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Romântico defesor

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Lançado em 1948, foi o segundo título da série de sete westerns que Ray Enright (1866-1965) e Randolph Scott fizeram juntos. Não está entre os melhores do ator, mas ainda assim situa-se acima da rotina, embora não possua a tensão sugerida pelo roteiro.

O filme começa com o assalto a diligência que vai para a cidade de Albuquerque. Um passageiro é morto, uma passageira (Bárbara Britton) tem as economias (10 mil dólares) roubadas, e, no meio da confusão, a diligência dispara sem cocheiro, com a garotinha dentro – e Cole Armin (Randolph Scott), livrando-se dos bandidos, vai salvá-la.

Ao chegar a Albuquerque, Cole descobre que o seu tio, John Armin, é odiado pela população. Também que fora ele o mandante do assalto para evitar que Ted Wallace, irmão da moça roubada, pudesse montar uma empresa de transporte de mineiros. Texano integro, Cole, em vez de ir trabalhar com o tio, rompe com ele e se associar a Wallace.

A partir daí estabelece-se, juntamente com o conflito familiar, a disputa comercial entre os dois grupos. É uma luta desigual, pois, com o poder do dinheiro, John Armin contrata capangas e corrompe o xerife. John Armin é o típico vilão intelectual, que em vez de matar, arma a mão do matador e corrompe a lei.

A exemplo do tradicional fazendeiro que intimida o colono indefeso, John Armin quer exercer o monopólio urbano. Na tradição do Velho Oeste, o monopólio aparece como um poder maligno na medida em que impede a livre concorrência e atenta contra o ideal democrático americano de oportunidades para todos.

Assim como nos western de John Wayne, os de Randolph Scott são idealizados a partir da imagem cênica do ator, que, por sua vez, possui o rosto petrificado de William S. Hart. Sóbrio e discretamente elegante,  Scott é a imagem do cowboy clássico, na qual a evocação mítica tem prioridade sobre a reprodução realista. O mesmo ocorre com o perfil humano e a conduta dos seus personagens.

O herói de Romântico Defensor (Albuquerque) espelha com perfeição a fusão dessa dupla imagem. Ao descobrir quem é o tio, Cole Armin, recusa-se a trabalhar com ele, e, mais do que isso, passa a trabalhar para o adversário dele. Ainda rompe com o laço familiar e abre mão de ser o herdeiro do tio. Cole, porém, não é um justiceiro. É um defensor de uma causa socialmente justa – é um herói ético por natureza e convicção pessoal.

Neste western, como em outros das séries de Randolph Scott e Audie Murphy, inexiste revisões históricas ou ambigüidades de conduta. O roteiro da dupla Gene Lewis e Clarence Upson Young é convencional, mas se lhe falta criatividade, possui o mérito de não complicar ou amarrar a narrativa, e ainda de criar o cenário ideal para a ação de Randolph Scott.

Neste tipo de faroeste, há uma nítida divisão entre o Bem e o Mal, e sempre – e não necessariamente através da Lei (simbolizada no xerife) – a Justiça prevalecerá e os criminosos serão punidos. Às vezes, como se vê em Romântico Defensor, a redenção de um personagem pode ocorrer quando (arrependido) ele se transfere das forças do mal para as forças do bem. E o caso da moça (Catherine Craig) que, contratada por John Armin para espionar a empresa de Wallace, muda de lado e decide matar o antigo patrão.

O gesto de fazer justiça com as mãos, lhe dá o papel que habitualmente nos westerns tradicionais era exercido pelos homens. Possivelmente por causa do Código de Produção, o espectador é informado o que ela fará se John Armin não lhe obedecer, mas não havemos puxando o gatilho. Quando a câmera volta a focalizá-lo, John Armin já está morto.

John Armin, velho e paralítico, dirigindo suas maldades de uma cadeira de rodas, é o personagem mais interessante, por mostrar que, para certas pessoas, a idade, a doença, não lhes afetam o caráter, nem elimina ou atenua a maldade que caracteriza a personalidade e o modo de ser e viver.

O velho barbudo e cabeludo George “Gabby” Hayes, presente em inúmeros westerns, sempre foi mais um tipo físico, bem-humorado e fiel companheiro do herói, do que ator. Ele é imutável e os seus personagens são igualmentes imutáveis , cumprindo bem, porém a finalidade de seu papel. A heroína, Bárbara Britton, que forma o discreto par romântico com Randolph Scotte, é igualmente discreta como mulher e atriz. Entre os coadjuvantes, o grandalhão Lon Chaney Jr., filho do célebre ator do cinema mudo, possui o físico e a cara dos vilões, e é a ele que devemos uma seqüência característica das aventuras de Randolph Scott – uma longa e boa briga, que, como era de praxe na época, é mais fotogênica do que realista.

No lançamento, Romântico Defensor certamente foi visto como um western rotineiro, entretanto, após o crepúsculo do gênero, revisão, junto com a avocação nostálgica, permite situá-lo corretamente dentro de suas desambições sem se exigir e dele o que nunca pretendeu ser.

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