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Reino Unido tenta entender recrutamento de jovens

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Tamsin Walker
Deutsche Welle

Londres – As cenas da execução do jornalista americano James Foley, divulgadas nesta semana, chocaram o mundo. O jihadista mascarado que aparece no vídeo, vestido de preto e com sotaque britânico, seria um dos cerca de 500 cidadãos do Reino Unido que teriam se unido ao grupo “Estado Islâmico” (EI), na Síria e no Iraque. Segundo o pesquisador Matthew Francis, da Universidade de Lancaster, na Inglaterra, não há um motivo claro para jovens britânicos entregarem a própria vida pela causa do grupo radical. Para ele, ainda não faz sentido levar em consideração aspectos como educação ou ascendência.
Cameron: preocupação com recrutamento e medidas para dificultar as ações do grupo terrorista
“Eles vêm de todo o Reino Unido. Muitos tiveram boa educação e frequentaram a universidade. Sabemos de um rapaz de Cardiff [capital do País de Gales] que queria se tornar o futuro primeiro-ministro britânico”, conta.

De acordo com ele, o recrutamento do EI se baseia em criar as condições certas. E fazer os aspirantes acreditarem que fazem parte de uma comunidade transnacional que está sob ameaça. “A falha dos governos ocidentais em armar o Exército Livre da Síria deu força ao atrito ‘Ocidente x muçulmanos’. E isso foi o que pudemos ouvir no vídeo divulgado nesta semana”, afirma Francis.

Erin Marie Saltman, pesquisadora da Fundação Quilliam e coautora de um estudo sobre a jihad islâmica, considera que, embora haja uma tendência a se fazer generalizações, vários fatores fazem jovens se aliarem a grupos extremistas.

“O que podemos dizer é que o público alvo são jovens do sexo masculino que têm uma conexão com imigrantes muçulmanos, na segunda ou na terceira geração. Mas também há casos de pessoas que não têm ascendência muçulmana e se convertem”, explica.

Saltman ressalta que os aspirantes estão unidos pelo desejo de se sentir especiais em um mundo onde riqueza e grandeza não estão ao alcance. Grupos radicais islâmicos focam nesses desejos e nesse sentimento de desespero. “Eles jogam com isso e convidam as pessoas a fazer parte de um grupo forte que oferece aventura e a chance de mudar o mundo”, diz.

Jihadistas em potencial são recrutados em universidades ou prisões, locais onde há um potencial para um efeito dominó. Após um primeiro contato, eles são imersos em um universo de livros e ferramentas que fazem parte do que Saltman descreve como “processo de radicalização”.

Para Ross Frenett, do Instituto para o Diálogo Estratégico, em Londres, no Reino Unido há um pano de fundo extremista, que foi despertado pelo conflito na Síria. Ele diz que um dos pontos explorados pelos recrutadores é a busca pela identidade, o que é potencializado pelas redes sociais.

“Essas pessoas podem conversar diretamente com radicais em campo, o que significa que eles estão em contato com o conflito de uma maneira que nunca vimos antes, nem no Iraque em 2006”, diz.

Já o diretor do Departamento de Estudos para a Segurança e Inteligência da Universidade de Buckingham, Anthony Glees, acredita que as raízes do problema estão no entendimento cultural. “A nossa política de multiculturalismo deu a homens religiosos, que na verdade são políticos ou extremistas, a camuflagem para alcançar os jovens”, explica. “E o nosso compromisso profundo com a liberdade de expressão foi manipulado por essas lideranças de forma a radicalizar opiniões.”

Em pronunciamento na  quinta-feira, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, declarou que o Reino Unido vai tomar uma série de medidas, como reter o passaporte de suspeitos. Mas em um Estado liberal, em que as pessoas são inocentes até que se prove a culpa, as autoridades podem encontrar obstáculos.

Diante da dificuldade de identificar as razões que levam as pessoas a se aliarem a grupos radicais islâmicos, Francis defende que o foco de combate deve estar no recrutamento. “Se entendermos como funciona, podemos interromper”, argumenta. Para Saltman, faltam vozes contrárias ao discurso extremista, e é necessário deixar claro que o EI contraria os próprios preceitos do islã. “Precisamos da imposição forte de ativistas e líderes comunitários e religiosos”, defende a pesquisadora.

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