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Relator pede abertura de processo contra Demóstenes

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Brasília (AE) – O mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) ficou menor. Ontem, o relator do caso no Conselho de Ética, senador Humberto Costa (PT-PE), pediu a abertura de processo por quebra de decoro contra o parlamentar goiano. O Conselho deverá aceitar, na semana que vem, o pedido de abertura de processo disciplinar. Será o primeiro passo para a cassação do mandato do senador, que aparece na operação Monte Carlo, da Polícia Federal, como um dos integrantes da organização do contraventor Carlos Augusto Ramos, conhecido por Carlinhos Cachoeira. A votação do relatório do senador Humberto Costa (PT-PE) com o pedido de abertura de processo está marcada para a próxima terça-feira, dia 8.
Humberto Costa afirma que Demóstenes tinha conhecimento das atividades ilícitas de Cachoeira
Em um parecer de 63 páginas, o relator argumentou que Demóstenes “faltou com a verdade”, o que configura quebra de decoro, ao afirmar que foi contra a legalização dos jogos de azar no País e só mantinha “relações sociais” com Cachoeira, em discurso feito em 6 março último, no plenário do Senado. Na ocasião, Demóstenes subiu à tribuna para explicar o recebimento de presentes de casamento de Cachoeira.

Com base em discursos feitos por Demóstenes ao longo dos últimos nove anos, quando tomou posse em seu primeiro mandato de Senado, o relator citou a votação de Medida Provisória número 168, que proibia o jogo de bingo e caça níqueis no País, mas acabou derrubada no Senado. Demóstenes Torres foi um dos senadores que votaram contra a MP, em maio de 2004. Em seu relatório, Costa lembrou que Demóstenes não pôs em votação projeto que criminalizava os jogos de azar, entre 2009 e 2010, quando foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Mais tarde, quando o projeto foi votado na Comissão, Demóstenes estava ausente da sessão.

Nas alegações finais em que pede abertura de processo disciplinar, o relator afirmou ainda que Demóstenes teria conhecimento das atividades ilícitas de Cachoeira. Costa argumentou que, como ex-procurador de Justiça e ex-secretário de segurança de Goiás, Demóstenes não tinha como desconhecer as atividades de “contravenção” de Cachoeira alardeadas durante a CPI dos Bingos do Senado, em 2006. Para pedir a abertura do processo, Costa acusou Demóstenes de ter recebido “vantagem indevida” ao aceitar um aparelho de rádio-celular Nextel do contraventor. Esse foi um dos aparelhos de telefone grampeados pelo Polícia Federal em que foram detectadas quase 300 conversas entre Cachoeira e Demóstenes.

Dizendo-se surpreendido com o teor do relatório, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro tentou ganhar tempo e pediu novo prazo de defesa. O pedido foi negado pelo presidente do Conselho de Ética, senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). “Fui surpreendido com um relatório em que 80% dele não constam da representação feita pela PSOL. Esse relatório traz coisas que eu desconhecia”, disse Kakay, como é conhecido o advogado, que solicitou mais cinco dias de prazo para apresentação de nova defesa. “Não tenho culpa se a defesa foi por um caminho que não deveria ir. Fui pelo caminho que mostra que há fortes indícios de quebra de decoro parlamentar”, rebateu Humberto Costa.

Pagot está disposto a depor na CPI

Ribeirão Preto (AE) – O senador Blairo Maggi (PR-MT) afirmou, ontem, em entrevista à Agência Estado, que o ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) Luiz Antônio Pagot, seu afilhado político, está disposto a depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira. “Ele me disse que está à disposição e, inclusive, saiu do partido (PR) para ter a liberdade de falar o que achar interessante. Acho que o Pagot está em busca de limpar sua biografia, pois ficou claro que ele foi vítima de um contexto. Se vai doer em um ou outro, paciência”, disse Maggi, durante visita à Agrishow, em Ribeirão Preto (SP).

Novas gravações divulgadas ontem mostram que o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) monitoraram o depoimento que Pagot fez, há um ano, no Senado, temendo que ele revelasse a ação da construtora Delta, investigada pela CPMI, no DNIT. Na conversa, Cachoeira fala a Demóstenes que Blairo teria “mandado falar” que intercederia junto a Pagot para não citar o esquema no depoimento.

“Fui citado na gravação, porque quando aconteceu o negócio com o Pagot, há um ano, eles ficaram com medo de que tudo que caiu agora, caísse lá atrás. Tinham desconfiança que ele falasse algo”, disse o senador. “Eu não sabia de nada e, se soubesse, até agiria de forma diferente”, completou Maggi, negando ainda conhecer Cachoeira. “Para mim, nunca nenhum deles ligou, eu nunca nem ouvi falar em Cachoeira, nem conhecia”.

O senador mato-grossense criticou, com certa ironia, Demóstenes Torres pela atuação no depoimento de Pagot em 2011 no Senado. “Demóstenes foi lá naquela sessão e inquiriu ele (Pagot). Imagine se ele vira para o Demóstenes e fala: senador eu não estou entendendo, o senhor me chama na sua casa para jantar com empreiteiro, pede para eu ajudar o cara numa obra e agora vem me criticar?”, afirmou. “Esse era o medo que eles tinham, por isso o estavam monitorando”.

Ainda segundo Maggi, a CPMI do Cachoeira é diferente de outras porque toda a investigação já foi feita pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. “O Senado já recebeu a investigação e acho que não deveremos ter grandes novidades daqui para frente. O Congresso vai fazer o julgamento político, porque o resto já está apresentado”, concluiu.

Governador não vê risco em grampos

Rio de Janeiro (AE) – Diante das suspeitas sobre sua relação com Fernando Cavendish, controlador da Delta, um dos focos da CPI do Cachoeira, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), traçou uma estratégia baseada na inexistência – pelo menos por ora – de indícios que o envolvam no escândalo.

“Zero, zero risco de haver uma conversa minha tratando de assuntos públicos com o Fernando”, disse o governador a interlocutores do PMDB, no fim de semana. Dois pontos sustentam a tática de Cabral: não foram encontrados grampos da Operação Monte Carlo nos quais o peemedebista apareça beneficiando Cavendish; e, segundo a versão do governador, eles só costumam abordar assuntos privados, sem tocar em interesses públicos. A Delta tem, com o Estado do Rio, contratos de obras que somam R$ 1,49 bilhão.

Cabral tem deplorado, contudo, o que chama de “exposição de famílias” – segundo ele, iniciado com a divulgação de fotos de casais que o acompanhavam em viagens ao exterior pelo blog do ex-governador e deputado Anthony Garotinho (PR-RJ).

As imagens mostram Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo, acompanhados de Cavendish e da então mulher do empresário, Jordana Kfuri Cavendish, morta em junho em um acidente de helicóptero na Bahia que tornou pública a amizade entre o governador e o controlador da Delta. Nas imagens, os casais estão em um restaurante em Mônaco e no show do grupo U2 em Nice (França), em 2009.

Ontem, a Justiça do Rio determinou que Garotinho retire de seu blog, em 48 horas, as imagens da mulher de Cavendish, em ação movida pelo pai de Jordana, Dario Kfuri. No blog, o deputado lamentou ter usado a imagem dela. “Todavia algumas situações são fatos jornalísticos contundentes e reveladores.”

Vaias

Cabral tem se manifestado sobre o caso apenas por notas. Ontem, o governador chegou a evento no Rio ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e evitou um vexame público – Lula foi aplaudido de pé, o que abafou os apupos a Cabral. Sisudo, o governador fez um discurso curto e manteve-se sério, demonstrando abatimento. Depois da solenidade, não falou com os repórteres.

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