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RN ainda consome mais lenha que outra fonte de energia

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ENERGIA - A lenha ainda é  o principal combustível utilizado no Estado

Qualquer administrador sabe: é quase impossível pensar em planejamento sem conhecer a situação atual do que se quer planejar. No entanto, foram necessários 25 anos para o Rio Grande do Norte voltar ter disponível um mapeamento dos recursos energéticos do estado, intitulado Balanço Energético do Rio Grande do Norte 2006. O estudo, que deverá ser lançado pelo governo estadual ainda este mês, mostra cenários que deverão ser determinantes na maneira como população e empresas potiguares vão consumir energia nos próximos anos. Entre eles, o destaque para a lenha, que é o combustível mais utilizado no RN, superando eletricidade e derivados de petróleo.

O último levantamento deste tipo foi realizado em 1982. Desde então, quaisquer ações que envolviam energia eram baseadas em estimativas ou em estudos não oficiais. Patrocinada pela Petrobras, executada através de um trabalho coordenado pela USP e com participação da UFRN, a pesquisa tem como ano-base 2005, mas traz dados a partir de 2000. Eles comprovam, por exemplo, que, quando se fala em oferta, o maior peso é do petróleo, que, em 2005, representava 45,2% da energia disponível no estado. Por outro lado, dão evidência a um produto que está longe de ser uma vedete no mercado de energia: a lenha, que responde por 25,4% do consumo no estado, sendo o combustível mais usado entre indústrias e residências. Ela fica à frente do óleo diesel, cuja participação, concentrada no setor de transportes, é de 18,6%. Cálculos do coordenador do Grupo de Estudos Energéticos (Green) da UFRN, João Hélio Gomes, que integrou a equipe de pesquisadores, mostram que são consumidas cerca de um milhão de toneladas de madeira anualmente no RN.

Desmatamento e, consequentemente, desertificação, são problemas que tornam preocupantes o uso excessivo da lenha. Uma das áreas mais atingidas no estado é a Região do Seridó. Mas o presidente da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó (Adese), Francisco Galvão Freire, diz que já é possível comemorar alguns avanços em relação aos maiores focos de queima de lenha, o setor ceramista. De acordo com o Balanço Energético, as fábricas de cerâmica respondem por 32,1% do consumo de madeira entre as indústrias. Freire explica que, embora a legislação ambiental federal determine o reflorestamento, isso não acontece, por isso o diálogo e a conscientização tornam-se caminhos mais eficazes. “Se esperarmos que o órgão público dê conta de fiscalizar isso, o meio ambiente vai estar devastado antes de ele conseguir chegar lá”, desabafa.

O governo também quer convencer quem usa lenha de que é preciso cuidar melhor desta fonte. Para o titular da Secretaria Extraordinária de Energia (SEE), Tibúrcio Batista, a madeira não pode ser descartada da matriz energética do estado, mas deve ser usada de forma mais racional. Para isso, será necessário disponibilizar orientação técnica para as indústrias – o formato do forno, por exemplo, influi no aproveitamento da lenha para queima – e programas que reduzam o uso da madeira nas residências. Francisco Freire cita a iniciativa governamental Luz para Todos, que leva energia a baixo custo para comunidades rurais, como uma das alternativas.

“Consumo de lenha deve ser mais estimulado”

Vice-presidente da Federação das Indústrias (Fiern) e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Thiago Gadelha Simas tem um interesse especial pelo uso da lenha como combustível no Rio Grande do Norte. Entusiasta da idéia de que o estado precisa produzir mais madeira para consumo das indústrias, ele anuncia que, ainda este mês, o governo estadual e a Fiern deverão lançar um projeto de reflorestamento para o RN. O entusiasmo de Gadelha com esta fonte de energia é antiga: ele é um dos proprietários da fábrica de balas e confeitos Sams, que existe há 60 anos e, durante muito tempo, funcionou apenas à base de lenha.

TRIBUNA DO NORTE: O balanço energético mostrou que o RN ainda utiliza muita lenha. O que o senhor acha disso?

Thiago Gadelha: Graças a Deus se consome muita lenha! Porque a lenha não se acaba e é possível ter controle, diferente do petróleo, por exemplo. Temos reservas suficientes para nosso consumo. A lenha é três vezes mais barata que o gás natural e tem uma papel muito importante para o estado. É importante dizer que consumimos madeira e não as árvores, pois se extrai a lenha e deixa a planta, que volta a ficar como antes em sete ou oito anos. O que acaba com as árvores é o desmatamento, que arranca árvores para dar lugar a plantações.

Então o senhor acredita que o consumo de lenha é algo bom para o estado? Mesmo sendo poluente?

Sim. Temos que pensar no futuro. A lenha é um combustível barato, deve ser estimulado, principalmente para os produtos de valor agregado, que geram mais emprego e renda. A preocupação agora é que todo mundo que usa lenha tem que plantar árvore. É esta a consciência que está montada agora nos segmentos, nas cadeias produtivas. Em relação à poluição que ela causa, hoje é muito pequena porque já existe tecnologia suficiente para diminuir a emissão de gases poluentes. Além disso, se você está plantando árvores, como queremos que seja, há um equilíbrio.

Como seria possível este equilíbrio?

Ainda em abril estaremos concluindo um projeto de florestamento no estado, o governo, com a Fiern e o Idema. Esse projeto propõe que, além do manejo florestal que se faz hoje, retirando da mata nativa a madeira velha, as empresas consumidoras de lenha sejam estimuladas a plantarem árvores. Por exemplo, haverá uma quantidade de árvores a serem plantadas para um determinado volume de consumo de lenha. Assim, vamos ter reservas equivalentes ao consumo e as próximas gerações terão reservas ainda maiores.

Futuro traz promessas de auto-suficiência

Segundo o Balanço Energético, em 2005 o RN produziu três vezes mais energia do que consumiu. Isso porque a maior parte do petróleo extraído aqui é exportado e a energia elétrica usada pelos potiguares é importada. Mas este é um cenário que vai mudar até 2030, ano que fechou o intervalo analisado pelos pesquisadores para desenhar perspectivas para o setor energético nas próximas décadas.

Quando fala em futuro, o titular da Secretaria Extraordinária de Energia, Tibúrcio Batista, seleciona energia eólica, biodiesel e a termelétrica Termoaçu como pontos mais relevantes. Ele afirma que, se concretizados os projetos que o estado têm atraído, a auto-suficiência em energia será uma realidade em breve. No estudo que avalia as possibilidades da matriz energética até 2030, que também deverá ser apresentado este mês, é considerada ainda a energia elétrica gerada a partir do uso das águas de barragens como a Armando Ribeiro Gonçalves, em Assu, e até a polêmica energia nuclear.

Comentando sobre o biodiesel feito a partir de oleaginosas, Tibúrcio ressalta que o RN não precisa de usinas para se destacar nesta área. Para ele, a importância maior da produção desses combustível – que, ao lado do álcool é destaque no mercado internacional –  está na agricultura. “Precisamos usá-lo como mote para alavancar o setor agrícola”, diz o secretário, ressaltando que o estado pode não só produzir a matéria-prima, mas também agregar valor a ela para exportação.

Contudo, para o professor Pedro Hélio Gomes, da UFRN, há um passo importante a ser dado para que o progresso do setor energético não desande. Integrante da equipe que elaborou o Balanço, ele diz que é imprescindível que a secretaria que cuida disso no Estado evolua de extraordinária para definitiva. As sugestões acerca da pasta mereceram uma publicação especial no estudo: Proposta de arcabouço institucional para o setor energético do RN. João Hélio ressalta também que RN, São Paulo e Paraná são os únicos estados brasileiros a ter uma pesquisa como esta em mãos.

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