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Resgate de cobras cresce 92% no Rio Grande do Norte

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O aparecimento repentino de vários animais silvestres em Natal e no Rio Grande do Norte ligou o alerta das autoridades ambientais e de especialistas no tocante aos cuidados que a população deve ter ao avistar os bichos. Em relação às cobras, que algumas espécies podem trazer perigos aos humanos em virtude do veneno, houve um aumento considerável nos cinco primeiros meses de 2021 em comparação ao mesmo período do ano passado: 92%. Em números absolutos, foram 173 cobras resgatadas pelo Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Norte contra 90 no mesmo período de 2020. No dia 07, um homem morreu em Baraúna por picada de cobra.
Corpo de Bombeiros do RN emitiu comunicado oficial na última semana com cuidados que devem ser tomados ao se avistar animais peçonhentos em área urbana
“Não dá para creditar a um fator específico, mas um deles é a questão das chuvas, o aumento da umidade, que favorece a esses animais, que gostam de clima mais úmido e propicia mais a reprodução, tanto dele quanto do alimento deles, como os ratos”, aponta o coordenador de operações dos Bombeiros, tenente Vinícius Gomes. No último dia 07, um homem morreu em Baraúna por picada de cobra.
É o que acrescenta o pesquisador Adrian Antônio Garda, professor do Departamento de Botânica e Zoologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e especialista em herpetologia, que estuda répteis e anfíbios.
“Em termos de serpentes, existe um aumento na frequência natural de observação de serpentes do meio para o final da estação chuvosa. O pessoal do interior do Estado diz que maio é o mês das cobras. Temos muito avistamento de cobra coral verdadeira, em Natal, quando chove muito. São animais que ficam enterrados, fossoriais. Quando chove, alaga, esses animais saem de um lado para o outro”, aponta.
Nesta semana, pelo menos três relatos de resgates de animais silvestres chamaram a atenção dos potiguares. O caso mais emblemático foi o de uma jiboia, de pelo menos dois metros, encontrada em plena manhã na última terça-feira (03), na Via Costeira, em Natal, margeada pelo Parque das Dunas. O trânsito ficou comprometido e chamou a atenção de muitos populares no local, que filmaram e fizeram fotos.
A também professora do Departamento de Fisiologia e Comportamento, do Centro de Biociências da UFRN, Renata Gonçalves Ferreira, levantou uma possibilidade a respeito da jiboia que surgiu na Via Costeira. Para ela, existe a chance de ela ter sido solta por alguém que criava o réptil.
“É uma suspeita. É autorizado que você crie jiboia em casa, é uma fauna silvestre. Muitas vezes as pessoas se arrependem e soltam de volta na natureza. Quando vi a reportagem, minha suspeita é de que alguém tenha soltado no Parque das Dunas e ela saiu buscando algum lugar. Era uma cobra grande, estava bem alimentada. É possível, não estou dizendo que foi isso. Mas foi a primeira coisa que se passou pela minha cabeça”, cita.
A jibóia, de acordo com especialistas, não é venenosa. Em alguns casos, o réptil pode chegar a mais de 4 metros de comprimento.
Ainda na semana passada, outra jiboia e um iguana foram resgatados pelo CBM/RN em cidades do interior do Estado. Em maio, uma raposa chegou a ser vista na Cidade Alta, em Natal, sendo resgatada pela Guarda Municipal. Para Adrian Garda, a presença de animais silvestres nas grandes cidades está diretamente associada ao fato de que o espaço urbano ocupa, com o passar dos anos, a natureza.
“O espaço urbano é quem está na área dos animais silvestres. Quando minha família chegou aqui, em 1978, Natal tinha pouco mais de 200 mil habitantes. Num espaço de tempo muito curto, a cidade cresceu muito. E acontece de começarmos a isolar e diminuir os locais onde esses animais conseguem ficar. E tem mais gente vendo os bichos. Temos o advento do telefone também, todo mundo tem um vídeo pra fazer. Mas o principal é que estamos acabando com as últimas áreas protegidas que temos. Os animais sempre estiveram aqui antes da gente. É o crescimento urbano rápido e a destruição dos últimos refúgios”, exemplifica.
Essa tese também é compartilhada pela professora Renata Ferreira, da UFRN. Ela acrescenta ainda que, com a “invasão” do espaço urbano em relação à natureza, é comum que animais como saguis, iguanas e até mesmo cobras procurem alimento, o que faz com que cheguem até as grandes cidades e se “percam”.
“É a nossa cidade que está crescendo demais, invadindo cada vez mais os espaços deles, alterando o equilíbrio que existe, então você retira a árvore, o pássaro, o sagui não tem mais a comida, precisa se aproximar da comida humana, como resto de lixo. E as cobras, sendo predadoras deles, vão atrás das presas. Pode ser isso que esteja acontecendo. Mas não é típico de Natal”, mostra.
Bombeiros explicam como lidar com animais silvestres
Com o aumento na captura e resgate de animais silvestres no Rio Grande do Norte de 2021, o Corpo de Bombeiros do RN emitiu um comunicado oficial na última semana em que elenca cuidados e medidas que os potiguares podem tomar ao avistar um animal peçonhento na sua residência ou em outro ambiente. Entre as dicas, a principal delas é não tentar manusear o animal caso não tenha conhecimento, bem como usar luvas nas atividades rurais e de jardinagem, não colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros, entre espaços situados em montes de lenha ou entre pedras.
“Um cuidado é evitar acúmulo de lixos, limpar terrenos baldios e quintais com vegetação. Esse tipo de ambiente favorece à proliferação de ratos, que atraem cobras. É importante que quem vive na zona urbana tenha esse cuidado. Para quem mora na zona rural, é importante que no momento que for fazer alguma atividade, usar EPIs, como botas de cano alto, luvas, porque caso se aproxime desses animais sem perceber, esteja protegido de uma possível picada”, comenta o coordenador de operações do Corpo de Bombeiros do RN, tenente Vinícius Gomes.
Entre outras dicas, o Corpo de Bombeiros sugere a limpeza regular dos quintais e o não acúmulo de lixo tampouco resto de materiais de construção ou quaisquer outros tipos.
“O mais importante é não tentar manusear o animal se não tiver o mínimo de conhecimento possível. É tão tentar colocar a mão e não fazer nada que a pessoa se coloque em risco. A grande maioria das espécies de cobras que temos no Estado, 90% são inofensivas, não têm veneno. Mas existem espécies sim venenosas, como a coral verdadeira. É uma cobra que se morder, você está em risco”, acrescenta o pesquisador da UFRN, Adrian Garda.
Em caso de acidentes, a dica é lavar o local da picada com água e sabão; manter a vítima deitada e evitar que ela se movimente e por fim, levar a vítima imediatamente ao serviço de saúde mais próximo.
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