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Recomeço profissional: uma tarefa muito difícil

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EXEMPLO - Ricardo Savalli era guia turístico e depois de uma síndrome teve que passar por uma reabilitaçãoNem sempre recomeçar profissionalmente é uma escolha, às vezes, é a única opção. Escolha ou não, a mudança é um desafio. Para quem passa pela experiência de acidente de trabalho ou qualquer doença provocada pelas atividades desenvolvidas no trabalho, compreende a dificuldade em começar tudo novamente. Exaustão, depressão, amputações, lesão por esforço repetitivo (LER) e outros fatores podem prejudicar a capacidade laboral dos trabalhadores.

 Empresas, como a Caixa Econômica Federal, já desenvolvem programas de readaptação profissional, porém, é o Ministério da Previdência Social, através de serviços prestados pelo INSS (Instituto Nacional do Segura Social), que proporciona a reabilitação na maioria dos casos. Todo trabalhador com carteira assinada ou que contribua com o INSS se torna segurado da Previdência. Não há tempo mínimo de carência para que o segurado tenha direito ao serviço.

A técnica responsável pela Reabilitação Profissional da Previdência Social em Natal, Marisa Dantas Guedes de Moura, afirma que muitos trabalhadores nem sabem da existência do programa, e muito menos que podem ser beneficiários. Os trabalhadores são encaminhados ao serviço quando há necessidade. “Se o trabalhador adoece, os 15 primeiros dias são pela empresa e a partir do 160 dia é pela Previdência Social”, explica Marisa Dantas.

Somente em 2008, foram registrados 790 casos entre auxílio doença e auxílio acidentário. Destes, 505 segurados foram encaminhados para o Programa de Reabilitação Profissional. Entre janeiro e outubro de 2008, 340 clientes voltaram ao trabalho. Dos quais, 184 retornaram à empresa de origem com uma nova função e 112 retornaram para a mesma função, porém com atribuições distintas.  Apenas 44 segurados voltaram à empresa desempenhando as mesmas atividades.

A partir do momento em que o trabalhador está na Previdência ele é submetido à perícia médica. “O perito acompanha o segurado e dá um prazo. Se na época da alta, o perito ver que ele (o trabalhador) não tem condições de voltar para a função ou está com alguma seqüela daquilo que aconteceu, ou acidente ou doença profissional, o perito encaminha para a reabilitação”, esclarece Marisa.

O trabalhador é avaliado num contexto global para determinar qual encaminhamento será dado ao segurado. Desta forma, as seqüelas deixadas no trabalhador irão determinar se ele mudará de função dentro da empresa ou permanecerá na mesma função, porém, com atividades diferenciadas. Célida Socorro Freire Martins, fisioterapeuta da Previdência Social, diz que uma equipe multidisciplinar trabalha em todo o processo de reabilitação do profissional.

A fisioterapeuta relata que há certa incompreensão por parte dos profissionais em relação à redução, limitação ou mesmo incapacidade de voltar ao trabalho. Alguns segurados esperam ser aposentados por invalidez. Entretanto, o grande objetivo do programa é requalificar o profissional. A classe dos motoristas profissionais é a mais resistente à mudança de função, devido ao salário diferenciado que recebem.

Marcos Guimarães Kleming, médico chefe do Gerenciamento de Benefício por Incapacidade, esclarece que a perícia avalia a incapacidade de trabalho dos segurados da Previdência. “O princípio da perícia médica é afastar as pessoas que estão necessitando ser afastadas. E quando ela restabelece a condição de trabalho, a capacidade laborativa será avaliada”, diz Marcos Kleming.

O médico explica que algumas doenças não interferem no desempenho profissional e por isso a importância do acompanhamento durante a reabilitação. “É levado em conta o perfil profissiográfico do trabalhador”, afirma o médico. Às vezes, as pessoas precisam aprender outra profissão.

Porém, ele enfatiza que nem todas as pessoas que passam pela perícia médica entram no programa de reabilitação, somente quando há impossibilidade em trabalhar. Mesmo participando do programa de reabilitação, alguns fatores podem dificultar a reinserção no mercado de trabalho, como a baixa instrução do profissional ou idade superior a 40 anos.

Guia turístico deixa o trabalho após exaustão

O paulista, Ricardo Savalli, tinha uma rotina diária de mais de 20 horas de trabalho. Ele nem pensava em finais de semana para descanso.  O guia de turismo trabalhava com grupos estrangeiros que vinham passear pelo litoral norte-rio-grandense. Em junho de 2002, o telefone tocou, Ricardo tentou se levantar para atender, mas, não conseguiu. Todos os músculos do corpo  “travaram” de uma só vez. O diagnóstico veio em seguida: Síndrome de Burnout.

A síndrome se caracteriza por um estado de exaustão prolongada e um quadro depressivo avançado. Após os primeiros 15 dias afastado da empresa, Ricardo entrou no auxílio doença da Previdência Social. Durante seis anos ele esteve sob o auxílio recebendo acompanhamento de psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e fisioterapeutas, além do benefício financeiro.

Em setembro deste ano, a equipe médica avaliou o quadro de Ricardo e determinou que o segurado estava pronto para ingressar no programa de reabilitação profissional. Hoje, aos 42 anos, Ricardo está animado com a possibilidade de ser novamente inserido no mercado de trabalho. Atualmente, ele busca qualidade de vida acima de tudo. E, embora continue com vínculo empregatício com a empresa Luck, seguirá um novo rumo profissional.

“Hoje eu faço bacharelado em fisioterapia na FARN (Faculdade Natalense para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte) e o programa de reabilitação me encaminhou para um curso de Técnico de Segurança, no Senac, até como uma resposta à minha doença. A ausência de um técnico de segurança na empresa foi um dos motivos para eu ter uma carga de trabalho excessiva”, afirma Ricardo.

O paulista comenta que é fácil criticar o governo, mas, num momento como este, vivenciado por Ricardo, ele ressalta como a Previdência Social é fundamental para a vida do trabalhador. Além disso, ele elogia o trabalho desenvolvido pela equipe que o acompanhou. “O que eterniza uma pessoa é a diferença que ela faz na vida de outra pessoa”, conclui emocionado Ricardo Savalli, se referindo ao médico psiquiatra que o acompanhou no programa, Cézar Augusto de Autran Nunes, já falecido, a quem ele dedica sua recuperação.

O industriário Carlos Eduardo dos Santos, 49 anos, está desde julho de 2007 no programa de Reabilitação Profissional. O estresse causado pelo intenso trabalho em uma prestadora de serviço da Petrobrás, desencadeou algumas doenças no trabalhador. Inclusive, algumas crises de convulsão assustaram  Carlos, que estrou num estado depressivo.

“Por duas vezes tentei suicídio nesta fase inicial do programa. É muito difícil encarar uma nova fase de trabalho na minha idade. Já estou com quase 50 anos e não é fácil mudar de profissão”, afirma Carlos Eduardo. Ele acredita que esta dificuldade em aceitar o novo atrasou sua entrada num curso de capacitação.

Há dois meses, o industriário está inscrito no curso de Montagem e Manutenção de microcomputadores do Senac. “Não imaginava que me identificaria tanto com o curso”, relata Carlos Eduardo. Ele se diz 75% satisfeito com a Previdência Social e está mais animado com a mudança.

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