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RN se conforma em ter o seu crescimento travado

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Cassiano Arruda Câmara
Enquanto tenta sobreviver da voracidade de uma pandemia, que na virada do mês, já havia ceifado mais de 4.500 vidas humanas de norteriograndenses, e tinha destroçado sua economia, o nosso Rio Grande do Norte ainda precisa reunir forças para enfrentar, simultaneamente, na área da economia, um outro inimigo tão traiçoeiro e fulminante quanto o Covid-19.
Pois esse tal Covid-19, em poucos meses, conseguiu paralisar quase todas as nossas  principais expressões econômicas, resultantes de anos de trabalho, levando centenas de milhares de pessoas ao desemprego e destruindo uma organização voltada para a produção, resultante de muito tempo de investimento em recursos materiais, talento e esperança.
É a proibição de abrir mão do ponto mais dinâmico e promissor de sua economia, que está sendo congelado porque as condições excepcionais que nos levaram ao posto de maior produtor nacional de energia limpa estão sendo retirados do jogo porque a União não conseguiu fazer a sua parte ao deixar de cumprir sua obrigação de oferecer linhas de transmissão para levar a energia limpa do RN ao resto do Brasil.
A VEZ DA ENERGIA LIMPA
Com as atuais tecnologias, o potencial do uso da energia eólica é imenso e o mundo poderia trocar a era do petróleo pela era dos ventos como novo dínamo da economia e da sociedade. Para citar um caso: uma equipe de pesquisadores das universidades de Harvard (EUA) e Tsinghua (China), concluíram que todas as demandas de eletricidade da China, previstas para o ano de 2030, poderiam ser supridas utilizando unicamente a energia dos ventos. No gigante asiático, o crescimento recente tem sido exponencial já que a capacidade instalada de energia eólica chinesa que era de 764 megawatts (MW) no final de 2004 atingiu 20 mil MW em 2009. Uma lei aprovada recentemente obriga as empresas prestadoras de serviços públicos da China a comprar toda a energia produzida em parques de geração eólicos e por outras fontes renováveis.
No Brasil, o Atlas do Potencial Eólico (de 2001) estimou um potencial disponível de energia eólica (com torres de 50 metros) da ordem de 143 gigawatts (GW – 1 gigawatt equivale a mil megawatts) no país. Isto equivale a dez usinas de Itaipu. Os locais mais favoráveis para a exploração da energia eólica estão no Nordeste (especialmente no Rio Grande do Norte) e na região Sul. Em meados de dezembro de 2009, aconteceu o primeiro leilão de energia eólica no Brasil com a negociação para a construção e operação de 71 empreendimentos, com uma capacidade somada de 1.805 megawatts (MW).
O PESO DO RN
Nosso Rio Grande do Norte é o estado do Nordeste com maior potencial para abrigar projetos de energia eólica no país. Atualmente, o RN tem 164 usinas em operação, 19 em construção e outros 84 projetos contratados, em que as obras ainda não foram iniciadas e apresenta capacidade instalada para geração de 4.450 MW de energia.
Segundo a governadora Fátima Bezerra, o RN tem aumentado a sua capacidade, inclusive por meio de parcerias e continua liderando o ranking da produção eólica no Brasil.
Mas, se não houver uma pronta intervenção, o RN deixará de receber novos investimentos para a instalação de novas usinas eólicas e solares, devido a limitação das linhas de transmissão para escoamento da energia aqui produzida.
Pelas ordens de Brasília todos os novos investimentos no RN serão paralisados pelo prazo mínimo de dois anos, respeitando-se somente os empreendimentos já contratados.
CRESCIMENTO TRAVADO
O repórter Cláudio Oliveira, desta Tribuna, entrevistou a presidente da Abeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), Elbia Gannoum,  que repetiu a sentença: – O Rio Grande do Norte ficará fora dos próximos leilões de energia por um período mínimo de dois anos. O RN não tem mais espaço para escoar plenamente a produção de novos empreendimentos.
Sem margem para transmissão da energia produzida, além dos projetos de energia eólica, as iniciativas em energia solar também ficam travados. O consolo, segundo a presidente Elbia é que não haverá redução na atual capacidade do RN, “apenas os novos projetos serão direcionados para outras áreas onde existir margem de transmissão”.
O senador JP Prates, velho conhecedor da matéria, disse a Cláudio Oliveira que o problema “não decorre de inércia em planejar linhas ou construí-las, mas do excesso de projetos dm energia solar com baixa capacidade de realização que, no entanto, estão ocupando as reservas de uso das linhas de transmissão”.
ESTADO ACOMODADO
Em 2020, o Rio Grande do Norte fechou o ano com 25 grandes usinas solares fotovoltaicas contratadas, que somadas terão 943 MW de potência instalada, o que representa um aumento de 257% em números de empreendimentos e 210% de potência contratada em relação ao ano anterior.
Somente naquele ano, o RN conseguiu captar mais de R$ 2 bilhões em investimentos no setor solar, a serem implementados nos próximos três anos, com lugar garantido nas linhas de transmissão. – As usinas solares de grande porte são a sétima maior fonte de energia no Brasil com 3.1GW de potência instalada, o equivalente a 1.6 da matriz elétrica do país.
Mas não se escutou uma única voz de inconformismo dos governantes ou das lideranças estaduais. Como se fosse razoável parar tudo que mostra as razões que vem garantindo a liderança de um Estado, pelo prazo de dois anos, até que outros venham ocupar o seu lugar.
Será que o nosso RN tem medo de ser líder? Ou se incomoda com o fato de ter as melhores condições para receber os investimentos capazes de garantir o seu futuro? Mas, altruisticamente aceita abrir mão do cetro e coroa, porque lhe disseram que isso tem de ser feito, sem tentar outro caminho.
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