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Retoque na auto-estima

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Tádzio França
Repórter

Os jovens estão recorrendo cada vez mais à cirurgia plástica para mudar algo no corpo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o número de procedimentos em adolescentes de 13 a 18 anos aumentou 56% entre 2009 e 2014, faixa etária correspondente a 5,7% das cirurgias feitas no país. Uma tendência que só aumenta, e acende discussões acaloradas entre pais e médicos. As motivações que levam às cirurgias entre adolescentes geralmente interligam saúde, auto-estima, e afirmação. A análise da cada caso é essencial para indivíduos cujo corpo e personalidade ainda estão em formação.
Na visão da cirurgiã Valéria Karlla, é tênue a linha entre estética e reparação quando o assunto é cirurgia plástica
Na visão da cirurgiã Valéria Karlla, é tênue a linha entre estética e reparação quando o assunto é cirurgia plástica

Para a cirurgiã plástica Valéria Karlla, todo o procedimento deve ser pensado com bom senso e equilíbrio. “O incômodo com o corpo deve partir do próprio jovem. Os pais devem notar se há alguma mudança de comportamento, de hábitos, que justifiquem a cirurgia. Há detalhes sensíveis que eles podem e devem observar”, afirma. Ela ressalta que antes de tudo é preciso ter consciência que o corpo do jovem está em formação, e que procedimentos mais agressivos devem ser evitados.

Limites

A cirurgiã confirma que de 12 anos para cá tem recebido cada vez mais solicitações de adolescentes à procura de algum tipo de procedimento. Entre os meninos, muito nariz (rinoplastia), orelha de abano (otoplastia), e em casos mais específicos, por ginecomastia (aumento da glândula mamária masculina). E para as meninas, além de nariz e orelha, há as cirurgias de mama, que durante muito tempo eram relacionadas apenas à diminuição do peito, e agora, também  incluem o aumento com implante de prótese.

Valéria ressalta que há limitações variadas para cada cirurgia, condicionadas a idade e biotipo. A otoplastia já pode ser realizada a partir dos seis anos de idade, já que o pavilhão auricular já está até 90% desenvolvido nesse tempo. Cirurgias faciais como as de nariz, queixo, mandíbulas e maxilares devem aguardar o crescimento ósseo completo, já que pode haver modificações futuras nos resultados. “Eu levo em consideração o biotipo de algumas pessoas. Há meninas de 12 anos que já são mulherões. Quando opero um nariz, por exemplo, analiso toda a estrutura facial”, diz. Cirurgias de nariz são aconselhadas a partir dos 16 anos.

Ajuste de medidas

A cirurgia de mama, uma das mais recorrentes entre meninas no consultório de Valéria, só pode ser realizada dos 15 anos de idade em diante, e dois anos após a primeira menstruação. É preciso levar em consideração que tipo de problema a condição está causando. Em caso de mamas muito desenvolvidas, observa-se se a situação compromete a respiração ou causa danos à coluna. E, claro, há também o elemento da auto-estima, uma questão bastante delicada quando se pensa em adolescentes, sempre obcecados em serem aceitos e bem vistos por seus grupos.

Os pedidos para aumento de mama são os que mais preocupam a cirurgiã. “É preciso ressaltar que não existe prótese definitiva. Todas vêm com 10 anos de garantia contra defeitos de fabricação. A cada 10 anos precisa fazer um exame de controle. Imagine uma menina que pôs prótese aos 16 anos, quantas vezes ela vai ter que trocar essas próteses ao longo da vida? Será que vale a pena fazer isso tão jovem?”, questiona. Valéria também se preocupa com o aumento de pedidos por lipoaspiração. Só pode ser feita após os 18 anos, mas é dolorosa, requer muitos cuidados pós-operatórios, pede maturidade física, e também psicológica.

Mama masculina

A cirurgia de mama chega ao público masculino em casos de ginecomastia. Acontece em cerca de 50% dos adolescentes durante o período de crescimento. Geralmente é temporária, regredindo espontaneamente por volta de dois anos após ter surgido. Se não desaparecer até os 18 anos, recomenda-se a cirurgia. “Meninos com ginecomastia sofrem com a aceitação própria e com o bullying dos outros”, diz Valéria. Mas há uma faceta mais perigosa: por ser um tecido mamário fora da posição correta, pode acarretar um tumor no futuro. Portanto, a cirurgia também é redutora de risco.

Na visão de Valéria, é tênue a linha entre estética e reparação quando o assunto é cirurgia plástica. “Há mulheres com uma mama maior que a outra, ou adolescentes de 17 anos com mamas flácidas que não condizem com sua idade cronológica. São questões de saúde, mas que também envolvem a aparência e o bem estar pessoal. Não é mera questão de vaidade para algumas pessoas”, analisa.

O lado “psicóloga” da cirurgiã também precisa estar sempre alerta – principalmente em casos em que ela considera haver certa pressa e exagero. “É muito difícil fazer com que as pessoas mudem de ideia. Tento convencer a esperar um pouco mais, para amadurecer a pele, o rosto, etc. Depois converso só com os pais, depois só com o jovem…é uma questão de sensibilidade. É quase um trabalho de psicólogo. A cirurgia também lida muito com comportamento, e eu gosto disso”, afirma. 

Mães e filhas

Não é raro haver muito da projeção dos pais na decisão da cirurgia para o adolescente. A filha da funcionária pública Maria Isabel da Costa fez uma cirurgia de redução de mamas em janeiro deste ano, aos 17 anos de idade. “Quando ela entrou na adolescência os seios foram crescendo para além do normal. E de certa forma, isso é uma herança genética minha, mas não tive condições de reduzir quando tinha a idade dela. Portanto, essa cirurgia também foi um sonho que compartilhei com ela. Foi um presente”, diz.

Maria Isabel conta que a filha costumava esconder que se sentia incomodada pelos seios desproporcionais. “Ela só confessou quando perguntei. Mas quando decidimos, ela foi superconsciente. Estudou tudo que podia sobre o assunto, estava bem informada”, conta. A postura da filha, que deseja cursar medicina, está ajudando bastante na recuperação de 90 dias do pós operatório. “Moramos em Açu, mas vamos semanalmente a Natal para fazer o acompanhamento. Sem reclamar de nada. Estamos radiantes”, declara.

A filha de 16 anos da bancária Débora Viana também teve que passar pela redução mamária. Além de se sentir “diferente” das amigas – um dos maiores medos adolescentes -, ela também passou a se queixar de dores na coluna. A garota de 1,53m sentia-se incomodada com os seios desproporcionais e sentiu a necessidade de fazer a cirurgia. “Protelei um pouco até ela ter a certeza de que estava pronta. Foi algo bem pensado e estudado”, afirma.

Segundo Débora, um dos maiores problemas para a filha era o momento de comprar roupa. “As roupas que ela queria não costumavam ficar bem, e era sempre uma frustração. Isso bateu forte na auto-estima dela. Não se sentia à vontade para usar um biquíni, uma blusa, e até um vestido. Ficava com raiva, chorava. Isso é terrível para uma adolescente”, conta. A cirurgia foi feira em dezembro do ano passado. Apesar de lidar com certo desconforto e as dores esperadas, a menina está bastante contente com o resultado. “Ela tem agora outra visão. Apesar de ainda estar em recuperação, não para de tirar fotos. Acha até que emagreceu. Minha filha é outra pessoa depois da operação”, conclui.

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