O mais famoso baterista do mundo é o aniversariante do dia. Nasceu num 7 de julho de 1940 num dos bairros mais humildes da operária cidade de Liverpool. Uma biografia sua escrita por Michael Seth informa que Richard Starkey foi um bebê tranquilo e pouco chorão, apesar de entre agosto e novembro daquele 1940 o lugar ser alvo de 350 toneladas de bombas letais, 30 minas terrestres e 3 mil bombas incendiárias, matando cerca de 300 pessoas e ferindo milhares.
Ele entrou na puberdade no alvorecer dos anos 1950, numa Europa se refazendo dos prejuízos materiais e emocionais. Como a todos os meninos de Liverpool, o horizonte apontava um destino operário, um empreguinho de fábrica ou nas docas. O pós-guerra instalou uma melancolia nas nações, principalmente Inglaterra. Mas os adolescentes como Ringo buscaram no rádio uma fuga daquela vidinha sem graça. E o rádio tinha música, não só notícia.
Na programação, dois ritmos caíram no gosto da molecada, o doméstico skiffle e o norte-americano rock and roll. Não mais que de repente, Richie (logo seria Ringo) se interessou por washboard (as tábuas de lavar do blues e do jazz).
Até os 18 anos, o rapaz não tinha instrumento nenhum para treinar a percussão, que já era sua preferência. Atrasado em relação a outros garotos, ganhou um kit com um bumbo, uma caixa, um prato e duas singelas baquetas.
Em 1957, tocava em dois grupos que atuava nas noites de Liverpool, o Eddie Clayton Skiffle e o Rory Storm & The Hurricanes. Um ano antes, Elvis Presley gravou em compacto e depois no primeiro LP, a canção “Heartbreak Hotel”.
Num outro lado da cidade, dois jovens amigos se encantaram com aquela música do futuro rei do rock, um se chamava Paul e o outro George. O primeiro estava tentando incorporar o segundo à sua banda da escola, The Quarrymen.
Havia na canção de Elvis uma coisa diferente além da sua poderosa voz, um som de bateria que parecia uma epifania, principalmente para dois aprendizes que estavam despontando nas festinhas dos colégios e dos pequenos clubes.
Um era Ringo Starr, o outro era Pete Best. O primeiro chamava a atenção pelo par de olhos azuis um tanto melancólico, que comparado ao rosto bonito do segundo estabelecia situações bem opostas na atração das garotas do lugar.
O destino colocou ambos numa mesma aventura que logo conquistaria a Inglaterra, atravessaria os oceanos e encantaria o mundo até os dias atuais. Best foi o primeiro baterista da banda The Beatles e foi substituído por Ringo.
E o que é incrível nessa história é que ambos estabeleceram os alicerces do aprendizado da bateria na canção de Elvis, especificamente na maneira que o baterista D. J. Fontana acompanhava o novo cantor em “Heartbreak Hotel”.
As baquetas de Fontana foram essenciais para introduzir no rock o suingue do rockabilly e do blues. Foi a sua bateria, acompanhando o gingado da melodia de Elvis, que influenciou Ringo e Best, e Charlie Watts, dos Rolling Stones.
Tudo que veio depois, o fenômeno dos Beatles, a invasão do rock inglês nos EUA, a carreira vitoriosa de Ringo Starr, teve ali o berço da glória. Ringo é um monstro no que faz, ascendeu entre os três sócios erguendo a batera no palco.
Foi o primeiro baterista da história a conceber um tablado no fundo do palco a se destacar e não ser encoberto pelos amigos mais populares. Se o caçula George Harrison foi chamado de “beatle quieto”, Ringo foi o “beatle discreto”.
Tocou e ainda toca muito; e como pessoa teve a capacidade de se resgatar nas crises do álcool e das drogas, estabelecer resiliência e retomar o foco na música. Chega hoje aos 82 anos o totem mais velho da religião The Beatles.
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