Ney Lopes
Advogado, jornalista e ex-deputado federal
A corrida sucessória no governo do Rio Grande do Norte é tão enigmática, quanto à disputa presidencial e nem os candidatos estão definidos.
As pesquisas revelam apatia, letargia e absoluta descrença do eleitor na classe política. Ninguém sabe quem poderá ganhar, ou perder.
Os partidos PMDB, DEM, PT e PSDB, tidos como principais protagonistas do processo eleitoral estadual, apresentam perfis de esfacelamento de imagens, por sofrerem o impacto de acusações contra as suas lideranças locais e nacionais.
A tendência é que a eleição gire em torno de pessoas e não de ideias, propostas, ou partidos. Sem dúvida, péssimo prognóstico para um Estado atingido por violenta crise econômica, política e ética.
Alguma medida há que ser tomada para evitar que o processo eleitoral se transforme simplesmente num “salve-se quem puder”.
Ainda é tempo para a mobilização do Rio Grande do Norte, por iniciativa de partidos ou entidades idôneas, em torno da elaboração de uma “pauta de prioridades e soluções possíveis”, a ser debatida na pré-campanha deste ano, sem rodeios, sofismas, ou manipulações.
O povo precisa conhecer a realidade nua e crua do Estado e ter a consciência, por antecipação, da necessidade de aplicação de medidas saneadoras, por aqueles que ganhem a eleição.
Quem “anunciar saco de bondades” e não falar linguagem realista estará mentindo e aprofundando o abismo do descrédito da classe política.
Nessa “pauta” estariam questões fundamentais para o futuro do Estado, tais como, unificação do orçamento público; nos casos de atrasos no pagamento de vencimentos e obrigações gerais, a adoção de critérios de distribuição justa e proporcional dos ônus entre as categorias, para evitar que uns sejam mais atingidos que outros; os rumos da UERN; política de geração de empregos e identificação de “talentos”, que proporcione inovações; erradicação gradativa da violência; privatizações; polo exportador e turístico no Grande Natal (área de livre comércio), em função da posição geográfica privilegiada do estado; estímulo à formação de consórcios de municípios nas áreas da saúde e educação, com a participação de Universidades e centros de ensino, como meio de extensão e treinamento; proporcionalidade na liberação dos duodécimos; desburocratização de órgãos públicos; racionalização, treinamento e incentivos à melhoria do serviço público; proposição de “leis temporárias”, que assegurem soluções com prazo certo de vigência; reciprocidade entre o Estado e a iniciativa privada, regulando as concessões de isenções fiscais e incentivos, com obrigações mútuas e metas pré-definidas.
O debate prévio dessa “pauta” asseguraria a governabilidade democrática, em razão da sobrecarga das demandas sociais e a falta de condições políticas e econômicas para atendê-las.
Os candidatos precisam dizer na campanha como agirão, se eleitos e evitarem promessas evasivas.
Como fazer, de que forma, com que recursos e em que prazo, são algumas das indagações do eleitor em desespero.
Se não forem respondidas a contento, o “voto nulo” e as “abstenções” poderão ser os vitoriosos da eleição.
Diante de tamanha desilusão coletiva e a gravidade da crise, a eleição de outubro no RN corre o risco de transformar-se em inevitável “tudo ou nada”, sem rumos, com a porta aberta para o populismo.
Para evitar esse desastre coletivo, não haverá espaço para “meias” soluções, ou meio termo, no debate eleitoral.
Os aspirantes a mandatos eletivos terão que demonstrar firmeza e segurança de propósitos, convergindo para uma “pauta de prioridades e soluções possíveis”, em cuja definição seja obedecido o aforisma bíblico do Apocalipse: “Seja quente ou seja frio; não seja morno, que eu te vomito”.