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Raridades da gravura popular chegam ao museu

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Ramon Ribeiro
Repórter

Uma doação rara vai colocar o Museu Câmara Cascudo (MCC) no roteiro de importantes coleções de gravuras populares do Brasil. Trata-se da “Coleção Roberto Benjamin”, composta por 204 matrizes gravadas, que poderia ir para uma instituição americana, mas que, numa operação envolvendo o Museu e a Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura (FUNPEC), foi possível adquiri-la para deixá-la à disposição dos brasileiros. A doação será oficializada pela reitora da UFRN nesta quarta-feira (10), às 14h, na Reitoria.

O professor Everardo Ramos mostra peças da coleção do importante pesquisador e folclorista pernambucano Roberto Benjamin, uma das poucas com matrizes no Brasil. A transferência para Natal só foi possível numa operação envolvendo o Museu e a Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura (FUNPEC)


O professor Everardo Ramos mostra peças da coleção do importante
pesquisador e folclorista pernambucano Roberto Benjamin, uma das poucas
com matrizes no Brasil. A transferência para Natal só foi possível numa
operação envolvendo o Museu e a Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa
e Cultura (FUNPEC)

A coleção é composta por matrizes de gravura popular que foram utilizadas em rótulos de produtos, álbuns e, principalmente, serviram para ilustrar capas de folhetos de cordel. O diretor do MCC, professor Everardo Ramos, afirma que o acervo, embora não tão numeroso como o de outras instituições, é um dos mais importantes do gênero no país, sobretudo pela abrangência. “A coleção do Roberto Benjamin cobre um período que vai do início até o fim do século XX. As matrizes são de diversos artistas e em diversos tipos de suporte, como linóleo (borracha), madeira e zinco. Alguns usados para cordel, outros para imprensa e até mesmo rótulos”, diz o professor, que é especializado em Arte Popular.

“A maioria das coleções são de folheto de cordel e de gravuras soltas. De matrizes não existem muitas coleções públicas. O MAUC (Museu de Arte da Universidade do Ceará) tem uma coleção riquíssima, mas mais focada em xilogravura. E a Casa de Rui Barbosa, no Rio, também tem uma coleção importante de matrizes. A que o MCC adquiriu se destaca pela grande variedade de tipos de matrizes”.

Everardo explica que a matriz é o suporte onde o artista trabalha pensando no resultado final, no caso, a imagem gravada. Nesse sentido, essas peças são importantes porque podem revelar melhor o processo criativo e a técnica do artista. “Estando com as matrizes a gente tem acesso a informações que somente com as gravuras impressas não era possível ter. Se pode estudar a maneira como cada artista trabalhava”, comenta.

O material já está sendo catalogado pela equipe do museu, por isso ainda não é possível identificar os autores de todas as peças. “Temos uma grande quantidade de linóleo, uma espécie de borracha, bem específico do artista Dila, que também fazia carimbo. Também tempos placas de zinco, um técnica bem antiga”, diz o professor, que já identificou que algumas das matrizes provavelmente foram utilizadas para imprimir folhetos pertencentes na coleção de cordel da Biblioteca Zila Mamede.

Matrizes eram usadas para imprimir cordel, rótulos, jornais e até cartazes de cinema, que depois eram reproduzidos nos folhetos


Matrizes eram usadas para imprimir cordel, rótulos, jornais e até
cartazes de cinema, que depois eram reproduzidos nos folhetos

Sobre as placas de zinco, o professor também lembra de uma curiosidade. “Muitas dessas placas de zinco vinham do exterior. As distribuidoras de Hollywood mandavam para os jornais já com os rostos dos atores e atrizes para fazer a divulgação dos filmes que iriam estrear. Depois de usados, os artistas populares compravam essa placas e usavam para fazer capas de folhetos de cordel, aproveitando as imagens dos atores. O engraçado é que as histórias não tinham nada a ver com os filmes. Tem clichês de zinco que são muito raros”, conta Everardo. Ele informa que para que o ano que vem, quando o MCC completará 60 anos, deve ser apresentada uma exposição junto com a publicação de um livro detalhando o acervo.

“Uma doação importante como essa que recebemos fazia muito tempo que o Museu não tinha. Nem sei dizer quando foi a última. A gente tem doações pontuais, de uma obra, por exemplo. Coleção é muito raro. E no formato em que a Funpec adquiriu, doando para o museu, acredito que seja a primeira vez. O MCC não tinha acervo referente a cultura popular. Estamos construindo agora. É recente. E é uma expressão muito forte na nossa região”, diz o professor, que torce para que esse tipo de doações ocorra mais vezes. “É importante que isso continue. Seria maravilhoso que a elite econômica da cidade tivesse essa preocupação cultural”.

Coleção Roberto Benjamin
O acervo de matrizes pertencia ao importante pesquisador e folclorista pernambucano Roberto Benjamin. Ele faleceu em 2013, mas ainda em vida pediu que sua coleção fosse doada a Marcelo Soares, amigo de longa data e famoso xilógrafo popular. Em posse das obras, Marcelo passou a oferecê-las a instituições culturais, despertando o interesse de uma universidade americana, que já havia comprado a rica coleção de 4 mil folhetos de cordel deixada por Roberto Benjamin.

Para impedir que mais uma preciosa parte da cultura brasileira fosse para o exterior, a FUNPEC apareceu para comprar a coleção, que será doada agora ao Museu Câmara Cascudo. No museu, as obras serão cadastradas como “Coleção Roberto Benjamin/FUNPEC de gravura popular”.

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