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Racionais desafiam o desgaste do tempo

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Os Racionais MC’s, mesmo 33 anos depois de sua criação, seguem sendo a
principal referência do rap nacional, algo que desafia a lógica do
apagamento natural das velhas expressões conforme as novas ganham
espaço. São poucas que resistem à oxidação do tempo no rap. Além de
Racionais, Thaíde e DJ Hum estão na mesma posição.

Ainda que desarticulados, e com a atualização de frases em algumas de
suas músicas que traziam possíveis leituras misóginas e machistas, são
eles o primeiro e ainda único fenômeno no que se chama rap nacional, a
vertente que, segundo Gilberto Gil, herdou da MPB dos anos de 1970 o
poder da contestação social urbana.

Uma visita do Estadão a uma reserva indígena dos guarani-kaiowá em
Dourados, em Mato Grosso do Sul, em 2014, testou a longevidade do
discurso dos Racionais. Pela aldeia, garotos de 16 ou 17 anos caminhavam
com camisetas que traziam o rosto de Mano Brown e ouviam músicas dos
Racionais em celulares como se fossem radinhos de pilha. Ao ser
perguntado sobre o motivo de tantos meninos gostarem de rap na região,
Kevin, o cantor do grupo Brô MCs, só de raps cantados em guarani, disse:
“Eu não sabia que poderia protestar contra as coisas ruins da aldeia
até ouvir os Racionais. Mais do que mostrar a eles uma música que
parecia ter sido feita sob medida para sua realidade, os rappers de São
Paulo os ensinaram a brigar por direitos”.

Os Racionais surgiram no setor que a imprensa chamava gueto, o mercado
de música independente que não fazia parte das programações de rádio nem
das gravadoras naqueles anos 90. E seguiu assim até que a bolha
explodiu com o lançamento de Sobrevivendo no Inferno, em 1997. Foi
quando as classes média e alta tiveram de rever os conceitos do que
chamavam de “música de ladrão” já que, agora, eram seus filhos que as
ouviam. Assim, os Racionais se tornaram livros, estudos sociológicos e
tema de redação de prova da Universidade de São Paulo. Se existem
caminhos que os novos rappers podem escolher para deitar seus
pensamentos, é graças aos anos de surra e mata densa que os Racionais
desbravaram.

Estadão Conteúdo

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