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RN precisa de novos mercados

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TURISMO - Sem turistas, hotéis têm que baixar preços das tarifas

Há tempos que as dificuldades enfrentadas no setor preocupam quem vive de turismo. Mas a divulgação de que o Rio Grande do Norte registrou queda de 6,3% no fluxo de turistas no primeiro semestre deste ano – sendo 21,5% somente entre os estrangeiros – acende uma luz amarela no caminho do estado: em nome do desenvolvimento da economia potiguar, é urgente que seja feito um planejamento estratégico a longo prazo e haja busca por novos pólos emissores.

Os dados mais recentes da Secretaria Estadual de Turismo (Setur) mostram que no primeiro semestre deste ano 734,1 mil turistas estiveram no estado, enquanto, no mesmo período de 2006, foram 783,8 mil. O maior impacto foi entre os estrangeiros, queda de 21,5%: 139,4 mil vieram ao RN no primeiro semestre do ano passado; este ano foram 109,3 mil. Visitantes brasileiros eram 624,8 mil este ano, contra 644,3 mil de 2006, registrando uma queda de 3,03%.

O titular da Setur admite que o turismo está em alerta: “é preciso buscar novos mercados”, reconhece. Ele se refere a países como Holanda, Alemanha e Inglaterra, onde o estado ainda não é tão popular como na Espanha e na Itália. Ele explica que o governo está procurando esses pólos, mas o trabalho é mais lento, porque os custos de divulgação nesses países são mais altos. Para ele, a ausência do estado nesses mercados é um dos motivos da queda no fluxo de turistas, mas o problema do câmbio, as taxas aeroportuárias (que não são cobradas em outros destinos, como Caribe) e a crise aérea também contribuem.

O presidente da representação estadual da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH RN), Enrico Fermi, diz que concorda que o contexto não é dos mais favoráveis e também fala dos novos mercados como uma necessidade urgente. “Além de manter os mercados já conquistados, temos que crescer com os novos”, destaca, “nós poderíamos estar em melhor situação agora”. Mas Fermi aponta a falta de vôos charters como um dos problemas mais graves para o estado. “A quantidade de vôos vem declinando desde 2005 e eles são imprescindíveis para alavancar o turismo”, diz Fermi, explicando que, a partir de um bom movimento em um vôo charter, uma companhia aérea pode instalar uma linha regular, como a TAP fez do trajeto Natal-Lisboa (Portugal).

Apesar dessas dificuldades, Fermi acredita que a alta estação, que se inicia este mês, não repetirá os maus resultados que o setor vem colecionando. “Há uma demanda represada nesses últimos dois anos, não acredito que teremos mais um ano ruim, mas não podemos esquecer que ainda temos muito o que fazer”. De seu lado, os empresários têm que se movimentar como podem para driblar os problemas. O grupo argentino Louzada fechou parceria com a agência de turismo Potiguar, que, ao negociar descontos com hotéis da Via Costeira, conseguiu preços competitivos o bastante para viabilizar um vôo semanal entre Córdoba e Natal, de janeiro ao início de abril, com 230 turistas por viagem. No ano passado, essa linha funcionava de janeiro a março com 160 passageiros.

Planejamento a longo prazo é essencial ao setor

O consultor Paulo Galdenzi trabalha com turismo desde 1973 na Bahia, estado que é referência nacional em planejamento estratégico para o turismo. Diretamente ligado à gestão do setor no governo baiano, Galdenzi diz que “o planejamento só se concretiza se houver uma definição política de ele ser executado, de haver uma persistência na sua execução”. Para ele, não é necessário apenas construir o plano, mas também garantir sua execução ao longo dos anos – e das gestões. 

O consultor ressalta que a base de qualquer planejamento é o conjunto de dados que fazem um retrato do setor – indicadores de ocupação, renda quantidade de leitos e infra-estrutura são alguns dos itens. “Somente com isso, com a análise desse material, é possível planejar o trabalho de marketing, capacitação, proteção ambiental e tudo o mais que o turismo exige”.

Segundo o secretário estadual de Turismo, Fernando Fernandes, esse assunto está sendo tratado dentroo Conselho Estadual de Turismo (Conetur), que não tinha reuniões desde agosto do ano passado e foi retomado em abril.

A forma como o planejamento será feito ainda está em discussão – se será contratata uma consultoria ou se profissionais das entidades ligadas ao conselho farão o trabalho. Contudo ele destaca que o levantamento do número de leitos e quantidade de empresas da área turística já está sendo providenciado. Uma das comissões está fechando um formulário para fazer uma espécie de “censão”, que vai recolher informações de empresas potiguares para o turismo, indústria e comércio – o objetivo desta “união” é cortar custos para o Estado. A coleta de dados deverá começar dentro de 30 dias e ser encerrada no primeiro trimestre de 2008.

Entrevista
Jan Von Bahr: Jan Von: “Esperávamos muito mais do país”

Embora seja sueco, Jan von Bahr tem 30 anos de trabalho com turismo no Brasil – dez deles no Nordeste. Uma bagagem que lhe permite afirmar: a região ainda não entendeu que o turismo é sua principal vocação e deve ser prioridade máxima. À frente do único empreendimento do grupo espanhol Serhs no Brasil, o Serhs Natal Grand Hotel, ele diz que a capital potiguar ainda não rendeu o que os investidores esperavam. Mas nem todas as esperanças esteão  perdidas. O grupo Serviços Hoteleiros e Similares (Serhs) ainda tem planos de montar aqui uma central de prestação de serviços para a hotelaria. Para isso, além das condições precisarem ficar mais favoráveis, o mercado ainda precisa amadurecer. Na Espanha, onde já está consolidado, o Serhs atua em várias áreas diferentes, com 86 empresas diferentes de diversos segmentos, como distribuição e logística, alimentos, bebidas, produtos de limpeza, agência de viagens – recebendo dentro da Espanha 1,5 milhão de turistas por ano -, hotéis Serhs – 10 pelo mundo – produção e gestão de alimentos e serviços de tecnologia.

Como o grupo avalia o desempenho do hotel até agora?
Foi bom. Eu só acho que, infelizmente, nós entramos em uma fase em que a política econômica do país estava muito ruim. Boa para certos segmentos, mas para o turismo foi péssima. Quando nós projetamos esse hotel, quando ele foi construído, o euro estava a R$ 3,80 e o dólar a R$ 2,60. Hoje estamos falando de R$ 2,64 e R$ 1,82, aproximadamente – a situação está muito diferente. Quando o hotel foi pensado e gerado, se imaginava que 70% do fluxo de turistas seriam europeus e 30% seriam mercado brasileiro. O Brasil era barato para o turismo internacional e para o empresário também era muito interessante. Tanto que, se você olhar, a maioria dos hotéis que tinham nível mais elevado na época trabalhavam com turismo europeu. Essa situação se reverteu. O turismo nacional é maior do que o internacional. Mas você tem um outro fator: com o dólar baixo, a tendência do brasileiro é ir para fora. Além disso, tem o aumento dos navios de cruzeiro, fazendo surgir uma tendência de perda clientes de resorts para os navios. De 2005 pra cá, muitos hotéis abriram e o turismo não acompanhou, decresceu ao invés de crescer. Então, se você me pergunta o resultado, eu digo que a gente esperava muito mais do país. Mas, devido à política econômica da tendência de queda da moeda estrangeira, o turismo é prejudicado tanto interno quanto externo. Assim, não conseguimos realizar o que esperávamos nos dois primeiros anos.

Quando o senhor fala em realizar quer dizer em faturamento ou em novos investimentos?
Na verdade, estávamos esperando uma ocupação em torno de 55%, 60% e, na realidade, esses anos tem ficado abaixo de 50%, mais perto de 45%. Então, o turismo, em geral, está caído.

Esse desempenho abaixo do esperado coibiu novos investimentos?
Eu diria que até um ponto sim, mas não diretamente. Esse hotel foi construído 100% com recursos próprios, dos sócios do grupo, que tem uma cooperativa com cerca de 1,4 mil sócios. Então, de princípio, nos primeiros dois, três anos, queremos ver um retorno desse investimento, para daí definir novos investimentos. Nesse momento não planejamos expansão até que a gente tenha um retorno que consideremos razoável.

Mas há um vídeo institucional do Governo do Estado em que um representante do Serhs fala que o grupo tem planos de mais investimentos para o RN.
Nós temos, mas cada coisa tem que vir na hora certa. Nesse momento, se você me perguntar: tem outro projeto? Não temos. Mas temos intenções de expandir, uma expansão natural. Aqui na cidade nós somos donos de uma fábrica do lado do aeroporto, a antiga Sperb, com 30 mil metros quadrados de área construída sobre um terreno de mais ou menos 260 mil metros quadrados. Ela foi comprada basicamente com intenção de futuramente ter a possibilidade de fazer uma central de distribuição de serviços hoteleiros. Na Espanha, funciona assim: os donos dos hotéis nos contratam para fornecer produtos (cerveja, carne, frutas, verduras, produtos de limpeza, etc). Fornecemos até os softwares que controlam quanto de comida o hotel precisa comprar por dia. Então qual era nossa idéia? Era fazer algo parecido. Claro que você não vai criar isso de um dia para o outro, mas usar a fábrica como um início para um serviço de hotéis. Nossa idéia é que a empresa cresça no Brasil na área de serviços, só que pra isso o mercado tem que estar preparado e acho que no Brasil ainda falta um pouco pra chegar a isso. A gente, aqui, está acostumado a se virar – eu digo isso porque trabalho há 30 anos no mercado de hotéis do Brasil – ter que se virar sozinho, não existe muito essa idéia de trabalhar com terceirizados.

Como reverter esse quadro em que o turismo não consegue se desenvolver?
Com promoção do turismo do estado e atenção ao que o governo federal vai fazer em relação ao câmbio. Paralelamente, acho que tem que haver uma conscientização maior por parte da sociedade em geral, não só da de Natal: a conscientização de que o turismo é vital para o Nordeste do país. Queira ou não queira, em qualquer área. Até a profissão de vocês (jornalistas): quanto mais turistas, mais você vende jornais, tira mais fotos. Seja o turista brasileiro ou estrangeiro. Quando ele vem, se faz mais corridas de táxis, mais vendas nos supermercados, no comércio… Mas ninguém pensa assim. Quando se fala em turismo se pensa só “nos hoteleiros”. Eu acho que existe uma falta de instrução por parte da sociedade em todo o Nordeste da importância que o turismo tem. Uma cidade como Natal tem um limite de quantidade de indústrias que ela pode ter. Não pode, por exemplo, trazer uma montadora de automóveis para cá, porque todas as grandes empresas de autopeças estão no sul. A tendência do Norte-Nordeste, Nordeste principalmente, é turismo e empresas relacionadas ao turismo, empresas de serviços. Por exemplo, eu sofri um acidente de carro, fui internado em um grande hospital daqui e, conversando com um os diretores, ele disse que o movimento caiu devido à queda no turismo. Em todos os segmentos o turismo está presente. E a gente tem uma mania de achar que não. Acho que nós temos que ter – e não estou falando só em nível de governo e prefeitura -, nós, a sociedade no Nordeste, temos que entender a importância que o turismo tem pra gente.

O senhor acha que a população tem uma visão equivocada do turismo?
A gente sente às vezes, embora eu não saiba se é um sentimento correto, uma certa aflição contra o turismo porque se pensa: “vieram tomar tudo o que é nosso”. Não é bem assim. Tem que entender que a preocupação tem que ser com o crescimento é controlado – poluição, água, meio ambiente. Por exemplo, vai ter crescimento imobiliário agora com grandes grupos, Sánchez e Nicolas Mateos. Para ter o crescimento que eles querem, tem que se criar infra-estrutura, que tem que haver uma consciência que não é só expandir para vender terreno e ganhar dinheiro, tem que dar condições. Do outro lado também. Para atrair o turista europeu para cá tem que ter infra-estrutura, controle do meio ambiente, segurança, enfim, uma série de fatores importantes.

Falta foco para o turismo, então?
Tem que se dar muito mais ênfase ao turismo. No Brasil, por ser um país tão grande, a gente cresce em muitas áreas diferentes. Cada estado quer ter seu turismo. Se você compara com outro país, por exemplo, o México, ele se concentra em dois destinos e todos os esforços são voltados para eles. Já aqui tem muitos destinos com pouca intensidade. A gente tem que fazer um trabalho maior. Claro que cada estado é do tamanho de um país, mas é preciso fazer um trabalho em conjunto. O crescimento tem que ser coordenado e organizado.

E quais são as tendências do turismo agora?
Acho que vamos ter duas grandes mudanças no turismo nos próximos anos: a classe média vai crescer e vai ter um potencial maior para viagens e o mercado internacional, com um pouquinho de mudança de mentalidade, cresce também.

Mesmo se a cotação do dólar continuar baixando?
Pode até manter o câmbio, mas tem que mudar o volume, porque a gente ganha menos dinheiro, mas compensa com maior volume de negócios. Pra isso, é preciso mais vôos, mais divulgação do Brasil lá fora. Hoje está duro a R$ 1,84, mas se eu tenho cinco dez vezes mais estrangeiros do que quando o dólar era mais de R$ 2,50, compensa. E, por exemplo, falamos de 15 a 20 vôos charters por semana. Sabe quantos vôos charters chega em Cancun por dia? 180 pousos por dia, dos quais, eu chutaria, por baixo, 60% são vôos charters. Imagina a magnitude do negócio. É uma diferença brutal. Aí, se você sabe que vai cobrar menos por pessoa, mas tem mais pessoas, aí dá pra sobreviver. E o Brasil tem que dar mais ênfase na aviação.

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