Na gaveta dos papéis desarrumados, entre cartas, bilhetes, faxes e recortes de jornais, encontro um memorando assinado por Agnelo Alves, então diretor geral da Tribuna do Norte. Está datado de 4 de abril de 1983, lá se vão 34 anos ou oito e meia copas do mundo. O jornal passava por mais uma outra dessas mudanças que agitam as redações, mas sem alterar a sua linha editorial. Mexia-se no time, mas a maneira de jogar não. O memorando era dirigido ao editor geral e está escrito assim:
“Natal, 04 de abril de 1983
À Editoria Geral e, por seu intermédio, à Secretaria da Redação:
De acordo com o que ficou assentado na reunião de hoje do Conselho Editorial, com aprovação desta Diretoria Geral, a nova estrutura funcional da redação passa a ser a seguinte:
Editor Geral: Woden Madruga. Secretário da Redação: Manoel Barbosa da Silva. Editoria de Textos: Emanoel Barreto, Luiz Fausto e Cione Cruz. Editor Político: a ser preenchido nos próximos dias. Até lá, Emanoel Barreto. Serviço Fotográfico: a ser indicado, em caráter experimental, pelo Secretário da Redação. Editor de Polícia: Natanael Virgínio. Chefe de Revisão: a ser indicado, em caráter experimental, pelo Secretário da Redação.
A Editoria de Textos ficará encarregada também da pauta e da sua cobrança, reunindo-se todas as manhãs com o Secretário da Redação para a análise do jornal e dos concorrentes. Quando desejar ou for convidado, o Editor Geral poderá participar dessas reuniões.
O Chefe da Revisão ficará responsável pela correção dos textos gráficos, respondendo diretamente à Secretaria da Redação, a quem se subordina a partir desta data. Fica criada a função de Editor Gráfico que será preenchida, em caráter experimental pelo repórter estagiário Moura Neto, subordinando-se também ao Secretário de Redação, de quem deverá receber toda as instruções. A Chefia de Diagramação será exercida por Moacir Oliveira.
O Conselho Editorial se reunirá todas às segundas-feiras. O Secretário da Redação deverá propor até segunda-feira próxima, dia 09, a rediagramação da 4ª página, mantidos 1) o artigo diário de Garibaldi Filho e, 2) Cartas dos Leitores, para a apreciação do Conselho de Redação.
O Secretário da Redação exercerá com plenos poderes as suas funções, substituindo o Editor Geral nas ausências e impedimentos. Todas as editorias ficam subordinadas diretamente a ele, assim como os chefes de serviços diretamente ligados à Redação, como: Fotografia, Revisão, Secretaria Gráfica, Diagramação.
Nenhuma matéria poderá ser inserida no jornal, mandada compor ou ser diagramada, sem passar pela Secretaria da Redação.
Agnelo Alves – Diretor Geral”
De Sanderson a Mussoline
Uma semana depois do memorando acima, Agnelo enviava outro para o editor geral, no caso, este velho ajuntador de papéis velhos. Destaco algumas passagens, começando pelo começo:
“Sr. Editor: de acordo com o que assentamos em nossa reunião de segunda-feira passada, o seguinte:
1) O Segundo Caderno passará a partir do próximo domingo, dia 15, para oito páginas, com a volta da secção de Turismo, que poderá ser uma página ou meia página, a inserção da crônica de Sanderson Negreiros e da secção de filatelia de Mussoline Fernandes. A colaboração de Mussoline poderia se estender também a Palavras Cruzadas; combinar com ele.
2) Na página de J. Epifânio deverá ser inserida uma secção, título “colunão”, com todas as informações úteis, a saber: cinema, telefones de urgência, tábua da maré, farmácia de plantão, programação da TV-Universitária e da Globo, programação da Cabugi, horóscopo.
3) “Protesto de títulos”, será inserido na 2ª página, pois tem público cativo e criaremos, com isso, facilidade para o leitor.
4) A repórter Cione Cruz passa a cumprir pauta, quem sabe deslocada – a seu critério -, para a reportagem política ou para cumprir o assunto principal.
5) O Editor-Adjunto passará a adotar o sistema “mesão”, todos os dias, às 18 horas, com os editores setorizados, para o planejamento do jornal. Quando o Editor Geral desejar ou achar necessário fará uma reunião em sua sala”.
Notícias de Barcelona
Noutro canto da gaveta encontro um cartão postal que Leopoldo Nelson, pintor, poeta e cientista, me manda de Barcelona (ainda não existia Neymar), onde fazia pós-graduação em Medicina. O cartão, que estampa a entrada do Parque Güell, está escrito assim:
“Barcelona, 27 de março de 1980
Caro Woden,
Recebi a sua carta e os exemplares da “Nova Tribuna”. Já era tempo de termos um jornal apresentável. Parabéns, pois, sei, que ali tem muito trabalho seu. “Valeu a pena porque a alma não é pequena! ”.
Estou escrevendo as primeiras “Cartas de Barcelona e do Estrangeiro” para colaborar, como combinamos. Saudações com um gostoso copo de vinho “de la mancha”.
Um grande abraço para você e todos os amigos e confrades,
Leopoldo e Margarida”
Lula em Madrid
Cartão postal da “Puerta de Toledo”, em Madrid, enviado pelo poeta Luís Carlos Guimarães, década de 80:
“Woden:
Repetindo Dorian: Só vendo. Tudo aqui demonstra que o passado é que é presente. Mas como sou de Currais Novos, pergunto: Como vai Lagoa de Velhos?
Luís Carlos.”