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Respirar

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Rubens Lemos Filho

O alvinegro respira  no êxtase  dos glorificados. Dos apaixonados, dos platônicos, dos felizes, dos esperançosos. É uma sensação de renascimento. O sujeito  tropeça, quebra a unha do dedão do pé direito e agradece ao calçamento. Desde sábado, repete-se o toque de Wallyson, de uma frieza matadora, de uma naturalidade dos latifundiários de marca de pênalti.

A vitória sobre o Treze alegrou das Rocas ao Soledade Dois, do Tirol(ah!, o Tirol do meu tempo!) aos edifícios chiques da Ladeira do Sol, das Quintas profundas aos becos labirínticos do Alecrim. Da Ribeira a Mirassol.

A Frasqueira, (o abecedista) é  invisível em sua multidão. Um sabor coletivo e popular de cachaça com tripa assada, de cardápios nobres, de naco de charque em qualquer vitória. Uma massa que desperta à menor das alegrias.

Não que os 2×0 sobre o Treze tenham representado uma vitória qualquer. O ABC precisava sobreviver. Ouvi depoimentos ofegantes quando repórter de quem escapou de afogamentos. O brilho do sol, o despertar do boca-a-boca, poderiam anteceder nova palmada do ginecologista. Vida recomeçando.  O ABC saiu da morte à beira da praia.

O ABC perdeu nove vezes e , no seu ideário irracional, é a morte vezes noventa. É a humilhação de quem não paga a feira para comprar o ingresso caro. Imune aos desaforos da patroa pela escolha da arquibancada. Quem não sentou em arquibancada, no calor de peladas ou clássicos, não terá vivido em esplendor. Vale mais do que um passeio por Veneza.

Mantida, pelo redator, a opinião sobre Wallyson – exagero na tietagem – temperada, porém, por uma quase certeza: veio do ventre materno para jogar no ABC, do jeito que Deus encomendou e despachou Alberi para nascer ao sal das marés do Pina, em Pernambuco e de lá sair para vestir uma camisa em preto e branco e dominar um povo. Alberi só perdeu um pouco o cartaz ao jogar no América. O Negão estava na dele, profissional, mas lá no íntimo dos remanescentes de seus recitais, há mágoas.

Tudo muito bom, tudo muito bem. Ocorre que o ABC precisa fazer muito  mais. Ganhar do Confiança de Sergipe no Frasqueirão. O público vai chegar aos 15 mil, fácil, fácil. O ABC, lembrai-vos todos, está na Série C, lutando para ficar. É o terceiro escalão do paupérrimo futebol nacional. Acontece que, no peito dos apaixonados, vai para escanteio a esquiva razão.
O gol
Não foram menos de 100 visualizações(minhas) do gol bizarro, bisonho, ridículo que eliminou o América. Kaíke, o autor, teria ganho elogios internacionais se jogasse na Jacuipense. Aproveitou com perfeição o lançamento do beque adversário. O que houve? Falta de técnica, de mínimo fundamento. Mas que não deu para decifrar, não deu.
Everton
É um senhor goleiro, o do América. E de casa. Não deve continuar por aqui, para o bem do seu futuro. Elástico, imponente, corajoso.
Marginais
São marginais os que vestiram fantasias com vestígios da simbologia do América para impor o terror em terras baianas. Marginais.  Não sei se é o caso do América, mas alguns clubes morrem de medo desses covardes que se matam. De um lado e de outro.

Falhou
O América falhou no quesito segurança. Falhou mesmo. Subestimou a bandidagem. Era para ter levado uma equipe de dez homens, cinco, no mínimo. Soube que havia um pobre policial com uma pistola, sozinho, na invasão do vestiário.

Prenúncio
Quando ouvi que um ônibus havia sido interceptado pela PM baiana na estrada e nele, encontrado drogas, pressenti o pior. Esse pessoal vai a estádio para brigar, tumultuar. Tanto no América quanto no ABC. Quanto no país inteiro. Reparem no jeito que torcem. Há(mínimas) exceções.
Solidariedade
Irrestrita ao narrador Marcos Lopes e ao repórter Dionísio Outeda, o Gringo, da 98 FM, que passaram maus momentos. A covardia se alimenta da vantagem numérica. Quando a Tropa de Choque desce o sarrafo, todos viram o que são: farrapos desmoralizados. Os “meninos”do Choque são o remédio infalível contra essa malta.
Empate em 1982
Reclamavam do futebol local em 1982, mas diante de hoje, era um banho da francesa de Jacqueline  Bisset na propaganda do sabonete Lux de Luxo. A meninada delirava. No dia 10 de julho, cinco dias depois da traumática eliminação do Brasil para a Itália, na Copa do Mundo, ABC e América empatavam em 1×1 no Castelão(depois Machadão), pela Taça Cidade do Natal, disputada em três turnos e sem vinculação com o Campeonato Estadual.
Como foi
Numa noite de sábado, o ABC abriu o placar com Marinho Apolônio aos 39 minutos do primeiro tempo e Severinho empatou aos 22 do segundo. Público de 6.615 torcedores com Aldemir Cândido no apito.

Os times

O ABC: Zé Luiz; Dão, Pirulito(Joel), Sérgio Nunes e Escada; Arié, Jadir e Alberi(Pernambuco); Tinho, Marinho Apolônio e Soares. América: Caetano; Ivan Silva, Lúcio Sábia, Dick e Saraiva(Jaílson); Baltasar, Didi Duarte e Júnior(Gilson Lopes); Curió, Tulica e Severinho. No domingo, a Itália se sagraria tricampeã mundial batendo a Alemanha por 3×1.
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