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Roberto Jefferson: “Procurador deixou tubarões de fora”

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IMPUNIDADE - Roberto Jefferson não acredita que exista possibilidade de impeachment contra Lula

Magno Martins e Natália Kozmhinsky – Agência Nordeste

BRASÍLIA – Conhecido como o homem-bomba, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) gostou do relatório apresentado pelo Ministério Público, que denunciou 40 envolvidos no escândalo do “mensalão”. Mas faz uma dura ressalva: para ele, faltaram os “tubarões” no texto do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. “Fico admirado com a pressão para cassar o (Professor) Luizinho (PT-SP) com R$ 20 mil e o José Mentor (PT-SP) com R$ 120 mil, se os ministros levaram 25 vezes mais, 10 vezes mais, que esses que estão sendo acusados”, afirma Jefferson, em entrevista exclusiva a Agência Nordeste. Entre os tubarões estaria o ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que segundo ele, foi beneficiado pelo caixa dois do empresário Marcos Valério com R$ 500 mil, recebidos pelo então tesoureiro de sua campanha, Márcio Lacerda, que depois virou secretário executivo do ministério da Integração.

O Ministério Público produziu o relatório dos “quarenta ladrões” e praticamente confirmou tudo que o que o senhor havia denunciado. Está confirmado o mensalão?
Roberto Jefferson – O relatório da Procurador Geral da República (Antonio Fernando de Souza) retrata 80% daquilo que foi denunciado por mim e apurado pela CPI dos Correios.

Há uma piadinha na oposição de que falta o Ali Babá dos 40 denunciados pelo MP. Seria o presidente Lula?
RJ – O povo está dizendo isso. Eu tenho lido muitas cartas dos leitores aos jornais e sempre a figura que aparece como Ali Babá é a do presidente Lula. Já o José Dirceu é o chefe direto da quadrilha e do bando. Ele é chamado pelo procurador de chefe da quadrilha e bando. É assim mesmo, o que diz o Código Penal.

Se não estivéssemos tão próximos das eleições, um relatório como esse do Ministério Público poderia provocar imediatamente um processo de impeachment?
RJ – Eu penso que o impeachment perdeu o seu momento político. Ele pode pedir o impeachment de maneira judicial ainda, mas seria mais lento. O momento certo, ao meu ver, para o impeachment, foi durante a confissão do publicitário Duda Mendonça, que disse, aos olhos atônicos do País, que recebera todas as contas da campanha do presidente Lula e dos senadores e deputados do PT em Paraíso Fiscal fora do Brasil. De modo que aquela bancada enorme do PT foi em prantos ao plenário dizendo: O PT acabou, o PT acabou. Foi aquele choro enorme. Ali era a hora do impeachment, porque até o PT estaria de acordo com isso. Mas todo mundo quis preservar o presidente Lula, que é um homem pobre, operário que chegou ao Governo e o momento político não veio mais.

Então, naquele momento, a oposição foi incompetente?
RJ – Foi incompetente ou julgou mal o episódio político. Não querendo uma luta aberta, mas radicalizada com o presidente Lula e o PT, a oposição esperou que ele sangrasse. E o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), disse que ele sangraria e morreria antes de chegar às eleições. Mas parece que o presidente Lula está tendo um público muito forte lhe sustentando, de acordo com os resultados das pesquisas.

A estratégia do sangramento foi errada?
RJ – Erraram naquele momento na estratégia. E pelo que eu entendo bem, o presidente Lula não sofrerá nenhum processo de impeachment.

A Câmara ofereceu mais uma pizza, ao salvar José Mentor. Como é que o senhor avalia?
RJ – O Congresso Nacional não julgou o crime de responsabilidade dos ministros. O (ex-ministro da Integração Nacional) Ciro Gomes (PPS) tirou R$ 500 mil e foi o senhor Márcio Lacerda, seu então secretário executivo, que foi ao Banco Rural e assinou a retirada, e não houve nada contra ele. Não recebeu processo de improbidade administrativa e ficou por isso. Ele apenas demitiu o seu secretário executivo, o Márcio, que foi o seu tesoureiro na campanha presidencial. Essas coisas foram descobertas pela Polícia Federal, pela CPI e o Ciro ficou de fora. Ou seja, deixaram os tubarões de fora. Me admira a pressão para cassar o (Professor) Luizinho (PT-SP) com R$ 20 mil e o José Mentor (PT-SP) com R$ 120 mil, se os ministros levaram 25 vezes mais, 10 vezes mais, que esses que estão sendo acusados. Que há uma pizza há, mas nós já esperávamos isso desde o início.

Então, Jefferson, os tubarões ficaram de fora? É isso?
RJ – Os tubarões ficaram de fora e mais uma vez se preservou a identidade dos doadores do caixa dois. Eles continuam encobertos. Se tem o operador, que é o Marcos Valério, o outro operador, que é o Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT), e os homens que receberam a transferência desses recursos dos operadores. Mas os homens que fizeram os caixa dois, que depositaram na caixa do Delúbio, do Marcos Valério, continuam no anonimato e eu tenho a preocupação que eles possam fazer caixa dois de novo nas eleições que se avizinham e um outro mensalão, se for (eleito) o presidente Lula, porque ele vai ter muita dificuldade para governar e só fazendo outro mensalão para ele construir uma base parlamentar.

O senhor acha que ficou alguém de fora do relatório do Ministério Público?
RJ – O Ministério Público não faz nenhuma referência aos ministros que estão na listas dos recebedores e dos grandes recebedores. O próprio ex-presidente do PSDB, Eduardo Azeredo (senador – MG), também não foi denunciado.

Nesse processo do mensalão só foi cassado o senhor, o José Dirceu (PT-SP) e o Pedro Corrêa (PP-PE). O senhor acredita que mais alguém vai ser cassado?
RJ – Eu acreditava que além de mim e do José Dirceu não ia mais ninguém. Porque nós vimos um grande acordo. E eu disse isso: para que duas cabeças fossem premiadas, a minha e a do José Dirceu para saciar a opinião pública e não aprofundar as investigações. Foi um acordo por baixo do pano entre o PSDB, o PT e o PFL. E a absolvição do Roberto Brant (PFL-MG) deixou claro o acordo do PFL com o PT para preservar o mandato do deputado, que recebeu também do valerioduto. Para mim, me admirou a cassação de Pedro Corrêa (PP-PE). Ele errou em não ter renunciado, mas ele foi cassado muito mais pelos erros passados do que por esse do mensalão. Pedro Corrêa já esteve, em duas ocasiões, à beira de ser cassado naquele processo de adulteração de combustível e depois de contrabando de carros. Ele teve duas vezes para ser cassado, mas foi salvo e agora acabou sendo cassado pelos erros do passado dele.

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