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Rolo compressor entra na campanha

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Gonzalo Solano – Associated Press

Quito (AE) – Em cima do palanque, Rafael Correa dança, canta e esbanja vitalidade. O presidente equatoriano não faz promessas em sua campanha pela reeleição. Ele vai muito além delas. Com as bravatas que lhe são características, Correa lembra à multidão entusiasmada em um bairro no norte de Quito dos cerca de 8 mil quilômetros de estrada que foram melhoradas e das escolas e dos hospitais construídos nos seis anos em que está no governo. Odiado pelos defensores das liberdades civis e do livre mercado e amado pelos novos beneficiários da ação do Estado nos últimos anos, o economista de esquerda de 48 anos de idade é o favorito para vencer as eleições presidenciais de domingo no Equador. Ao longo dos últimos anos, Correa proporcionou estabilidade política a um país que viveu pouco mais de uma década de desgoverno, com sete presidentes entre 1997 e 2007.
Odiado pelos defensores do livre mercado, mas amado pela população pobre, Rafael Correa é favorito nas eleições deste domingo
Correa encontra-se à frente do mais generoso regime de gastos públicos da América Latina e implementou uma política de juros baixos para financiamento de imóveis, além de bolsas de estudo pagas pelo governo no exterior e um programa de bem-estar social que no momento beneficia quase um em cada cinco equatorianos.

O apoio a Correa baseia-se nas camadas mais pobres da população e na classe média baixa. Em 2010, esses estratos representavam respectivamente 37% e 40% da população equatoriana, segundo dados do Banco Mundial. Correa, no entanto, não considera esse apoio como favas contadas Todos os sábados – e também algumas noites durante a semana -, Correa usa as ondas do rádio e na televisão para divulgar sua “revolução cidadã” e cutucar verbalmente seu inimigos “oligarcas”. O “socialismo do século 21” praticado por Correa é uma variação sutil do lançado por Hugo Chávez na Venezuela, mas o equatoriano mantém o mesmo discurso combativo em relação à atuação da imprensa.

Desde que chegou ao poder, Correa passou a mover ações por calúnia na justiça contra jornalistas que o acusaram de ser um “ditador”. Ao mesmo tempo, Quito tem acusado de sabotagem líderes indígenas que organizaram protestos contra o governo por sua recusa em consultar os povos nativos com relação a direitos à água e pela insistência em abrir o Equador à mineração de metais preciosos em larga escala.

Grace Jaramillo, uma cientista política equatoriana que estuda no Canadá, acusa Correa de ter feito o estado de direito regredir no país ao politizar o poder judiciário. “Sem um judiciário independente, qualquer um que se oponha ao governo corre o risco de se tornar uma presa”, declarou.

Grupos de defesa de direitos humanos como a Anistia Internacional (AI) alegam que Correa criminalizou o protesto pacífico. Ainda assim, apenas um punhado de opositores poderia ser chamado de prisioneiro político no Equador.

A imprensa local, por sua vez, concentra seu foco em Correa à medida que o Estado expande o número de veículos de comunicação em suas mãos. Quando assumiu o poder, somente a Rádio Nacional era estatal. Hoje, o governo equatoriano possui cinco canais de televisão, quatro estações de rádios, dois jornais e quatro revistas.

Em campanha, o alto e dinâmico líder equatoriano atrai a atenção de seus seguidores. “Vocês querem a volta do velho Equador de escolas e hospitais em greve?”, pergunta ele num comício. “Vocês querem o país nas mãos das mesmas pessoas que o arruinaram?”

“Não”, respondem os cerca de 5 mil presentes a um comício na região norte de Quito em janeiro. “Vocês sabem que deste lado estão as pessoas que sempre cumpriram suas promessas, que nunca vão decepcionar vocês”, prossegue Correa.

Veronica Bermudez, uma dona de casa de 53 anos, é uma das mais entusiasmadas no comício. “Ele nos deu renda, nos deu saúde gratuita, se preocupa com a educação dos nossos filhos”, diz ela “Como seria possível não o amar?”

“Bolsa-Família” dá R$ 100 a pobres, idosos e mães solteiras

Ao todo, 1,9 milhão de equatorianos recebem o equivalente a pouco mais de 100 reais por mês do governo: mães solteiras, idosos e famílias necessitadas. As crianças recebem gratuitamente uniformes e materiais. Nos hospitais públicos, o tratamento e os remédios são gratuitos para a população de baixa renda.

Tais fatores contribuem para a elevada popularidade de Correa, atualmente em 56%. As pesquisas de intenção de voto mostram Correa com pelo menos 40% de apoio, sempre à frente de seus concorrentes. O segundo colocado, Guillermo Lasso, não chega a 20% das intenções de voto.

Lasso, que deixou a presidência executiva do Banco de Guayaquil para enfrentar Correa nas urnas, promete baixar os impostos das empresas que gerarem empregos e abolir uma taxa de 5% sobre o capital que deixa o país.

Ao passo que uma reforma tributária implementada por Correa é considerada responsável por desencorajar investimentos estrangeiros e enfraquecer os bancos, o desemprego caiu de 9,82% em janeiro de 2007 para 4,71% em novembro do ano passado. O produto interno bruto (PIB) equatoriano, enquanto isso, cresceu 5,2% em 2012 enquanto a maior parte dos países do mundo ainda patina na crise.

O preço do petróleo em torno de US$ 100 por barril tem sido benéfico para o Equador, cujos recursos petrolíferos representaram mais da metade das exportações nos últimos anos. As receitas com petróleo cobrem 20% do orçamento nacional.

Com isso, o Equador liderou a proporção de gastos públicos em programas sociais na região em 2011, reinvestindo 11,1% do PIB, à frente dos 10,8% da Bolívia.

Ao passo que os programas sociais deixam contente uma grande parcela da população, Correa tem dificuldade para conter uma crescente sensação de vulnerabilidade ao crime por parte dos equatorianos.

Da mesma forma que é criticado por fustigar os grupos privados de mídia, Correa surpreendeu o mundo no ano passado ao conceder asilo ao jornalista australiano Julian Assange, fundador e editor-chefe do WikiLeaks, uma plataforma dedicada ao vazamento de informações sigilosas de governos e empresas.

O asilo a Assange, que está refugiado na Embaixada do Equador em Londres, causou fricção com os governos do Reino Unido, da Suécia e dos Estados Unidos. Mas a crise mais grave enfrentada pela administração  Correa desde que assumiu o governo equatoriano foi interna: em setembro de 2010, um motim de policiais terminou com 12 pessoas mortas e uma tropa de elite do exército precisou resgatar Correa em um hospital submetido a cerco pelos amotinados.

Do episódio, a imagem que ficou foi a de Correa em uma janela, com o peito pra fora, desafiando os policiais amotinados a atirarem nele. Atos como este ajudaram a cimentar a popularidade de Correa junto a pessoas como o comerciante Manuel Sigcha, de 26 anos. “Ele é o melhor presidente que tivemos desde que nasci. Votarei em Correa até morrer, pois ele é o único que faz alguma coisa pelos pobres.”

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