Por Lauro Lisboa Garcia
Janeiro em São Paulo, como se sabe, é aquela água. Quem precisa ficar na cidade e se interessa por boa música, no entanto, de uns anos para cá tem sido contemplado com algo além de enchente, suor e tédio, apesar dos benefícios do trânsito livre. A partir de hoje, três eventos reúnem expoentes do jazz instrumental, do samba-rock, do ska, do dub e outros gêneros, com programação extensa até o fim do mês. A sensacional Banda Mantiqueira inicia hoje o projeto Noites de Jazz no Sesc Santana. No mesmo horário, às 21 horas, o Sesc Pompéia recebe outro refinado grupo de música instrumental, De Puro Guapos, para abrir com tango de primeira linha a segunda edição do projeto + Sons de Uma Noite de Verão. A partir de terça-feira, em dois horários, o Centro Cultural Banco do Brasil mostra um panorama do samba-rock com o escolado Clube do Balanço, que vai receber convidados a cada semana.
No Rio de Janeiro, começa hoje a 13ª edição do vitorioso projeto Humaitá pra Peixe, aberto a novas tendências e talentos. No Guarujá, a partir do dia 13, na Praia de Pernambuco, algumas bandas mais populares do pop-rock nacional, como O Rappa e Skank, estarão animando o pôr-do-sol, todos os sábados até o dia 10 de fevereiro.
Na Bahia, entre os dias 24 e 28, tem o Festival de Verão de Salvador. Além das atrações de praxe da axé music e do pop nacional, tem como quitute internacional este ano o cantor e compositor americano Ben Harper. Vai ser o show de encerramento de sua turnê nacional, que começa por Porto Alegre no dia 18, e tem duas apresentações em São Paulo, na Via Funchal, nos dias 22 e 23.
Big Bands – Reunindo big bands veteranas e suas sucessoras, o Sesc Santana monta um expressivo painel da música brasileira relacionada ao jazz – a bossa nova, naturalmente, incluída. “A idéia era realizar os shows em ordem cronológica, pelo histórico de cada grupo, mas isso se tornou inviável por conta da agenda de cada um”, diz Nilson Nilu, diretor de Programação e idealizador do projeto Noites com Jazz. “Quis trazer bandas consagradas no meio musical, procurando mesclar com grupos que, embora sem um histórico tão longo, já tenham uma certa legitimidade”, explica. Entre os grupos veteranos, o mais longevo é a Traditional Jazz Band, criada em 1964 no meio universitário. De estilo mais ligado ao primitivo dixieland, que está na gênese do jazz, a banda, no entanto, procura recriá-lo com acento próprio. Outro que já tem um respeitável legado é o grupo Pau Brasil, criado em 1979, e que reúne ninguém menos do que Nelson Ayres (piano), Paulo Belinatti (violão), Rodolfo Stroeter (baixo), Teco Cardoso (sax) e Ricardo Moska (bateria).
Na levada do samba, os cariocas do Garrafieiras recebem a cantora Nilze Carvalho na semana que vem. O dub nacional está bem representado pelo baiano Lucas Santtana e seu grupo Seleção Natural, autores de um dos melhores CDs de 2006, “3 Sessions in a Greenhouse”, Marcelinho da Lua e o DigitalDubs. Tem ainda a estréia do novo projeto de Marcelo Yuka (ex-O Rappa), ao lado do exímio produtor Appolo 9. Além da bem-vinda presença dos brasilienses dos Móveis Coloniais de Acaju, a programação de ska encerra o festival com uma atração internacional, os americanos Piestasters. Samba-Rock – O guitarrista e cantor Marco Mattoli é um dos mais resistentes e confiáveis cultivadores do samba-rock, atuando por sua permanência muito além dos surtos de revival. Na liderança do Clube do Balanço, Mattoli será o mestre-de-cerimônias do projeto Samba-Rock e Outros Enredos, que vai receber um convidado a cada semana, com o objetivo de contar a história do gênero, dividindo a programação por temas.
No primeiro show, o Clube receberá Marku Ribas e Luís Vagner na terça-feira, para mostrar As Origens do Samba-Rock. Os temas versam sobre a raiz do samba paulista (tendo Osvaldinho da Cuíca como convidado), as novas tendências e a tradição dos grandes bailes negros de São Paulo, com o samba-rock no centro da questão. Como bem lembra Mattoli, samba-rock “é mais do que um estilo musical, é uma forma de dança dos bailes negros da periferia de São Paulo, desde os anos 60, com pitadas de samba no pé, gafieira, salsa e rock”. Irresistível.
A ampla oferta de diversões é o grande trunfo do Festival de Verão de Salvador, que chega à nona edição com um dia a menos (o domingo foi descartado desta vez), mas com expressivo sucesso de público. Os organizadores esperam receber mais de 200 mil pessoas durante as quatro noite de festival, que também procura investir em campanhas de cunho social. A melhoria da qualidade de ensino é o mote deste ano.
O maior atrativo ainda rola em torno da axé music e das bandas mais populares de pop-rock nacional, que passam pelo palco principal. Mas este ano tem também a boa música do astro californiano Ben Harper. Carlinhos Brown, que fez um dos melhores shows do evento em 2006 no palco Tendências, desta vez volta à grande área.
O palco alternativo sempre revela boas surpresas, como a noitada de rock, batizada de Canjão, que reuniu 32 bandas locais no ano passado. Desta vez, o espaço será tomado pelos shows-ensaios como os que os grupos ligados ao carnaval fazem para testar a reação do público para novas composições. Esses shows terão como convidadas bandas de pop, rock e reggae da Bahia.
Visando ao público jovem, há uma área com pista de música eletrônica, cinema, feira de moda alternativa, outra tenda com samba e pagode e até uma arena de esportes radicais. Ali amadores e profissionais podem praticar manobras, piruetas e dar shows de tombos e derrapadas, com supervisão de instrutores. É bem mais divertido do que ver pela enésima vez o mesmo show do Rappa ou das gritalhonas do axé com seu manjado bordão “sai do chão, Salvadoooor…”