoria modesta. Não é nada do que certos órgãos de imprensa dizem, mas isso (a imprensa falar que é grande consultoria) é até bom porque para mim é uma propaganda. Mas para manter minha vida pessoal, familiar, minha atividade política tenho que trabalhar.

No episódio do Congresso você passava a imagem de que era uma grande vítima. Hoje você ainda alimenta esse sentimento de “vítima”?
Eu fui, evidentemente, cassado sem provas. Foi a cassação política pelo que eu representava. Foi uma tentativa de atingir o Governo, o PT, o presidente e minha história na esquerda. Isso aí até meus adversários reconhecem. Tanto é que quando me cassaram não houve comemoração nenhuma. Só quem viu sabe que, a maioria que me cassou, fez uma cassação política. Não há qualquer prova. Até hoje não há provas contra mim. Pelo contrário. Com quase dois anos que eu saí do Governo, quase um ano e meio que fui cassado, fui absolvido no caso de Waldomiro Diniz, no caso do irmão de Celso Daniel, que retirou a denúncia em juízo. Houve uma devassa na minha vida fiscal, tributária, meu sigilo telefônico. Nada foi encontrado contra mim. O que eu quero é Justiça. Quero é ser julgado.

Como você está trabalhando para recuperar seu direito de voltar a ser elegível?
Veja bem. São duas questões: tenho direito político e eu sou inelegível. Eu posso votar, ter cargo público, ser dirigente de partido. Não há restrição. Essa é uma questão que depende de uma anistia da Câmara ou de vencer o prazo de oito anos. No Supremo a denúncia não foi aceita. Não sou nem processado. Não tenho inquérito, ação ou processo. Apesar disso, estou denunciado porque é grave. Fui denunciado pelo procurador Geral da República sem prova; ele me acusa de ser chefe de uma organização criminosa em Brasília. Eu quero ser julgado. As pessoas falam que essa ação vai prescrever. Mas eu não quero isso. Quero é ser julgado. Eu tenho esse direito de ser julgado. A única coisa que eu quero é que o país me dê esse direito. Isso não é pedir muito. Quero ser julgado. Agora não posso ser julgado daqui a oito ou dez anos. Como fui julgado pela Câmara quero ser julgado dentro desse período em que fui cassado.

Você alimenta o desejo de voltar ao Congresso Nacional? Seria uma revanche?
Essa é uma outra questão. Primeiro tenho que provar minha inocência ou conseguir a anistia. O mais natural é eu voltar para o Congresso Nacional até porque fui o segundo deputado mais votado em 2002. Fui deputado três vezes. Nunca houve nenhum processo contra mim. Nada contra mim nos 40 anos da minha vida pública. Lógico, tirando a época da ditadura militar. Um processo que me honra muito ter sido processado pela ditadura militar para lutar pela liberdade, pela democracia.

Faltou sorte por ter “caído” nessa estratégia do grupo ou isso ocorreu porque você era a grande “vidraça” do governo federal e do PT?
Porque eu era o ex-presidente do PT, o coordenador das campanhas do Lula, o ministro chefe da Casa Civil, eu era o José Dirceu. Eu tinha e tenho um papel na história da esquerda brasileira. Eu fui escolhido por isso, para ficar como algo exemplar.

Você acha que o rumo poderia ter sido mudado de alguma forma?
Acho que sempre o rumo pode ser mudado de alguma forma pela intervenção. Coisas poderiam ter sido feitas. Mas o que importa é que estamos agora e vamos adiante.

Qual a relação que você tem com o presidente Lula hoje?
A relação de um ex-presidente do PT, companheiro por 27 anos. Mas lógico que não é igual a que tínhamos antes até porque o presidente Lula tem que governar o Brasil e eu tenho que trabalhar. Tenho que fazer meu blog, trabalhar. A relação é de ex-companheiro de Governo, de partido. Hoje eu tenho uma relação de, quando necessário, nos falamos, nos encontramos. Mas não tem nada a ver com a relação que eu tinha no passado.

Qual a ótica sobre a conjuntura política do Brasil?
Nós vivemos um momento especial da história do Brasil. Um momento único: a possibilidade do país retomar o projeto de desenvolvimento nacional e a facilidade de integrar a América do Sul, consolidando o Mercosul, a possibilidade de fazer uma reforma política no país, de ter uma política para juventude, fazer uma revolução no país, dar um salto tecnológico, aprofundar os programas sociais, de criar mais emprego que o presidente criou no primeiro Governo. E não foram poucos os empregos criados no primeiro Governo. O presidente criou pelo menos seis vezes mais emprego do que nos últimos quatro anos de Fernando Henrique. Criou mais de um milhão e 300 mil empregos por ano. Acredito que é um momento especial.

Você falou do Mercosul, a América do Sul vive uma situação peculiar pelo surgimento de líderes como Evo Morales e Hugo Chavez, quando o presidente Lula seria o líder mais natural devido à própria representatividade do Brasil. A liderança de Lula no continente está ameaçada pelo surgimento dessas figuras citadas?
Não acredito. Não quero que nem o presidente Lula e nem o Brasil tenham hegemonia. O Brasil é líder natural pelo papel do Brasil. É natural que existam outras lideranças. A Europa foi construída com muitas lideranças. A América Latina não se transformará numa união do mercado comum, com instituição política, parlamento, liberdade de trânsito de mercadorias e pessoas, se não tiver um entendimento político entre as lideranças. O importante agora é integrar a América do Sul.

Detalhes

Em que você acredita: na vida

Sonho concretizado: meus filhos

Plano: provar minha inocência

Alegria: a vida, a vida já é uma alegria.

Carreira

José Dirceu de Oliveira e Silva é advogado por formação e político por atuação. Ele é formado pela Pontifícia Universidade Católica e fez pós-graduação em Economia pela mesma instituição.

Com a luta contra a Ditadura, José Dirceu foi exilado em Cuba. No país de Fidel Castro ele fez um treinamento militar. Em 1975 retornou ao Brasil usando o nome falso de “Carlos Henrique Gouveia de Mello”.

José Dirceu foi deputado estadual por São Paulo com uma legislatura e conseguiu outros três mandatos de deputado federal pelo mesmo Estado.

De janeiro de 2003 a julho de 2005 ele alcançou a projeção no Executivo: foi ministro chefe do Gabinete Civil. Mas a saída do Governo Lula ocorreu de forma desastrosa, cercada de denúncias de corrupção.

Na Câmara dos Deputados, ainda com as mesmas acusações, José Dirceu teve o mandato cassado e se tornou inelegível por oito anos.

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