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Rendimento do aluno está baixo

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AVALIAÇÃO - Resultados das provas aplicadas em todo o País mostram a ausência de políticas públicas

Quem nunca ouviu frases parecidas com as seguintes: “as crianças são o futuro desse país” ou “o futuro do país está na educação”. Há muito tempo esses jargões são proferidos principalmente por políticos e homens de mídia. Mas as estratégias e políticas voltadas para a Educação parecem que ficaram apenas nos discursos.

Apesar de que, no fim dos anos 90, com base em dados estatísticos oficiais, os governos federal, estadual e municipal chegaram a comemorar a diminuição do analfabetismo. Também ganhou bastante repercussão, a expressiva queda nas reprovações que aconteciam no ensino fundamental básico (1ª a 4ª séries). Esses fatos passaram a ser considerados como um marco e avanço nas políticas públicas voltadas para a Educação.

Contudo, a realidade do ensino fundamental, base do conhecimento acadêmico e de mundo do aluno, está bem distante do tão propagado futuro promissor da Educação.

Recentemente, o Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) do Ministério da Educação (MEC), divulgou os resultados da “Prova Brasil”, um amplo exame de verificação do rendimento do aluno nos moldes do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), aplicado nas escolas públicas por amostragem desde 1995.

Provas de português, com ênfase em leitura, e matemática foram  aplicadas, em novembro de 2005,  a todos os estudantes de 4ª e 8ª séries, em mais de 40 mil escolas espalhadas por 5.398 municípios. Ao todo, foram avaliados 3,3 milhões de estudantes, sendo 1,9 milhão de 4ª série e 1,3 milhão de 8ª série. Para cada prova foi estabelecida uma escala de pontuação de 0 a 500, a mesma criada em 2003 para o Saeb, mas como 99% dos estudantes não alcançaram a pontuação máxima, o MEC considerou como média de proficiência 300 pontos para as provas aplicadas aos alunos da 4ª série, além de 350 pontos para a prova de português e 375 para a prova de matemática, ambas aplicadas aos alunos da 8ª série. A partir desse referencial, também foi adotado um sistema de classificação do aluno quanto ao desempenho nas avaliações: Muito crítico (0 a 125 pontos); Crítico (125 a 175 pontos); Intermediário (175 a 250 pontos); e Adequado (mais de 250 pontos).

Através da escala, pode-se verificar se os alunos conseguiram desenvolver competências e habilidades na série corrente e durante todo o processo de formação nas séries anteriores. Os resultados apresentados pelo Inep, no site www.inep.gov.br, revelam quantos estudantes se encontram com formação deficiente, os que estão em um nível adequado para a série e, também, quantos estão acima do nível.

De acordo com os dados estatísticos do MEC, a nota média nacional, levando-se em consideração a pontuação de proficiência (300 pontos), ficou no nível intermediário, ou seja, entre 175 e 250 pontos, com a exceção da nota obtida na prova de português aplicada aos alunos da 4ª série, 172,9 pontos. Esse dado prova que os alunos da 4ª série têm dificuldades de leitura e compreensão de textos, já na 8ª série, os alunos não são capazes de distinguir o sentido metafórico do literal e não conseguem identificar informações opiniões ou expressões subjetivas. Na matemática, os alunos da 4ª não são capazes de identificar as horas no relógio e na 8ª, não são capazes de calcular porcentagens ou mesmo frações.

Secretários reconhecem deficiência

O secretário estadual de Educação, Hudson Brandão, e Justina Iva, secretária municipal de Educação, reconheceram que os dados do MEC relativos ao Rio Grande do Norte refletiam a atual realidade do ensino fundamental no Estado, contudo afirmaram que ações já estão sendo desenvolvidas para solucionar o problema.

Segundo Hudson Brandão, a deficiência constatada no exame “Prova Brasil” é resultado da situação de subdesenvolvimento do Nordeste e da ingerência da política partidária que nem sempre visava o melhor para a educação. Mesmo assim, estratégias e ações estão sendo desenvolvidas para combater a deficiência constatada, mas o resultado só poderá ser confirmado nas próximas avaliações. “Entre as medidas adotadas para melhorar as condições de ensino está a implantação do Plano de Cargos e Salários que surge para valorizar o profissional educador. Também podemos destacar os cursos de formação e qualificação de docentes como o Pró-básico da UFRN e o Pró- Formação da UERN. A Ciranda da Leitura, que distribui livros paradidáticos, e a Biblioteca para Todos são iniciativas que ajudam a fazer com que o aluno se engaje no mundo da leitura.  Se todas as ações forem bem trabalhadas poderemos colher os frutos em um curto prazo. Para tanto, é preciso que a sociedade se engaje e os pais participem desse processo”, disse Hudson Brandão.

A secretária Justina Iva informou que os dados apresentados pelo MEC já eram esperados, pois apenas validaram os dados do Saeb de 2003. “Como resposta a esse desconforto, estamos desenvolvendo várias ações como a Agenda Potiguare” , disse.

RN ocupa os últimos lugares

Se os dados estatísticos do MEC revelam que o ensino fundamental no país é deficiente, quando verificamos o resultado por estados constatamos uma triste realidade, o Rio Grande do Norte ocupa os últimos lugares.

Para se ter uma idéia, nas provas de português e matemática aplicadas aos alunos da 4ª série, o RN ficou em último lugar no ranking de desempenho, 27° colocado. Nesse caso, o MEC considera, com base na escala de proficiência, que os alunos estão em um estágio crítico de conhecimento, pois a pontuação alcançada pelos estudantes foi de 154,8 (português) e 154,8 (matemática). Não são capazes de ler e compreender textos de histórias em quadrinhos e muito menos identificar as horas no relógio. 

Com  relação aos alunos da 8ª série, a colocação melhora indo para o 19° lugar (229,9 pontos em matemática) e 21° (212,9 pontos em português), mesmo assim fica muito abaixo da média nacional e mais distante ainda da pontuação de proficiência (300 pontos).

Segundo a coordenadora geral do Sinte (Sindicato Estadual dos Professores do RN), Fátima Cardoso, os resultados da avaliação do MEC para o Estado comprovam a ausência de políticas públicas voltadas para a educação. A coordenadora alerta que os resultados que serão colhidos serão danosos se não houver um comprometimento do poder público de analisar os dados com rigor para desenvolver ações e estratégias a curto prazo. Pois o mundo e a tecnologia evoluem a uma velocidade impressionante, o mercado de trabalho passa a ser mais seletivo e quem não tiver em sintonia com o tempo estará fadado ao fracasso.

“A explicação para essa situação é a seguinte: não temos um Plano Estadual de Educação e muito menos nos municípios. Isso tudo é resultado da falta de preocupação do poder público com a relação aluno e processo de aprendizagem. Faltam currículos e metodologias atualizadas que trabalhem e desenvolvam as habilidades adquiridas pelos alunos nas séries de formação. Outro problema que interfere diretamente no processo de ensino e aprendizagem é a precariedade da infra-estrutura, ou seja, condições de trabalho. Na maioria das escolas, principalmente no interior, falta tudo. Outro grave problema está ligado diretamente com o professor que é contratado e esquecido tanto no tocante à questão salarial quanto à formação. Se não houver investimento na educação, teremos outra década perdida, como a de 90, em que foram instituídos os ciclos básicos com a missão de aprovar os alunos com a finalidade de produzir dados estatísticos que impressionassem a comunidade internacional”, disse Fátima Cardoso.

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