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Rio Mossoró invade área periférica da cidade

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INVERNO - Com a cheia do Rio Mossoró, bairros foram alagados e as famílias tiveram de ser retiradas

Edilson Damasceno – Jornal de Fato

O nível do rio Mossoró está dois metros e trinta e três centímetros acima do normal. A água que vem do Oeste e Alto Oeste provocou inundações em áreas ribeirinhas, obrigando a Prefeitura Municipal a decretar situação de emergência. Cerca de 40 escolas públicas municipais estão servindo de abrigo para as famílias desabrigadas – que foram retiradas das áreas de riscos nos bairros Alto da Conceição, Ilha de Santa Luzia, Barrocas e Paredões.

A situação de emergência foi anunciada na manhã de ontem pela prefeita Fafá Rosado em virtude do uso de escolas e a estrutura da Gerência do Desenvolvimento Social para abrigar as famílias que necessitavam de ajuda. O secretário municipal de Serviços Urbanos, Trânsito e Transportes Públicos, Alex Moacir, afirma que desde a sexta-feira passada que as equipes da Defesa Civil trabalham.

Ontem algumas ruas próximas ao Centro amanheceram alagadas. A retirada das famílias, segundo Alex Moacir, foi iniciada ainda no domingo. O rio recebeu grande volume d’água da barragem de Santa Cruz e avançou. O estacionamento público localizado por trás do Banco do Nordeste ficou alagado.

No bairro Alto da Conceição, o rio transbordou e alagou quatro ruas e impedindo a passagem de veículos de pequeno porte. Casas e estabelecimentos comerciais foram invadidos. As ruas Romualdo Galvão e Flávio de Oliveira foram as mais afetadas. O nível da água, em algumas áreas, chegou à metade das casas.

Em Paredões, a cheia do rio provocou cenário idêntico. Do trecho compreendido entre rua Jerônimo Rosado, depois da Avenida Dix-neuf Rosado, nenhuma área ficou sem alagamento. O quadro mais crítico, contudo, ocorreu na rua Marechal Floriano, onde a água subiu calçadas e entrou em algumas casas.

No bairro Barrocas, as famílias ribeirinhas foram acordadas com a água entrando em casa. É o caso de Francisca Luzia de Souza, 70, moradora da rua Marechal Deodoro. “Acordei com a água já dentro de casa, às 5h da manhã”, afirma a mulher. Ela recebeu ajuda de vizinhos e levou os móveis para um quarto localizado na rua Tibério Burlamaque.

Ainda na Rua Marechal Deodoro, o rio Mossoró  atravessou a rua no trecho que dá acesso à localidade rural de Passagem de Pedras. O Canal que foi construído na década de 90 para escoar água que vinha do residencial Thermas, encheu e teve efeito contrário: a água do rio Mossoró estava sendo desviada para o outro lado da rua, ameaçando famílias que moram de frente ao rio. O espaço da Renovação Carismática Cristã (RCC) e uma vacaria, localizados também na rua Marechal Deodoro, ficaram alagados.

Problema ficou grave desde o domingo

O caos que se instalou nas áreas ribeirinhas de Mossoró foi acentuado no domingo, quando o rio ficou com dois metros e trinta e seis centímetros acima do normal. O secretário Alex Moacir afirma que precisou pedir ajuda ao Pelotão de Trânsito (PELTRAN) para que a Defesa Civil pudesse trabalhar na retirada das famílias que estavam ameaçadas pela cheia.

“Como a água do rio estava tomando conta das ruas, grupos de curiosos se formaram para observar e isso dificultou o nosso serviço e tivemos que pedir ajuda ao Peltran”, comenta o secretário, acrescentando que em situação como essa, espera que a população contribua. “Esperamos a contribuição da população, que não fique só olhando e venha nos ajudar”, diz.

Apesar da situação de emergência, Alex Moacir enfatiza que a situação está sob controle. “A prefeita decretou situação de emergência porque as escolas precisavam ser ocupadas pelas famílias, mas não existe calamidade”, afirma.

O secretário ainda afirma que o maior problema enfrentado pela Defesa Civil diz respeito à posição das famílias que moram em áreas de risco, que querem sair apenas quando a água estiver invadindo as casas. “Sem dúvida, nosso maior problema são as pessoas que querem sair de suas casas somente quando a água estiver dentro de casa.”

Secretário pede calma à população

Apesar do avanço do rio nas áreas periféricas e alguns pontos do centro, o secretário Alex Moacir diz que não há motivos para a população entrar em pânico. Segundo ele, notícias de que o açude Apanha-Peixe, em Caraúbas, iria romper, têm provocado preocupação e temor às famílias.

Alex Moacir frisa que a Defesa Civil tem mantido contato permanente com outras cidades da região acerca da quantidade de água que vem para Mossoró. No caso específico da barragem de Santa Cruz, diz que o volume de sangria já baixou. “Estamos esperando que não chegue mais água”, comenta, acrescentando que tudo está sendo monitorado para evitar surpresas.

Caso haja volume de sangria dos reservatórios, o secretário afirma que não causará tantos problemas em Mossoró mais do que se causou. “Ainda tem muita gente para retirar das áreas de riscos, mas estamos intensificando esse trabalho e, se houver mais avanço do rio, teremos poucas pessoas para retirar”, diz.

O secretário reconhece, contudo, que, caso se registre chuvas intensas no Oeste e os reservatórios voltem à sangrar com um volume grande, algumas áreas do centro podem ser inundadas. Ele cita o caso da rua Jerônimo Rosado, onde a água do rio chegou à calçada da oficina da Secretaria de Transportes Públicos.

Espetáculo das águas leva milhares de pessoas ao Seridó

Roberto Fontes – Especial para a TN

 Pra começo de conversa, faltou pastel em Tangará. Sexta-feira, 4 de abril, a exemplo de centenas de conterrâneos do Seridó, peguei minha mulher e os dois filhos e viajei pra conferir a sangria dos açudes e barragens da região. Parei em Tangará – como quase todo mundo que vai naquela direção – e descobri que a peregrinação das águas tinha começado logo cedo. O estoque de pastéis do Veneza estava no fim, devorado certamente pelos conterrâneos que passaram por lá antes de mim.

A minha decisão de viajar foi tomada na véspera, com a notícia ansiosamente aguardada da sangria do açude Itans, em Caicó. Acompanhei a narração da Rádio Rural, gota a gota, via internet. Às 12h24, a água ultrapassou os limites do primeiro sangradouro. A minha euforia se revelou num grito: “sangrou”. João e Bia, meus filhos de 2 e 4 anos, não entenderam nada. Liguei pra todos os conhecidos da lista avisando que o Itans, depois de quatro anos, sangrou de novo.

Só quem nasceu e foi criado no semi-árido, dividindo a angústia provocada pela seca com os pais, irmãos, avós e amigos, tem a exata dimensão do que representa uma invernada boa como a deste ano. A sangria dos açudes e barragens no Seridó e nas demais regiões do semi-árido significa fartura na produção agrícola e babugem pro gado pelo resto do ano. A água, antes escassa, agora é patrimônio acumulado em milhões de metros cúbicos nos vários reservatórios da região.

O nosso circuito das águas começou em Acari. O Gargalheiras, deslumbrante. Fazendo uma analogia com os oceanos, é o Mediterrâneo do Seridó, com seu charme e beleza. Lá degustamos um peixe frito ao som das águas que desciam pelo rio Acauã, observando jovens kamikases que se atiram nas águas da barragem a poucos metros da sangria, desafiando a correnteza. Seguimos por Cruzeta pra ver o açude público. Antes de Caicó, uma parada rápida pra observar o açude São Bernardo, ao lado da pista.

A sangria do São Bernardo vai para o rio Seridó, que nos recepciona na chegada a Caicó. Como nos tempos de menino, o rio estava de barreira a barreira. Barrento. Veloz. O Barra Nova, do outro lado da cidade, também. A euforia do povo de Caicó com o Itans e os dois rios cheios é igual ou superior à de uma Festa de Sant’Ana. O Itans, considerado o Atlântico do Seridó, atrai romarias à sua parede. O fervor do povo com sua sangria é quase religioso. Emociona.

Ainda deu tempo de ver a segunda lavada da Barragem das Carnaúbas, construída em 2002. Parece um véu de noiva. No pé da parede a água desce com força e massageia os banhistas. Tomar banho naquela sangria não tem preço. Domingo, voltamos pra Natal passando por Parelhas. Vimos outra procissão no rumo do Boqueirão, a maior barragem da região, o Pacífico do Seridó. Missa e festa pra comemorar a cheia. O espetáculo das águas de março, por enquanto, é deslumbrante. Mas abril está apenas começando.

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