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Revendo Talis Andrade

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Woden Madruga [[email protected]]

Na gaveta dos papéis desarrumados encontro uma carta de Talis Andrade. Talis, o poeta e jornalista, meio pernambucano meio natalense, nascido em Limoeiro, 1937. Viveu intensamente em Natal, idos de 1950, 1960, pedaços dos anos 70. Depois retornou para Recife, lá se vão quarenta e tantos anos. A última vez que nos vimos já passa do quinze. Aqui e acolá um telefonema, um bilhete, uma carta. Talis, que já publicou uns 13 livros de poemas, participou ativamente da vida literária de Natal naquelas décadas de 50 e 60, assumindo de mesmo o papel de agitador cultural da aldeia. Dirigiu o suplemento literário de A República (governo Dinarte Mariz) e depois dirigiu o próprio jornal (governo Cortez Pereira).

A carta está datada de março de 1995, escrita no Recife (datilografada com um P.S. manuscrito que o cristão sofre para entender a letra do poeta) em papel timbrado da TBT Publicidade (Ilha do Leite). Vamos lê-la:
“Woden, meu rei mago:
Uma eternidade nos separa. Mas, não podemos reclamar. Mesmo quando eu morava na sua casa, passavam dias, meses, e a gente não se via…
Finalmente, estou lhe mandando meu livro Herdeiros da Rosa, que pertence a uma fase intimamente natalense.
E sonho que a Companhia Editora do Rio Grande do Norte me deve este livro, porque o sistema off-7 da empresa foi comprado quando eu era o diretor responsável d’A República, na minha segunda passagem por Natal, sendo Cortez governador. Inclusive convoquei e presidi a comissão de concorrência, formada pelos diretores da Imprensa Oficial de Pernambuco, Parque Gráfico do Jornal do Commércio do Recife e Imprensa Universitária da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os membros da comissão não se conheciam e a votação foi unânime.
Feita a concorrência (insisti que fosse uma impressora com dobradores para livros), dei como terminada a minha missão em Natal.
Lá no prédio da velha República existe a placa de inauguração sem o meu nome, desde que a direção empresarial foi contra a minha iniciativa.
Os Herdeiros da Rosa é dedicado a dois potiguares que admiro: Ticiano e Ney, que deviam ser mais festejados pelo povo e autoridades. Não são homenageados como merecem porque pessoas de humildade de santo, apesar da beleza dos deuses.
Bem, você, Veríssimo, Luís Carlos e o gordo Sanderson estão intimados a promoverem a impressão do livro.
Escrevi para o Sanderson: “Queria que você e/ou Luís Carlos fizesse (m) o prefácio… com motivação para escrever a história da poesia do Rio Grande do Norte no período da estreia. Finalmente, outro pedido: E que a apresentação fosse escrita por Woden e/ou Veríssimo. Uma apresentação que servisse de pretexto para um relato sobre a Imprensa potiguar nos tempos do velo de ouro que antecedem a março de 64”
Sei que você anda velho, vivendo as corujadas de avô, mas ainda lhe imagino com aquela garra de antigamente.
Este amigo de sempre e todo seu,
Talis Andrade.
P.S. Queria ver se era possível reunir os amigos na 5ª Feira Santa, ou Domingo de Aleluia, na casa de Cláudio Marinho, em Ponta Negra (ele plantou nos jardins, cactos de sua fazenda). ”

O livro
Na verdade, o que Talis me mandou foram os originais de Os Herdeiros da Rosa. O livro mesmo somente seria editado onze anos depois (2006) pela Editora Livro Rápido, de Olinda.  Não saiu nem com o prefácio de Sanderson Negreiros e nem de Luís Carlos Guimarães, como era o desejo do poeta. Mas tem duas apresentações. A primeira, assinada por Veríssimo de Melo, como Talis queria, e a segunda da lavra de Francisco Fausto Paula de Medeiros.
Comparando agora os originais com o livro impresso constato algumas alterações.  A edição impressa, por exemplo, não traz o texto original que Talis escreveu apresentando o livro. Transcrevo-o, agora:
“Este livro foi iniciado após à morte de Berilo Wanderley e escrito nos plantões das redações do Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, no Recife. Finalmente concluído nas imediações da rua João Berckmans Marinho, Ponta Negra, em março de 1995. Acredito que retrata um pouco da boemia, do jornalismo e da poesia de Natal, no final da década de 50 e começos da de 60. T.A.”
Nas duas orelhas do livro impresso Talis transcreveu um Jornal de WM, da Tribuna do Norte de 11 de agosto de 2004, com o título de “Talis e os Herdeiros da Rosa”.

O Cisne Flutuante
A apresentação de Veríssimo de Melo para Os Herdeiros a Rosa tem o título de “O Cisne Flutuante”. Começa assim:
“Numa tarde solarenga – década de cinquenta – Talis Andrade embiocou na redação do jornal A República, em Natal. Na sua magreza e adolescente em flor, um sorriso à Gioconda, quase flutuava como cisne em lago azul. Vinha assumir o cargo de revisor de provas. Foi o começo de sua atividade na imprensa natalense. Logo se afirmaria como jovem de suave e ameno trato no convívio com os seus camaradas de redação. Fez depois crônicas, reportagens, notícias diversas. Nos intervalos de suas tarefas profissionais, Talis despertava para a poesia. Cometia os seus primeiros poeminhas. Mas, já então demonstrava um talento fora do comum.
De repente – puf! – Talis desapareceu da cidade. Por onde anda Talis Andrade? – perguntavam. Soube-se depois que emigrara para Recife, onde continuou a fazer jornalismo e praticar seu esporte favorito: uma boêmia tranquila e infinita. ”

Poesia “Todas às vezes / que vejo Bruna / salivo como um cão / lascivo de Pavlov // Todas às vezes / que vejo / a foto nua de Bruna / uivo como um cão / uiva para a lua”. De Talis Andrade no seu poema Uivo, no livro Herdeiros da Rosa.

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