Rubens Lemos Filho
É cômica a euforia pelas surras impostas por ABC e América sobre Força e Luz e Assu na última rodada. O ABC enfiou 5×0 e o América tascou 3×0 no anfitrião. Tem que ser assim o tempo todo. Rotineiro e não excepcional. É a retranca estabelecida como padrão a maior responsável pelo espanto de alguns.
O time forte é obrigado, por lei informal a golear o pequeno sempre. Senão, some a supremacia do maior sobre o menor. E as pancadas homéricas fizeram história e construíram a hegemonia de ABC e América desde os idos da bola de capotão.
Na mistura de esperteza com mediocridade, são muitos a berrar, escrever e a digitar em tempo real que futebol hoje é nivelado porque os pequenos evoluíram. Mentira. Os maiorais deram para se vestir de nanicos e a perder pontos inadmissíveis para agremiações peladeiras oficiais.
Antes, a diferença era tão imensa que jogadores contratados para salvar a pátria dos principais rivais em tempos de crise estreavam exatamente quando a tabela cravava a barbada do encontro com uma das quatro zebras. O ABC teve um centroavante, Deus o tenha, Anderson, que ganhou o apelido de Sarampo por nunca ter feito um golzinho sequer no América.
Nos anos 1970, dificilmente o script mudava. Exceto em 1974 quando o Governo do Estado investiu no time do Cosern (outra identidade do Força e Luz) em ano eleitoral e houve dificuldade de ABC e América, que, nem por isso, deixaram de ser finalistas, com os rubros ganhando seu primeiro campeonato no estádio então novíssimo e sempre belo.
Houve jogo em que o rapaz responsável pela mudança dos números do placar cansou de subir a escada, como o 10×0 do América sobre o Ferroviário em 1976, sucedido pelo 8×0 do ABC sobre o Atlético.
O decantado – e furado – equilíbrio passa a ser usado como argumento com o nivelamento desde as categorias de base, com os enganadores, mais adequados à estatística e ao jogo de força , recuando seus times e usando “sistemas”ridículos de defensivismo como fundamento.
Posso fazer 6×0, mas é melhor ganhar de apenas um e economizar o arsenal para os próximos 10 jogos, afinal de contas, meu emprego estará garantido. É nessa filosofia que mora hoje o futebol entupido de neologismo babaca.
Os idiotas criam – e os jornalistas copiam, termos bisonhos. Minutagem é o tempo que o perna de pau joga em determinada sequência. Minutagem é a casa do baralho, pois o jornal é de família. Quebrar as linhas, nada mais é do que avançar e ultrapassar a marcação no meio-campo e na defesa.
Encaixar poderia ser encaixotar o bagulho e jogar no fundo do Rio Potengi. Alguns homens de mídia dizem que encaixar é quando o time acerta (quase sempre), na perseguição ao adversário.
Encaixar é o garoto de programa de dona contenção, palavreado-padrão da turma amasiada com a empatocracia (esse termo abjeto é meu) e significa parar os lances do meio-campo contrário com pancada à vontade e caneladas na bola.
O ABC ganhou de 5×0, é bem superior ao Força e Luz e protesto haverá no dia em que não for. Seu meio-campo está jogando bem, no toque de bola, com um canhoto da melhor casta nobre, Fábio Lima, que compõe uma afinada batucada com Allan Dias, Kelvin, Ítalo Henrique, este ensinando a jogar atrás com virtude no passe e o mago Wallyson.
O América venceria de cinco o que ganhou de três. Bastariam dois jogadores melhores no meio. E é assim o ronco da cuíca, pequeno não engole grande. O samba perde a cadência.
Há 80 anos
Pelo campeonato de 1942, no Estádio Juvenal Lamartine, dia 14 de junho, o ABC ganhou de 10×0 do Força e Luz pouco depois do decacampeonato.
Gols
Foram cinco gols de Savaróti, três de Albano, um de Taperoá e outro de Reinaldo. Quer dizer, sempre foi regra papar os fracos.
CPI natimorta
A deputada estadual Isolda Dantas (PT) apresenta seu relatório final da CPI do Arena das Dunas. Promete surpresas. Mas o relatório de Isolda deverá ser derrotado pelos demais componentes da comissão que não houve. O presidente é a explicação de tudo.
Contratações
O América está lutando contra a falta de grana para contratar, mas sabe que, com este time, a Série D periga.
Os dois
Hoje, a rigor, dois jogadores levam o time nas costas: Elvinho no meio-campo e Thiaguinho no ataque. Wallace Pernambucano é importante, quando não está machucado.
Moacir
Foi sincero quando justificou porque não abre mão de controlar as contratações. Mais ainda: fez uma revelação grave sobre as intromissões ocorridas em 2021 quando quem não podia indicou e conseguiu colocar jogadores dentro do ABC.
Nível
O ABC está muito acima do nível de empresários picaretas que chegam com cardápio de jogadores pior do que cebola com alho sem pasta de dente por perto.
Romildo
Deixou o Globo, segue digno.
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