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Revista da Cidade

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Agosto marcou bem o momento literário por estas aldeias potiguares, houve o Festival Literário da Praia de Pipa e logo depois a Feira do Livro de Mossoró. Na mesma trilha, lançamentos de livros em Natal. Vários. Na grande maioria autores papa-jerimuns. Ensaístas, poetas, cronistas, ficcionistas. Entre estes livros o de Gustavo Sobral, Berilo Wanderley – O cronista da cidade, incluído na coleção Presença, projeto da 8 Editora em parceria com o Caravela Selo Cultural.  Já andei falando sobre o livro por este canto da TN, onde surgiu o cronista BW que já era poeta e assumia a bancada da sadia boemia natalense. Depois seria promotor de justiça e professor universitário, sem que as novas funções o tirassem do jornalismo. Nem da boa boemia.

Entramos na Tribuna do Norte no mesmo ano: 1956. Lá se vão 60 anos. Eu acabava de fazer 19 anos de idade, Berilo chegando aos 21. Tínhamos terminado de servir o Exército, soldados da mesma Companhia do 16º Regimento de Infantaria. Estudávamos Direito. Antes de chegar a TN e ser soldado eu já tinha tido uma passada pelo Diário de Natal, que foi a minha primeira redação, 1953/54. A da Tribuna foi a primeira de Berilo.

Gustavo Sobral, escreve:

– Conjugando poesia e boemia, foi Berilo Wanderley um vivente de Natal muito antes de atuar na “Revista da Cidade”, estreando na ‘Tribuna do Norte’, em 1956. Ia para substituir, numa coluna que mantinha com o título de “Revista da Cidade”, o jovem estudante de Direito e cronista social Woden Madruga de viagem marcada para Maceió/AL. Ali desfilavam casamentos, batizados, noivados, aniversários, chegadas e partidas, a conversa diária, os famosos ‘fait divers’, precursores do que seria a crônica moderna do Rio Grande do Norte. Berilo seguiu à risca o conteúdo proposto para a coluna, mas foi modificando-o aos poucos, foram saindo os batizados, os casamentos, as notinhas e foram chegando os comentários sobre livros e cinema. O cinema era uma paixão. Em torno de Berilo Wanderley, bê-dábliu (B.W.), como assinava ao final de cada crônica, é que viviam os cineclubistas, os aficionados por cinema que se reunião em associações. 

A revista muda de tom
Berilo Wanderley começou a assinar a Revista da Cidade no dia 8 de novembro de 1956. Eu passava para Tribuna Social e continuava repórter cumprindo a pauta determinada por Waldemar Araújo, secretário da redação Uma coisa que poucos sabem: quem me inventou “cronista social” foi Aluízio Alves, numa das tantas reuniões da casa para “modernizar” o jornal por ele fundado. Como eu já era da noite e frequentava os bailes do Aero Clube, sabia das coisas. Aluízio, achava que sim.

No livro, Gustavo Sobral publica a crônica de estreia de Berilo, sua primeira assinatura sob a coluna, 8 de novembro de 1956, uma quinta-feira, com o título “A revista da cidade muda de tom”. Vai na íntegra:
“A Revista da Cidade vai mudar, a partir de hoje, de dono e de tom. Woden Madruga, cronista social que fazia nesse campo a resenha das festas e coquetéis da cidade, viajou de malas arrumadas para a Tribuna Social. E de agora, passa a ser nosso vizinho da esquerda.

A Revista da Cidade assumirá, assim, um caráter menos festivo. Ela, de agora em diante, não rescenderá a cervejas e espumantes e sorrisos alegres de aniversários familiares. De agora em diante, ela será exclusivamente, a revista da cidade, noticiando o que ela apresente mesmo dentro de sua paisagem festiva, embora distante dos bailes e das sociais do soçaite.

Nela, a partir de hoje, o leitor encontrará notícias dos cinemas da cidade, dos teatros da cidade, enfim todas as coisas que fujam aos domínios dos “chanéis” do grand mond festivo (com a devida vênia aos Ibrahins potiguares).
Ao lado de todas estas notas, estaremos com a nossa crônica de duas colunas, falando de tudo, onde naturalmente, uma vez por outra, podem entrar os tais sorrisos alegres e as cervejas e espumantes. Porque, afinal de contas, eles não são patrimônio exclusivo dos cronistas sociais. E também somos filhos de Deus. B.W.”

A história da coluna
Gustavo Sobral conta a história da coluna, de como ela surgiu nas páginas da TN que, aqui e acolá, às vezes, mudando o jeito do título. Vejamos:

“(…) Conta a história (há controvérsias) que Zila Mamede foi a primeira ocupante da “Revista da Cidade”. Zila assinava uma coluna com o título “Aspecto da Cidade”, cujo tema era política e sociedade e foi aí onde começou a publicar os seus poemas, tudo por volta de 1951 e 1952. Depois veio Woden e definitivamente Berilo, substituído ocasionalmente por Paulo e Moacy.

Este Paulo e este Moacy são, respectivamente, os poetas Paulo de Tarso Correia de Melo e Moacy Cirne. Os dois assinavam uma mesma coluna, tendo sempre como motes o cinema e a literatura, gente do Cine Clube Tirol. Por aí. Naquela mesma época a redação da TN contava com a presença de um redator muito especial, também mais ou menos da mesma idade dessa patota: Geraldo José de Melo. Escrevia os artigos políticos. Não sei se imaginava ser governador do Estado. Foi.  O doutor Rômulo Wanderley, como eu o tratava, professor de História, advogado, pai de Berilo, assinava uma coluna diária que saia na última página com o título de Nota da Manhã.

A velha Ribeira dos anos 50.

O casamento
O livro, que é um ensaio biográfico, também registra o casamento de Berilo com Maria Emília, a sua grande paixão. Gustavo Sobral contra a história assim:

– Casaram em 1964 e com direito à festa no clube da Rampa. Nesse mesmo dia, Berilo seria preso por afrontar os militares em sua coluna, mas dona Maria Amélia, sua mãe, que tinha parentesco com o coronel, foi falar-lhe. Berilo disse: “Casei entre a cruz e a espada”. O casamento foi permitido, mas a lua de mel foi em prisão domiciliar. Woden noticiava: “Berilo Wanderley está casado. Foi ontem, no começo da noite. Ninguém sabia de nada. O rapaz esteve na redação como se fosse um dia normal. Não transpareceu nadinha mesmo. Saiu, pegou Maria Emília pelo braço e foi até a igreja. Casaram-se sob as bênçãos da igreja. Estão felizes. Vão ser felizes. BW está casado. É a grande notícia deste 5 de abril”.

No livro o leitor vai se deliciar também com a história de como Maria Emília e Berilo Wanderlei, acompanhados do poeta pernambucano Ascenso Ferreira, saindo do Granada Bar, foram se encontrar com Veríssimo de Melo em Maria Boa.
Pegue essa boa leitura.

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