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“Resultado não foi surpresa”

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EDUCAÇÃO - Ana Cristina Medeiros diz que faltou mais atenção às escolas

Ajuda. Foi isso o que pediu a secretária estadual de Educação, Ana Cristina Medeiros, diante dos resultados negativos do Rio Grande do Norte no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Ajuda de políticos, pais, professores e alunos para que os problemas que colocaram o Estado nas últimas colocações da avaliação possam ser superados. “Precisamos todos parar (para chegar a uma solução), vereadores, deputados, senadores, prefeitos, mas também a população”, defendeu a secretária.

Segundo ela, o resultado não foi surpresa. “Qualquer um que acompanhe sabe que a educação no Brasil não vai bem.” Porém esse seria o primeiro passo para se tomar uma medida: olhar de frente o problema. Nesse sentido, a secretária afirmou que todos os segmentos sociais devem não só discutir, mas também cobrar melhorias no ensino oferecido aos potiguares. “Pequenas cidade tiveram notas boas, vamos verificar o que elas estão fazendo. Já aprendemos embaixo de um pé de planta, até de pés descalços. Por que não se aprende em uma sala de aula?” questionou.

No entender da gestora, os pais deixaram de acompanhar de perto o que acontece nas escolas, enquanto os professores vieram perdendo, ao longo do tempo, o valor que lhes era atribuído pela comunidade. “A gente chega a um resultado como esse porque não se deu a atenção devida à escola e isso também é culpa de cada cidadão. Começamos a achar que o fato de nossos filhos estarem matriculados era suficiente. Não é suficiente. É preciso uma escola de qualidade, onde mais do que estarem guardados, protegidos, estejam aprendendo.”

Ela avalia como grave a questão da baixa qualidade da educação no Rio Grande do Norte, mas defende que não é possível continuar apenas cobrando investimentos. “Vamos deixar de lado o corporativismo. De só querer o máximo de salário, o máximo de professores, com o maior tempo livre. Vamos otimizar nossos recursos.” Ana Cristina criticou, por exemplo, o fato de aulas que deveriam durar 50 minutos, tomarem somente 20 a 30, com professores e alunos desestimulados.

Disse também reconhecer que o “Estado tem um papel decisivo na educação e não apenas com relação à rede estadual.” Porém, fez questão de citar que as principais ações deverão ser no sentido de fazer funcionar os conselhos escolares e atrair as famílias e a sociedade para junto dos colégios. Ana Cristina destacou ainda iniciativas com vistas à redução do analfabetismo na escola e entre os maiores de 15 anos, bem como a ampliação do Ensino Médio.

“A totalidade dos governos reconhece os problemas. Não é só o governo estadual. O federal e os municipais também. A Educação passou a ser problema de todos. Acredito que os próximos resultados sejam melhores, pois ninguém vai querer ficar nessa situação, nem professor, nem aluno, nem pais”, afirmou, concluindo: “A Secretaria de Educação quer mostrar que ajudou, que deu sua contribuição, esse é o meu papel.” 

Memória

A secretária municipal de Educação, Justina Iva, defendeu ontem, na Câmara Municipal, a criação de um fórum permanente de discussões sobre o ensino. “Temos de entender o porquê desse desempenho que se repete”, enfatizou. Ela considerou positiva a posição do Município no ranking das capitais, 18º, mas reconheceu que está longe do ideal. “Não estamos satisfeitos”, resumiu.

Justina admitiu que não haverá reversão do quadro sem melhoria do financiamento, porém lembrou que o Estado conta com uma per capita (repasses dos fundos nacionais divididos por alunos) acima da média dos demais. “Receita é importante, mas não é determinante.” A mesma observação foi feita com relação aos salários dos professores, já que o município de Acari, que obteve a melhor nota no Ideb, pagaria aos seus docentes metade dos valores com que trabalham os educadores natalenses.

Outro presente à audiência foi o deputado federal Rogério Marinho, que destacou: “Esse índice nos coloca em uma situação constrangedora, mas não será com ações pirotécnicas que vamos resolver.” Ele disse ter contabilizado, somente no Orçamento Federal para 2007, mais de R$ 7 bilhões em recursos que serão retirados da Educação através da Desvinculação de Receitas da União (DRU) e lembrou que a melhoria do financiamento para o setor é essencial. 

Sinte sugere elaboração de um plano

A coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do RN (Sinte- RN), Fátima Cardoso acredita que a educação no Estado só vai melhorar quando a secretaria elaborar um plano específico. Ela falou com a TN sobre o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Qual sua opinião sobre o resultado dessa pesquisa?

Mais um exame que é feito e outro resultado negativo. Isso não é mais uma novidade. O problema da educação no Rio Grande do Norte não é de hoje. Isso já vem se arrastando desde a década de 90m, quando o país queria melhorar a aparência para o resto do mundo, e passou a se preocupar mais com a quantidade, que com a qualidade da educação. Enquanto estiver desse jeito, os resultados serão esses.

Qual a conseqüência disso a longo prazo?

Se continuar assim, teremos um país que não acompanha o desenvolvimento do mundo. Nesse caso estaríamos entre os piores países do mundo. Isso serve para o RN também.

Qual seria a solução para esse problema?

O problema do Rio Grande do Norte é que não existe um plano estadual d educação. O currículo que seguimos é tradicional, da década de 60. Um currículo verticalizado, que não vale mais. A solução é investir em três pilares: educação como prioridade, plano estadual de educação e escola dos alunos para os alunos. A educação como prioridade se faz com investimentos em infra-estrutura das escolas e em equipamentos modernos, qualificação dos profissionais e melhorias nos salários. Outro ponto é fazer uma escola para os alunos. Os estudantes hoje não se sentem parte da escola, se sentem pouco a vontade. E o outro pilar é a elaboração de um plano de educação, debatido democraticamente entre a secretaria e os profissionais da educação.

O Sinte já sugeriu isso ao Governo?

Estamos enviando um documento fazendo uma avaliação geral da situação da educação no Estado. É preciso que haja um debate, mas se a discussão não for acolhido pelos gestores públicos, não adianta nada.

Justina defende criação de fórum permanente

A secretária municipal de Educação, Justina Iva, defendeu ontem, na Câmara Municipal, a criação de um fórum permanente de discussões sobre o ensino. “Temos de entender o porquê desse desempenho que se repete”, enfatizou. Ela considerou positiva a posição do Município no ranking das capitais, 18º, mas reconheceu que está longe do ideal. “Não estamos satisfeitos”, resumiu.

Justina admitiu que não haverá reversão do quadro sem melhoria do financiamento, porém lembrou que o Estado conta com uma per capita (repasses dos fundos nacionais divididos por alunos) acima da média dos demais. “Receita é importante, mas não é determinante.” A mesma observação foi feita com relação aos salários dos professores, já que o município de Acari, que obteve a melhor nota no Ideb, pagaria aos seus docentes metade dos valores com que trabalham os educadores natalenses.

Outro presente à audiência foi o deputado federal Rogério Marinho, que destacou: “Esse índice nos coloca em uma situação constrangedora, mas não será com ações pirotécnicas que vamos resolver.” Ele disse ter contabilizado, somente no Orçamento Federal para 2007, mais de R$ 7 bilhões em recursos que serão retirados da Educação através da Desvinculação de Receitas da União (DRU) e lembrou que a melhoria do financiamento para o setor é essencial

Bate Papo

Arnon de Andrade – Dep. de Educação da UFRN

Como o senhor avalia os resultados do RN no Ideb?

O Brasil obteve uma média de 3,8 em 10, portanto a média nacional já é, em si, muito baixa. Um 2,6 em uma média nacional de 3,8 não é de se estranhar. Mas a gente precisa ver que é preciso fazer esse tipo de avaliação, para descobrir e atacar as diversas causas, não ficar só no quantitativo e no uso político-partidário. E esse é um resultado que reflete mais de 400 anos de desprezo com a educação, não vai mudar de uma hora para a outra.

E quais as principais razões que levaram a isso?

Temos problemas com formação de professores, problemas com o salário desses professores. Temos professores que trabalham três turnos para ganhar um salário que seja digno. Temos escolas caindo aos pedaços. Temos um déficit de qualidade, mas também de quantidade dos professores. Temos um número enorme de problemas na educação e a gente precisa ter a disposição de lutar para que as políticas não sejam políticas de governo, mas de Estado. E que a gente possa, de fato, promover modificações. Enquanto isso, devemos encarar esses dados lembrando que não é o diagnóstico que mata o doente, é a doença.

A qualificação dos docentes ainda é insuficiente?

É insuficiente. Começamos o trabalho do PróBásica (para formação de professores da Educação Básica) há 10 anos, quando se dizia que o Estado tinha mais de 7 mil professores sem formação superior. De lá para cá formamos por volta de uns 4 mil, ou seja, uns 3 mil deixaram de ser formados. Muitos também já se aposentaram, sem serem substituídos em um processo contínuo de formação. Algumas prefeituras fizeram convênios com entidades de qualidade discutível, apenas com interesse de jogar metade dos custos em cima dos

alunos.

O fato do Ideb retratar os péssimos resultados logo nas primeiras séries comprova a má qualidade da Educação Infantil?

Temos problemas sérios com a Educação Infantil. Ninguém queria a Educação Infantil até que o Fundeb resolvesse financiar também a Educação Infantil. Quando os recursos apareceram, os municípios começaram a se interessar.

E o Fundeb, é um avanço?

Acho que é um instrumento de transformação das políticas de governo em políticas de Estado. Pois terá financiamento garantido, que não será contigenciável, com fim e origem específicos.

Saiba mais

1 – O resultado do Ideb não surpreendeu a vice-diretora da Escola Estadual Padre Miguelinho. Para Larrúbia Tavares os baixos índices do Estado refletem a defasagem da educação no RN, que ocorre porque a política educacional estadual e brasileira está mais preocupada com a quantidade de alunos, e não com a qualidade do aprendizado. “O Governo quer números. Os alunos chegam ao ensino médio sem saber ler de verdade.

2 – De acordo com ela, o problema está na educação básica. “os alunos não são incentivados à leitura desde pequenos. Como então podemos querer que tenham o hábito depois”, disse. A recomendação da escola pública é que podemos usar todos os recursos possíveis para a aprovação do aluno. “O quadro de professores é defasado. Cerca de 50% são estagiários. Não há investimento na educação”.

3 – A professora de história Zilene Lacerda concorda que o resultado da pesquisa não é uma surpresa. “Não agüento mais essas teorias da educação. Não existem investimentos. Tem muita coisa errada na educação desse Estado”, disse. Para ela o problema é que mesmo com médias baixíssimas $(em torno de 3,5 na disciplina de história), os alunos do Padre Miguelinho, por exemplo, têm todos os recursos para a aprovação. .

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