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Rara parceria marca clima de rivalidade entre ABC e América

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Na já longa história de tantos entreveros entre americanos e abecedistas, pelo menos em muitas ocasiões a rivalidade foi colocada de lado e as diretorias trabalharam juntas pelo bem dos dois clubes. Nos velhos tempos do estádio “Juvenal Lamartine”, quando os campeonatos eram curtos e a promoção de temporadas considerada salvação da parte financeira, a partir dos anos 40 até 60 os jogos amistosos interestaduais contra clubes da região ou do Rio e São Paulo em excursão pelo Nordeste, invariavelmente as duas diretorias se reuniam e acertavam tudo para que a temporada se tornasse um sucesso financeiro.

Nenhum clube grande de outro estado vinha a Natal para realizar apenas uma partida, daí a necessidade de uma parceria, daí uma sucessão de amistosos com os mais diferentes clubes do país. Muito raramente o Alecrim enfrentava esses times, daí a importância da parceria ABC-América. As guerrinhas por vitórias ficavam restritas  às quatro linhas do gramado. Nesses anos todos, por aqui passaram os cariocas Vasco, Flamengo, Fluminense, Botafogo, os pequenos São Cristóvão, Bonsucesso, Madureira (este, invariavelmente, todo ano vinha ao Nordeste). Talvez esse detalhe explique o maior número de adeptos do futebol carioca do que o paulista.

A prova é que São Paulo, Palmeiras e Corinthians nunca jogaram no “Juvenal Lamartine”, e o Santos veio pela primeira vez em 58 trazendo Pelé como grande atração. Entre os clubes gaúchos, tanto Grêmio como Internacional só vieram ao RN após o surgimento do Machadão. Não fosse a conjugação de esforços dos dois clubes, dificilmente as temporadas aconteceriam, já que era essencial a disputa de duas partidas como forma de viabilizar o investimento. Cessados os efeitos da união, a rivalidade recomeçava pra valer até o próximo América x ABC. Sempre no “JL”.

Com a inauguração do estádio de Lagoa Nova, praticamente deixaram de acontecer os jogos amistosos interestaduais, até porque o Campeonato Brasileiro (ainda chamado de Nacional) passou a trazer a Natal todos os grandes clubes brasileiros, com a vantagem de serem jogos de caráter oficial, ou seja, valendo pontos. Os dirigentes de ABC e América somente vieram a dar as mãos quando surgiu a oferta da empresa cearense Aço Forte, para lançamento do “Bolão dos Clubes”, em forma de raspadinha. Cada cartela custava R$ 0,50 e a tira de cinco cartões dava direito a prêmios valiosos, como cinco automóveis “Escort Hobby”, 10 bônus de R$ 500,00, 100 bônus de R$ 100,00  200 de 50,00, 500 de 10,00 e 28.180 de 0,50, correspondente a um bilhete. Pelo menos era essa a premiação anunciada pelos promotores.

O lançamento do “Bolão dos Clubes” aconteceu na sede do América, dia 20 de outubro de 1994, presença das duas diretorias, conselheiros, imprensa, torcedores e curiosos, com as explicações dadas pelo publicitário Hamilton Viana e a expectativa de verem as raspadinhas. As vendas – anunciaram, seriam nas casas lotérias, nas drogarias Guararapes, bancas de revistas e com os tradicionais cambistas. Foi informado também que a tiragem inicial tinha sido de um milhão de raspadinhas, com a garantia de uma das maiores empresas gráficas do Brasil – a IBF (Empresa Brasileira de Formulários), que patrocinou o São Paulo FC durante muito tempo.

Tudo muito bonito, expectativa de sucesso promocional e financeiro das melhores, mas a raspadinha não caiu no gosto popular, ao tempo em que surgiram os primeiros movimentos do empresariado contra o excesso de jogos de azar no Brasil, desde o bingo às raspadinhas, que estariam reduzindo o poder aquisitivo do brasileiro. Ficou apenas a lembrança de que, quando os rivais querem sair da crise financeira, a rivalidade é colocada de lado, e dão as mãos.

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