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Reabertura da atividades aumenta responsabilidade da sociedade

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A reabertura das atividades econômicas no Rio Grande do Norte, após três meses de paralisação oficial devido ao novo coronavírus, tornou a responsabilidade da sociedade civil ainda mais importante para conter a pandemia. As atividades começaram a ser reabertas no dia 1º de julho através de um decreto estadual e, desde então, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) alerta para o risco de uma “segunda onda de casos” se não os cuidados sanitários não forem cumpridos. Entretanto, a fiscalização do cumprimento das medidas, responsabilidade das autoridades públicas, apresentou falhas durante todo período da pandemia.

As principais recomendações para a sociedade civil, segundo especialistas, são evitar sair de casa em casos desnecessários ou que podem ser resolvidos de outra forma, manter a higienização das mãos e, se for preciso sair, utilizar a máscara – item exigido no Rio Grande do Norte por decretos estaduais e municipais – e evitar aglomerações, mantendo a distância de pelo menos um metro e meio nos locais.

Entre as principais recomendações dadas ao cidadão pelas autoridades está o uso de máscara ao sair de casa. Outras orientações são: circular apenas em caso de necessidade e evitar aglomerações

#SAIBAMAIS#“É preciso ter consciência de que a pandemia não foi embora, que ela ainda está aí. A retomada gradual das atividades é uma necessidade da sociedade, que precisa da atividade econômica, não é um ‘liberou geral’. É preciso união da sociedade, empresários e dos governos”, afirmou a infectologista Marise Reis no início desta semana. Reis é docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e participante do comitê técnico e científico da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap).

Entretanto, no domingo passado (19), aglomerações registradas na praia de Ponta Negra, em Natal, chamaram a atenção das autoridades de segurança pública e sanitárias sobre o risco da sensação da pandemia ter passado. A governadora Fátima Bezerra e o prefeito de Natal, Álvaro Dias, reagiram às aglomerações no dia seguinte, pedindo “responsabilidade de todos”. “É preciso que todos entendam que nós estamos tomando todas as medidas possíveis para combater a doença e precisamos que a população também faça a sua parte”, declarou Dias na segunda-feira (20).

A prefeitura de Natal e o governo estadual apresentaram um plano de fiscalização nas orlas para evitar situações semelhantes, como reação às aglomerações. Paredões de som e a possibilidade de fechamento de vias de acesso à orla também foram anunciados em Natal. No entanto, outros locais da cidade continuam com o distanciamento social frágil. Nesta sexta-feira (23), a reportagem flagrou aglomerações de pessoas no Alecrim e estabelecimentos na Cidade Alta sem medição de temperatura.

Apesar da previsão de multas, as fiscalizações dos municípios do Rio Grande do Norte para observar o cumprimento das medidas de distanciamento social e evitar o contágio do novo coronavírus cumpriram papel educativo nestes primeiros meses. “Nossa orientação é educar, orientar, não de multar. No caso de descuido e reincidência, a gente pode aplicar a multa, mas não realizamos isso até então”, disse o diretor-técnico do Procon Natal, Diogo Capuxu.

Na avaliação de Marise Reis, é normal que a sociedade “sature” da quarentena após meses de distanciamento social, mas é preciso que todos os cuidados sejam mantidos até que a vacina da Covid-19 seja implementada. “Ainda não acho que seja a hora de começar a rever amigos, namorados, familiares. Ainda é muito arriscado porque a gente vê que em outros países e até em outros Estados existe um efeito rebote”, argumentou.
DEPOIMENTOS
A TRIBUNA DO NORTE foi às ruas e ouviu cidadãos para questionar como eles se comportam durante o período de isolamento social: quais medidas adotam, como superam a distância e como avaliam a pandemia no Rio Grande do Norte. Até a sexta-feira (24), 46.683 pessoas foram infectadas no Estado pela covid-19 e 1.666 faleceram em decorrência da doença. Os personagens pediram para não revelar a identidade. Leia abaixo:
Comerciante, 56 anos
J. M., 56 anos, é dono de uma loja em um camelódromo da Cidade Alta, um dos principais centros comerciais de rua de Natal, ao lado do Alecrim. Desde o início da pandemia, ele sai de casa apenas para atividades essenciais, como ir ao supermercado ou ao trabalho, mas visitou a mãe de 81 anos, algumas vezes. Ele conta que nunca desacreditou na gravidade do novo coronavírus e sempre tentou cumprir as medidas estabelecidas. “Eu evito aglomerações, venho para o trabalho de carro próprio e das poucas vezes que fui na casa da minha mãe ela ‘me deu um banho de álcool’ antes de eu entrar”, contou. Ele adota diariamente o uso da máscara para se proteger, além de andar sempre com o álcool gel e higienizar as mãos. Além disso, acredita no uso da ivermectina e da hidroxicloroquina como eficazes contra o novo coronavírus – o que não tem comprovação científica. J. M. afirmou que tomou ivermectina de forma preventiva. Ele conseguiu o medicamento direto na farmácia, sem a necessidade de receita médica. “Tomei a ivermectina duas vezes. Só não tomei a hidroxicloroquina porque não me senti doente”, contou. A loja de J. M. é a única fonte de renda do comerciante. Ele conta que trabalhou alguns dias antes da autorização para funcionar, assim como outros comerciantes do camelódromo, ao lado do Palácio Felipe Camarão, sede da Prefeitura de Natal. “Eu precisava de dinheiro para viver”, disse e reiterou, em seguida, que o funcionamento foi sob cuidados. “Todo mundo aqui está ciente, usa a máscara e nesse período o movimento era pouco. O que não pode e, todo mundo sabe aqui, é ter aglomerações como as que aconteceram em Ponta Negra.” No entanto, fez críticas ao fechamento do comércio. “O coronavírus está aí desde janeiro, se tivessem tomado medidas antes, como estabelecer a segurança e até cancelar o carnaval, que com certeza ele [o vírus] já estava circulando aqui, não precisaríamos fechar o comércio”, argumentou.

Segurança, 33 anos
D. S., 33 anos, adiou o casamento e os planos de morar junto da futura esposa devido à pandemia do novo coronavírus. Quando o primeiro caso de covid-19 foi confirmado no Rio Grande do Norte, em março, eles estavam planejando o casamento há dois meses, mas acharam melhor interromper e esperar a pandemia passar. Tanto ele quanto a noiva moram com as mães, idosas e hipertensas. Desde que as medidas de distanciamento social foram decretadas, D. S. interrompeu o futebol com os amigos e as idas à praia para evitar o contágio da doença, mas continuou trabalhando e se encontrando com a noiva. Ele atua como segurança de um condomínio fechado na zona Oeste de Natal, e, portanto, foi incluído entre os profissionais de atividades essenciais, e teme o novo coronavírus principalmente por causa da mãe. Na sexta-feira, 24, ele foi à Cidade Alta sozinho para comprar algumas coisas que estava precisando. Aguardava a noiva chegar para buscá-lo. Estava de máscara. “Vim aqui muito rápido e vejo que tem muita gente ainda que não se importa de se aglomerar, ficam juntas. Mas aqui está menos pior que o Alecrim”, contou. “Vim porque foi necessário. Lá em casa a gente só sai se for necessário porque a nossa mãe é idosa”, contou. Além dele, dois irmãos também moram na casa da mãe. D. S. acredita que as medidas de distanciamento social foram importantes e julga que a retomada é positiva porque muitas pessoas estavam sem trabalhar. Ele acompanha a situação do novo coronavírus através da imprensa e espera as autoridades sanitárias afirmarem que a pandemia passou. Só então ele e a esposa retomarão os planos de se casarem e o futebol nos fins de semana voltarão a ser realidade.

Comerciário, 24 anos
A notícia da paralisação das lojas varejistas por causa do novo coronavírus afetou E.B, 24 anos, que havia acabado de conseguir vaga para uma empresa da área. Ele largou um estágio pela vaga, mas sequer chegou a assinar o contrato. A loja paralisou as atividades antes e recentemente promoveu cortes de funcionários – sinal que a vaga dele está definitivamente ameaçada. Entretanto, E.B. sempre considerou as medidas de distanciamento social necessárias. “É algo que vai além de qualquer decisão das autoridades”, disse. Com parentes no Ceará, Estado mais afetado pela pandemia do que o Rio Grande do Norte, ele chegou a perder um tio e teve outros parentes infectados. Foi na época do falecimento, no fim de abril, que decidiu deixar de ver a namorada. Até aquele momento eles estavam se encontrando, com a sensação de que era seguro por terem carro particular e poderem se ver em casa. “Mas aquilo me deixou muito afetado e eu achei melhor paramos de se ver. Fique assustado com o que estava acontecendo no Ceará”, contou. E.B. mora com os pais e dois irmãos. Ninguém da casa dele é do grupo considerado de risco, mas não relativizam a pandemia. Desde então, ele mantém todas as recomendações sanitárias – como o uso de máscara ao sair e sai apenas em casos necessários – e julga cedo a retomada gradual da economia. “Acho que ainda estamos no pico, que o risco dos casos voltarem a crescer ainda é muito alto”, disse. Entretanto, reconhece que a reabertura é necessária, principalmente para os pequenos empresários e trabalhadores informais. “Eu posso ficar sem trabalhar, mas sei que tem muitas outras pessoas que não. É uma situação complexa.” No período, E. B., que ainda é estudante universitário, aproveitou para concluir o Trabalho de Conclusão de Curso e ficar perto da formatura. “Acabei conseguindo colocar para frente alguns planos”.
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