Maria Betânia Monteiro – repórter
A fronteira entre ficção e realidade será mais uma vez rompida no romance de François Silvestre, “Esmeralda, Crime no Santuário do Lima”. O escritor faz em seu novo livro um paralelo com a obra “O Corcunda de Notre-Dame”, de Victor Hugo. Em Esmeralda, assim como a obra de Victor Hugo, uma cigana chamada Esmeralda conduz a trama deste seu romance policial. O livro não teve um lançamento oficial, mas já está à venda por R$ 35,00 nas livrarias e bancas de revistas da cidade.
A reportagem do VIVER foi recebida por François Silvestre em sua casa. Sentado à mesa, acompanhado da filha, François falou sobre a concepção dos seus romances em geral, e de Esmeralda, em particular. Segundo o escritor Esmeralda conta a história de uma cigana, que abandona seu grupo e se fixa no Santuário do Lima, onde é assassinada com um corte no pescoço. Os suspeitos são quatro homens, que tem no currículo grande experiência com facas, desde um padre alemão a um ex-artista circense.
A história é contada de forma peculiar. O autor lança mão de suas memórias, quando esteve nos estados da Paraíba, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, para construir os relatos e os cenários de Esmeralda, Ele favorece ao leitor a descrição da paisagem cultural do sertanejo; informações sobre os hábitos do sertão e dados inéditos sobre o choque de contato dos ciganos do nordeste do Brasil. “Parte do livro é real. O núcleo é ficção, mas há uma série de historietas reais, com personagens reais, que como veredas vêm para via principal. Só que os fatos reais e os personagens reais são secundários. Quando estes personagens aparecem, muita gente os identifica. Aproveito a literatura para prestar alguns serviços de informação”, diz François Silvestre.
Este estreitamento da realidade com a ficção pode ser visto já no início de Esmeralda, quando François descreve a chegada do circo à cidade de Taperoá, na Paraíba: “No dia que o circo chegou a Taperoá, a cidade enfeitou-se como nunca o fizera antes. Nem na visita do Bispo. Nem na visita do Governador. Nem no casamento de Manoel Dantas, pai de Manelito, em cuja fazenda Ariano Suassuna tem uma casa”. Como é de conhecimento do público, o dramaturgo Ariano Suassuna possui propriedades da referida cidade paraibana, onde cria caprinos.
O cronista e escritor Vicente Serejo, amigo e profundo conhecedor da obra de François Silvestre fala que, assim como em Esmeralda, os romances de François demovem as paredes existentes entre realidade e ficção. “Na obra de François a realidade parece ficção; e a ficção, realidade. Ele fala da realidade, mas a fecunda de outros elementos reais que ele gostaria que estivessem presentes”, comenta Vicente Serejo. “François não teme mexer na realidade e faz isso com muita segurança e ousadia”, diz Cerejo e acrescente que Esmeralda mantém o corte do picaresco nordestino, embora trabalhe uma trama romanesca, que beira ao romance policial.
Como nasce um personagem
Os romances de François Silvestre são generosos em número de páginas o que os torna trabalhosos. Mas é também prazeroso, pois diz que estes são criado em momentos de lazer, como se desfrutasse uma cerveja gelada: “A condução do romance não é fácil, já que você tem que ter a motivação da história e o controle sobre os personagens”, diz. “Vejo uma pessoa passando e digo: dá um personagem! E começo a imaginar: ele nasceu em tal lugar, filho de fulano. Vejo o personagem começar a surgir e depois o acompanho até que ele nasça na história”, conta François.
Quando questionado sobre seu processo de criação dos personagens, se eles ganhavam vida própria, o escritor disse não acreditar nisso. “O personagem está vivo e a história precisa dele. É verdade que uns você imagina terem vida curta, e depois acabam tendo uma vida longa. Já outros, você acha que teriam vida longa e eles desaparecem cedo”, explica. François Silvestre também não acredita em inspiração para escrever, segundo ele, seu trabalho é resultado de muita transpiração.
A obra de François Silvestre inclui os romances “Dormentes”, “Romance da Piracema”, “O Mel e o Bem Querer”, “A Pátria Não é Ninguém”, que em breve ganhará um segundo volume; além de “As Alças de Agave”, livro motivado pelo episódio do Foliaduto da Fundação José Augusto. Mais “Luz da Noite ao Vento Norte”, livro de poemas; “Rio de Sangue”, livro de contos; “Dicionário Político do Rio Grande do Norte” e “Histórias da República do Brasil”, título de livro ainda não concluído pelo autor.