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Realismo à flor da pele

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PERSONAGEM - A rezadeira de Ubiratam Gomes

O realismo fantástico projetado durante dez anos pelo ateliê do artista plástico Jomar Jackson celebra o Rio Grande do Norte através da exposição “Dez Anos de Arte Acadêmica”. O evento ocorre entre os dias 19 de outubro e 6 de novembro no Palácio da Cultura e marca uma década de atividades do ateliê, ligado à Fundação José Augusto.

As 13 salas do Palácio da Cultura serão ocupadas com 230 obras dos alunos de Jackson, que atualmente se dedica ao desenho por conta de um quase envenenamento com as tintas que o impede de continuar pintando. O trabalho, segundo ele, é fruto de uma intensa pesquisa nos municípios do interior do Estado e retrata situações curiosas da hiperrealidade potiguar. “Os quadros da exposição são recentes, foram criados de dois anos para cá. Decidimos homenagear o RN e encontramos pessoas, lugares que nem imaginávamos que existia aqui. Viajamos aos locais, tiramos fotografias dos objetos e voltamos para os alunos trabalharem em cima.

Não havia condição de levar as telas para os locais de origem porque em alguns casos o homem já tinha destruído a paisagem num tempo de quatro meses. Chegamos a encontrar numa cidade dessas do interior uma poça criada pela chuva de água metálica que mudava de cor dependendo do ângulo de visão da pessoa”, conta surpreso.

Jackson afirma que o público verá uma exposição tecnicamente perfeita, baseada no método do sentimento ensinado nas Escolas de Belas Artes do país. “Do ponto de vista técnico, ninguém pode errar na arte. Se o pintor conhecer a técnica ele não erra. Isso não quer dizer que o artista não tem que ser espontâneo. Ele pode cometer um absurdo porque o absurdo é arte. Mas erro técnico, jamais! E nessa exposição, todas as obras são perfeitas”, disse.

Ele defende que o conceito de pintura moderna foi usado como escape por alguns artistas e ressalta o valor da arte acadêmica. “Veja que a pintura moderna foi considerada a tábua de salvação para quem não sabe pintar. Existem três locais vitais de expressão no homem: os olhos, a boca e as mãos. Você tem expressão nesses pontos, mas tem gente que não sabe. Existem artistas que não sabem colocar um pé no chão numa tela. A arte acadêmica te dá essa noção. O curso do meu ateliê é procurado, entre outras pessoas, por arquitetos que querem perder a dureza dos traços. Trabalhamos o hiperrealismo nesse método do sentimento. Vamos atrás da personalidade do objeto”, explica.

Artista Plástico criou atelier no Estado

Jomar Jackson afirma que foi o primeiro artista plástico do Estado a criar o próprio atelier, que funciona hoje na Cidade da Criança. Paraibano do município de Areias, ele lembra que foi convidado na década de 80 para dirigir a Central de Artes Plásticas instalada no bairro de Petrópolis sob a chancela do Governo do Estado. O projeto, que atendia crianças de escolas da rede municipal e estadual de ensino, ruiu por motivos que Jackson prefere não contar por envolver questões políticas. Na década de 90, depois de participar de exposições no exterior, decidiu reativar o projeto com base nos conceitos da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1975, onde se formou.

“Tinha ficado decepcionado com algumas coisas e voltei disposto a retomar. A primeira coisa que fiz foi ligar o atelier à Fundação José Augusto para ganhar força. Hoje trabalhamos essencialmente com crianças carentes, da rede pública, adolescentes e adultos. É um trabalho muito positivo que coroa agora o esforço desses 70 alunos na exposição”, comemora.

Artistas se orgulham do resultado

Depois de lamber a cria, como costuma fazer sempre que acaba uma nova obra, o pintor Francisco Lima Soares, 28 anos, concluiu com uma satisfação estampada na cara que a tela, batizada de Dona Carmelita e que será exposta no Palácio da Cultura, tinha ganhado a perfeição.

Mas a certeza mesmo, daquelas que não tem para onde correr, só veio

quando vendeu o quadro. “O homem que comprou disse que colocou a tela na parede da sala e não contou para ninguém. De madrugada, o filho dele chegou em casa embriagado e tomou o maior susto quando viu a velha na parede. É interessante porque a impressão é que ela está na janela olhando para a gente e deve ter sido isso que o menino sentiu. Diz que ele deu um grito e o pai explicou depois que tinha comprado”, conta rindo e tentando visualizar a cena.

Francisco Soares lembra que quando encontrou Dona Carmelita num município do interior do Estado esqueceu de perguntar o nome dela. A dúvida só acabou depois de uma baita coincidência. “Ninguém perguntou o nome dela na hora e fomos embora. Um tempo depois, quando entramos em outra casa, uma menina viu a foto e disse: ‘essa aqui é minha avó!’ Foi muita coincidência”, conta.

Ele se diz orgulhoso do trabalho que custou os finais de semana de dois meses. Até a catarata de Carmelita é retratada no hiperrrealismo da obra do artista. “Gostei muito mesmo, consegui colocar a catarata dela, os traços ficaram verdadeiros . É uma imagem forte e acho que fui fiel à ela”, analisa.

A arte de Francisco Soares cresceu junto com o ateliê de Jomar Jackson. Quando perguntado sobre sua evolução durante os dez anos de desenho e pintura, ele expõe uma humildade incomum na maioria dos artistas ao apontar um colega que começou na mesma época como uma de suas grandes referências. “Eu tinha um traço muito duro quando comecei. Notei que até tinha o domínio do desenho, mas logo que passei para a pintura senti muita dificuldade. O Ubiratan (Gomes, também artista do atelier de  Jackson) foi minha inspiração, achava muito bom o traço dele, os quadros que ele fazia. Via-o fazendo e sentia vontade de fazer também. Nesses dez anos sinto que melhorei bastante. Hoje, chego a me arrepiar quando vejo um quadro meu pronto”, revela.

Serviço:
Exposição “Dez anos de Arte Acadêmica”, entre os dias 19 de outubro e 6 de novembro, no Palácio da Cultura (Palácio Potengi), Cidade Alta . Entrada gratuita

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