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Roque Santeiro de muitos sotaques

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Ramon Ribeiro
Repórter

Em São Paulo desde maio de 2016, quando foi convidado pelo renomado diretor Gabriel Vilela para atuar e compor a direção musical do espetáculo “Peer Gynt”, de Henrik Ibsen, o ator e músico potiguar Marco França, do grupo Clowns de Shakespeare, continuará na terra da garoa por pelo menos mais uma temporada. Ele integra o elenco do musical Roque Santeiro, peça do dramaturgo Dias Gomes que fez enorme sucesso na televisão em sua versão como novela, exibida em 1985.
Artistas cantam e interpretam nesta adaptação do mais famoso texto de Dias Gomes
O espetáculo marca a quarta parceria da diretora Debora Dubois com o músico maranhense Zeca Baleiro, que compôs a trilha original. Além de Marco França,  o elenco conta com Jarbas Homem de Mello, Mel Lisboa, Livia Camargo, Flávio Tolezani, dentre outros. Os ensaios estão a todo vapor por causa da estreia, marcada para o dia 27 de janeiro, no Teatro Faap, em SP. Depois de temporada na capital paulista, o musical deve circular pelo país, mas ainda não há datas confirmadas para o nordeste.

Primeira experiência do potiguar em musical, a empreitada une duas de suas maiores paixões, a música (França é produtor musical e um dos fundadores da banda Mad Dogs) e o teatro. Ele conta que foi escalado depois que seu nome foi sugerido pela atriz Luciana Carnieli, que trabalhou ao seu lado em Peer Gynt e está em Roque Santeiro. “A diretora estava precisando de um ator músico, uma função bem específica”, diz França ao VIVER.

Na peça ele viverá Toninho Jiló. “É um personagem popular, um cara esperto que sobrevive vendendo produtos na carona do mito do falso herói que foi o Roque Santeiro. De brigadeiros do aniversário a frasco de perfume com o suor do Cabo Roque. É um pouco João Grilo e Chicó, de Ariano Suassuna”, explica o ator, que assistiu a novela na época em que ela foi ao ar. “Eu tinha 10 anos, mas mesmo criança, acompanhei o grande sucesso que foi. Tenho uma memória afetiva grande da repercussão que ela causou”.

Escrita em 1963, originalmente como uma opereta popular, “Roque Santeiro” (ou “O Berço do Herói”) deveria ter sido encenada em 1965, com direção de Antônio Abujanra e música de Edu Lobo, mas foi censurada pelo Ditadura Militar. Em 1975, Dias Gomes (1922-1999) adaptou a obra para a televisão e esta versão também foi proibida. Só dez anos depois, em 1985, já com o país vivendo um processo de democratização, é que a novela foi levada ao ar, batendo recorde de audiência em seu capítulo final.

“A peça continua atual. Hoje a gente vive uma ditadura velada em um país com uma necessidade absurda de se manter respirando, com necessidade de ter um super Moro, ou outros mártires que justifiquem a nossa existência”, comenta o ator, que vê paralelos do texto de Dias Gomes com o cenário político nacional hoje.

Tudo junto e misturado
França, que já faturou o importante prêmio Shell por sua direção musical no espetáculo “Tempestade”, ao lado de Babaya, terá em “Roque Santeiro” sua estreia em musicais.

Mas para ele não há muitas diferenças. “Minha experiência de teatro e música vem desde o meu começo com o Clowns. Para mim, todo o teatro é muito musical. É uma linguagem que pode abarcar a palavra enquanto música, a canção, como algo importante na contação da história.”, afirma o ator.

Para ele, participar de um projeto ao lado de Zeca Baleiro tornar a experiência ainda mais proveitosa. “É um artista que vai além da música e dos moldes comerciais. Tem investigado e se interessa pela literatura e teatro. Foi um encontro muito feliz e tem sido um grande prazer”, diz. No palco, o potiguar toca teclado, clarinete, acordeon, pandeiro e violão, além de também estar ajudado nos ensaios com os arranjos e preparação vocal.

“Vivemos hoje uma necessidade de rotular tudo, até o que é teatro, dança, música. Acredito que seja o momento de romper com esse paradigmas, e ir em busca de uma liberdade de expressão para além da necessidade de rótulos. Nossa vontade de falar sobre o mundo já não cabe mais em gavetas”, reflete. “Mais do que me enxergar como músico ou ator, eu me vejo como artista que tenta transformar o mundo, agindo numa grande utopia que me faz seguir adiante”.

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