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Resorts ensaiam retomada

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Andrielle Mendes
Repórter

Liedson Pacheco Aleixo, 15, jamais esquecerá de seu encontro com o jogador David Beckham. “Eu estava com os meus primos. Lembro que ele apertou minha mão, me deixou tirar foto com ele, e disse que traria a foto depois”. Não trouxe. Quatro anos depois, o jovem, de Maxaranguape, espera a foto. O município, a 51km de Natal, o resort anunciado pelo jogador inglês em 2008. O reencontro, entretanto, pode estar mais perto do que Liedson imagina.
Francisco Sena, seu Mimim, diz que projetos inacabados trazem perspectiva de trabalho em municípios como Maxaranguape
O Brazil Development Investimentos Turísticos, grupo norueguês que anunciou o empreendimento lançado pelo jogador inglês, acaba de pedir  licença prévia para executar o projeto ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável do RN (Idema). O pedido foi publicado no Diário Oficial, na última semana. A expectativa é iniciar as obras em janeiro de 2012, se não houver novos entraves. O resort cabo de São Roque, como ficou conhecido, é apenas um dos resorts ‘desengavetados’ após a crise de 2008.

O resort, que passou por reformulações, deve ficar pronto até 2014, segundo Simon Rees, CEO (espécie de executivo chefe) do Grupo, em entrevista à Tribuna do Norte, em 23 de setembro. “Queremos que os visitantes brasileiros e estrangeiros se hospedem nas nossas instalações durante o Mundial”. O novo projeto prevê a construção de um hotel 5 estrelas, vilas, apartamentos, campo de golfe e um resort aldeia. Rees, entretanto, não citou a escola de futebol anunciada pelo jogador David Beckham, para frustração do jovem Liedson.

À Tribuna, Rees disse que a previsão é concluir a primeira fase em março de 2014. A equipe de reportagem tentou entrar em contato com Torben Frantzen, presidente do Brazil Development, para saber quanto será investido pelo grupo e quantos empregos serão gerados, mas ele não estava no Brasil.

Outro resort que deve ser concluído até a Copa é o Natal Ocean Club Resort e Spa, também em Maxaranguape. O hotel começou a ser construído em 2009, mas enfrentou problemas e teve as obras paralisadas em 2010. “O Ibama pediu para reanalisar o projeto”, esclarece Antônio Marcos Caldas, arquiteto urbanista que presta serviço à Natal Ocean Club Empreendimentos Ltda, empresa brasileira constituída por sócios estrangeiros. A reanálise deverá sair no primeiro semestre de 2012, quando o Grupo espera reiniciar as obras. Segundo Antônio, o problema não foi a falta de capital. “A crise de 2008 não afetou o empreendimento”, garante o arquiteto.

Enquanto aguarda autorização do Ibama, o grupo já pediu autorização para construir na outra margem da estrada. “Serão mais 100 unidades na região”. O grupo tem mais projetos para o litoral norte potiguar, afirma Antônio. O Jacumã Beach Resort, anunciado para 2010, também estaria para ser retomado, segundo fontes ligados ao setor. A equipe de reportagem tentou entrar em contato com o investidor responsável pelo resort para confirmar a informação, mas foi informada que ele também estava fora do Brasil e que ninguém mais podia falar.

De acordo com Soares Júnior, ex-secretário municipal de Turismo e consultor na área, vários investidores interessados em construir resorts tem visitado o Rio Grande do Norte nos últimos meses. As visitas são pontuais, mas podem sinalizar um movimento generalizado. “As grandes redes hoteleiras também têm reavaliado o mercado potiguar”. As nacionalidades variam – norte-americanos, ingleses, espanhóis. O interesse, porém, é um só: construir resort no litoral. A razão? “O segmento de alto luxo foi pouco afetado com a crise”, afirma Soares Júnior, que presta consultoria para os investidores.

Segundo ele, em setembro, pelo menos quatro grandes grupos estiveram no RN e demonstraram interesse em retomar projetos. “A crise  mundo afora está grande, mas a classe A (que frequenta resorts e aceita pagar mais por hospedagem) não sofre tanto impacto”. Na próxima semana, estão previstas mais duas visitas: um grupo norte-americano e outro chinês, interessados em empreendimentos turísticos de alto luxo. A Secretaria Estadual de Turismo também tem sido procurada por investidores estrangeiros. Alheio a toda esta movimentação, o jovem Liedson Aleixo, aguarda a foto com Beckham e, quem sabe, os empregos e o desenvolvimento anunciados, há quase quatro anos.

Empreendimentos trazem esperança de novos empregos

A retomada de antigos projetos e a execução de novos reaquece a economia local e gera mais empregos com carteira assinada. O Natal Ocean Clube Resort e Spa, em Maxaranguape, por exemplo, empregou cerca de 120 trabalhadores locais. Com a paralisação, só restou um: Francisco Canindé dos Santos Sena, 54, o herói da resistência. Antigo encarregado da obra, seu Mimim, como é mais conhecido, lembra bem do canteiro repleto de trabalhadores. Colegas, que antes de serem recrutados para trabalhar na construção civil, pescavam.

Seu Mimim também pesca, mas só nas horas vagas. Também fiscaliza os garis no município, e explica que em Maxaranguape, quem não é servidor municipal tem que trabalhar para si. “Criei oito filhos só pescando”, exemplifica. Crescidos, os filhos tiravam que pescar empregos.

À primeira vista, o corte de 120 empregos pode parecer insignificante. Seu Mimim garante que não o é. Ele perdeu as contas de quantos homens batem a porta do resort inacabado todos os dias em busca de trabalho. “Depois que as obras pararam, muita gente ficou sem emprego. Tem gente passando necessidade. É difícil conseguir emprego aqui”, justifica seu Mimim.

Em Maxaranguape, a construção civil criou centenas de empregos. O auge foi 2007, quando 375 postos de trabalho com carteira assinada foram criados. Depois disso, a crise afastou investidores, frustou planos e o saldo de empregos caiu. Em 2010, foram criados apenas 26. Antes disso, o número de postos criados não passou de 1, provavelmente o de seu Mimim.

Setor deve se expandir na região até 2014

Levantamento divulgado pela BSH Travel Research, divisão estatística da BSH International, em junho de 2011, revela que a região Nordeste deve ganhar 52 resorts até 2014. Dos 68 novos hotéis previstos para a região nos próximos três anos, 77% se encaixa neste conceito, que conta com maior número de quartos e gera mais emprego.

Segundo o diagnóstico, cerca de 198 hotéis devem abrir até o final de 2014, totalizando 46.296 apartamentos, R$ 7,3 bilhões em investimentos e geração de 31.729 empregos diretos. As regiões que concentram mais projetos são a Sudeste (38% do total), com predomínio de estabelecimentos de categoria econômica, e Nordeste (34% ou 68 de 198), com maior concentração de resorts.

Se considerado o volume de investimentos e total de quartos, o Nordeste assume a liderança. Como sete em cada dez hotéis planejados para a região são resorts, o volume de investimento chega a R$ 4,1 bilhões – mais da metade das aplicações totais, e 25 mil dormitórios. No Sudeste, onde a maior parte das plantas são da categoria econômica – menores e mais simples –, os investimentos somam R$ 2,1 bilhões e 12,9 mil novos quartos.

A maior parte das inaugurações deve ocorrer entre 2011 e 2013. Juntos, os projetos de categorias Econômica (39%) e Midscale (22%) representam 61% do total. Na sequência aparecem Resort (20%), Superior (10%), Supereconômico (7%) e Upscale (3%), como explica José Ernesto Marino Neto, presidente e fundador da BSH International.  Para ele, a Copa do Mundo é um fator determinante para a concentração de inaugurações.

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