sábado, 20 de abril, 2024
25.1 C
Natal
sábado, 20 de abril, 2024

Recesso parlamentar e ano novo

- Publicidade -

Padre João Medeiros Filho

O Parlamento brasileiro encontra-se em recesso. Este tem por finalidade proporcionar o contato dos parlamentares com as bases, a fim de ouvir propostas, reinvindicações e críticas. Durante o ano findo, teatro à parte, o Congresso Nacional foi mais palco de polêmicas e ataques entre os blocos de oposição e governista do que espaço de discussão e busca de soluções justas para os verdadeiros problemas nacionais. Marco Maciel, quando Ministro da Educação, reuniu os principais assessores e lhes disse: “Preciso de colaboradores e críticos, jamais de bajuladores e subservientes”. Seria talvez isso o que os eleitores deveriam ouvir de seus representantes. Uma pergunta que não cala: em seu retorno, como o Congresso votará as reformas? A nação queda-se incrédula diante da insensibilidade social e indiferença da classe política e de alguns membros do judiciário. Quão distante estão da Bíblia, quando se refere a Javé: “Eu ouvi o clamor de meu povo” (Ex 3, 7). É lugar comum afirmar que a aprovação dos projetos de emenda constitucional não basta para mudar o Brasil. Não será a solução automática, como alguns imaginam. A tarefa é mais complexa. A grande reforma esperada e da qual se necessita reside nas mudanças dentro de nosso tecido sócio-político-cultural. Ela ocorrerá com o fim de condutas egoístas, perpetuando privilégios e exceções, bem como o término de posturas alimentando preconceitos e discriminação. Só acontecerá se os anseios do povo prevalecerem sobre aqueles dos partidos e grupos. Quando Ulysses Guimarães denominou a Constituição de 1988 de “cidadã”, queria ressaltar o avanço do compromisso social. Havia ali, acima dos interesses das instituições, a luta por uma sociedade igualitária e a inserção de prerrogativas para o bem da pátria.

Reformar o Brasil é urgentíssimo. Mas, isto não pode acontecer, prejudicando conquistas sociais, em decorrência de projetos de governos ou partidos (não do povo), mesmo à custa de ações judiciais, artifícios administrativos, distribuição de cargos e benesses. Entende-se que só haverá a verdadeira transformação, quando as instituições se tornarem instrumentos capazes de eliminar mecanismos de empobrecimento e exclusão social. Exige-se lucidez para ajustar a máquina pública, extirpando regalias que geram desigualdades. Isto requer também disciplina e controle para não se gastar acima do que se arrecada e uma decisão efetiva de estabelecer prioridades para a nação. É fundamental superar dinâmicas viciadas da organização social e política, que acarretam divisão: de um lado, privilegiados e, do outro, um imenso e preocupante contingente de desassistidos. Essa é uma exigência para se viver uma evolução civilizatória no país.

Para o Brasil avançar, é preciso que a classe política leve em conta seriamente a dignidade humana, como princípio basilar da sociedade. Nesse sentido, é imprescindível os políticos ouvirem atentamente todos os segmentos da população. É importante que o recesso parlamentar seja uma oportunidade para essa escuta. Também deve haver por parte dos gestores a vontade inarredável do bem comum, firmado em parâmetros de equidade e eficiência. Atualmente, é unanimidade afirmar que o Estado não suporta mais o crescimento excessivo de seus aparatos, guiado por lógicas burocráticas, pouco criativas ou obsoletas, tendo a conta paga pelos mais pobres. Os políticos e governantes têm de assumir em 2018 um desafio sério: encontrar uma saída para o desenvolvimento do país e o bem-estar dos cidadãos. Estes estão exaustos de pagar a dívida dos desgovernos e fartos de escândalos, desmandos, improbidades, desrespeito e retórica demagógica! Os partidos deverão refazer modelos anacrônicos. Somente assim, haverá um Ano Novo para o Brasil!

É necessário estar atentos às palavras de Cristo: “Não se põe remendo novo em pano velho” (Mt 9, 17). Talvez seja isso o que acontece entre nós, tornando “a emenda pior do que o soneto”. Há urgência de um pensar inteligente para construir um novo país. Nele é mister incluir a sensibilidade social para estabelecer uma governabilidade eficaz. Deste modo, será possível assegurar empregos, amparar atividades empresariais e iniciativas educativas e culturais. Urge que nossa pátria reconquiste sua credibilidade com a garantia de direitos para evitar que a nação seja uma multidão de decepcionados e excluídos. Sigamos as recomendações do apóstolo Paulo: “Façam orações por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos paz, justiça e dignidade” (1Tm 2, 1-2).

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas