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Dácio Galvão
Mestre em Literatura Comparada, doutor em Literatura e Memória Cultural/UFRN e secretário de Cultura de Natal
Início da semana passada teve o show celebrativo de Caetano Veloso. Comemoração dos seus 80 anos. Espetáculo revigorante para todos nós viventes céticos do futuro. O cenário fixava o numeral oito deitado na horizontal -o zero em posição convencional- sugerindo eterna circularidade do infinito. Ou da Vida! Na ribalta o DNA familiar. Os filhos e a irmã. Festa baiana brasílica. Entidade e identidade fundidas no personagem numa embalagem de tom neorromântico. Exceção para as músicas Meu Coco e Terceira Margem do Rio. Ambas, singulares miríades imagéticas do Brasil. Entre elas os exercícios elegíacos para genialidades: João Gilberto e Guimarães Rosa. O sentimento construtivo nesses cantares é regido por uma inteligentíssima racionalidade textual. Coincidência ou não sugerindo simbólica convergência interiorana. Em Juazeiro na Bahia, a Terra das Carrancas, nasceu João. Em Cordisburgo, Minas Gerais, a Cidade do Coração, nasceu Rosa. A comemoração se encerra num sutil entoar dionisíaco. Foi dançado um Samba de Roda. Mergulho musical típico de Santo Amaro da Purificação, cidade onde os irmãos -Cae e Bethânia- protagonistas nasceram. Só pulsação de Vida!
No decorrer da mesma semana ganhamos mais um presente. E não foi antecipação do Dia dos Pais. Aliás a autora dos textos curiosamente viveu toda a vida na casa paterna. Bem que poderia ter relação com a efeméride comercial estimuladora do consumo banal. Mas, na verdade não tem nenhuma. Nem a prenda autografada veio de um dos meus filhos. Foi iniciativa carinhosa do amigo Cid Campos, compositor de músicas e tratamentos sonoros experimentais. Justamente o autor e cantor de canções que canalizam densos poemas de Dickinson. Todos revelados e vertidos em tradução-arte por Augusto de Campos, seu pai-parceiro.   
Felizmente há facilidades no streaming para acessar e escutar García Lorca, Fernando Pessoa, e.e. cummings, fragmentos de James Joyce… plêiade de escritores nacionais…  Adoro ouvir o disco-livro “Emily” disponibilizado em plataformas digitais. São 13 poemas cantados e recitados da escritora nascida em Amherst, Massachusetts com roupagem de gêneros em arranjos diversos. Fortemente presente a inconfundível marca criativa da dupla Campos! 
Os poemas estão impressos nesta segunda edição do ‘Não sou Ninguém” de Emily Dickson. Livro composto de seletânea revista e amplificada por Augusto. Tem pérolas lapidadas: “Paz -muita vez- fui encontrar / Quando essa Paz era negada- / Náufrago -a Terra vislumbrada- / Eu – no Centro do Mar. / Lutar ao léu – para provar / – incrédulo de viagens / Que as Praias são miragens – / E os Portos, Ar -.” Foram escritas no século XIX e se reafirmam no atual contexto. É claro que tendo opções para ler ou para cantá-las o ganho obviamente cresce. A possibilidade de oralizá-las em certo ambiente sonoro proporciona para a poética textual um campo intangível de ressignificação. Linguagem sobre linguagem. O verbal e a imagem acústica faturando múltiplos sentidos. Provocando projetando e inovando a sensibilidade de cada sujeito. Que venha mais semanas assim. Um respiro fundo!
* Artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor
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