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Ruy Pereira morre em acidente

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O secretário estadual de Educação, Ruy Pereira dos Santos, 60, morreu ontem à noite após um acidente de trânsito na BR-101, na altura do município de Igarassu, em Pernambuco, distante 28 quilômetros de Recife.  Pereira se dirigia à capital pernambucana para passar o Carnaval, quando seu veículo foi atingido por um caminhão.

Corpo do secretário ficou preso nas ferragensO acidente ocorreu por volta das 20h40, no Km 4 da rodovia. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, Ruy Pereira e o motorista Francisco Canindé da Silva seguiam no sentido Natal-Recife no veículo Chevrolet Tracker, de placas NNK 5917, de Natal. O condutor teria perdido o controle do carro que foi para o lado direito da pista, subindo o  meio-fio. Ao tentar retomar o controle, o veículo atravessou para a contramão sendo atingido no lado do passageiro por um caminhão que vinha em sentido contrário. Chovia na hora, o que poderia ter sido a causa do acidente.

De acordo com informações apuradas pelo repórter Edson Araújo, da TV Jornal, de Pernambuco, com o impacto, o carro ainda foi jogado para uma ribanceira. Francisco Canindé teve apenas ferimentos leves e chegou a ser socorrido para o Hospital Miguel Arraes, na cidade de Paulista, Região Metropolitana de Recife. Ruy Pereira morreu na hora. O corpo do secretário ficou preso nas ferragens e uma equipe do Corpo de Bombeiros foi acionada ao local, juntamente com o Instituto Médico Legal para onde o corpo seria levado por volta das 23 horas.

O condutor do caminhão, Fernando Roberto Freire de Freitas, 51, que não sofreu escoriações, foi detido e levado ao posto da PRF para prestar esclarecimentos.

Pela manhã, o secretário esteve reunido com o jornalista Osni Damásio e com o ex-presidente da Fundação Capitania das Artes, Dácio Galvão, tratando da ampliação da Feira do Livro, que vinha sendo realizada em Mossoró e Caicó. A proposta de Ruy era levá-la para Santa Cruz e Nova Cruz. Na conversa ele disse que iria passar o carnaval no Recife com a mulher Ana Brito e os três filhos (o caçula faz medicina, como o pai). Mas desta vez iria de carro e não de avião, como fazia costumeiramente.

De acordo com informações colhidas pela TN, ele teria sido convocado para uma audiência, no final da tarde, com a governadora Wilma de Faria, mas o encontro foi cancelado porque a governadora estava afônica. Como prefeito de Serra Negra (1997-2000) Ruy transformou a cidade, mas comprou brigas com a oposição. Uma deles foi a desapropriação de um terreno para construção de casas populares. Apesar da administração inovadora, ele foi derrotado nas urnas por Dilvan Monteiro da Nóbrega por uma diferença de apenas sete votos.  O velório será no Memorial de Medicina, no Derby. O enterro será no cemitério Parque das Flores, no Curado, em Recife, às 17h.

Administração inovadora em Serra Negra

Em maio de 2000, Ruy Pereira convidou um grupo de jornalistas para conhecer a experiência desenvolvida por ele em Serra Negra do Norte. O texto, abaixo, é o relato de  algumas das programas bem sucedidos que a TN viu lá. Confira:

Do alto da parede da barragem Arapuá, o professor da cadeira de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Federal de Pernambuco contempla, com indisfarçável satisfação, o espelho de água que se perde no horizonte de um município pobre encravado no semi-árido nordestino. Ele não está ali para desenvolver pesquisas científicas. O interesse é outro, bem diferente da atividade acadêmica.

O professor em questão é o médico sanitarista Ruy Pereira dos Santos, 51 anos, ex-secretário adjunto de Saúde da Prefeitura do Recife na administração Jarbas Vasconcelos. O município administrado por ele se chama Serra Negra do Norte, no Seridó norte-rio-grandense, na divisa com a Paraíba.

Arapuá é a quarta de um complexo de nove barragens construídas por Ruy no leito seco do rio Espinharas, afluente do Piranhas, o principal rio do Rio Grande do Norte, responsável pelo abastecimento da barragem Armando Ribeiro Gonçalves, maior reservatório de água do Nordeste.

Pergunta óbvia: o que levaria um professor universitário a trocar o conforto da sala de aula pela prefeitura de um município pobre, rodeado de problemas, cuja arrecadação se resume ao Fundo de Participação, de R$ 75 mil mensais? “Mostrar que é possível, trabalhando com seriedade e competência, mudar este país. Que é possível para as comunidades, mesmo pobres, traçarem seu próprio destino”, diz ele, citando uma frase do ex-arcebispo de Recife e Olinda. “Dom Hélder gostava de dizer que o Brasil está cheio de gente de boa vontade à espera de quem os aglutine. É isso que estamos tentando fazer.”

As mudanças em Serra Negra surpreenderam até mesmo a oposição que ironizava as promessas de campanha, tão absurdas pareciam. Usina de reciclagem de lixo? Esgoto? Atendimento médico em todas as comunidades? Água para abastecer a cidade e ainda ser usada na irrigação? O complexo de barragens sucessivas (a décima será construída ainda este ano) acumula 12 milhões de metros cúbicos em 30 quilômetros de extensão no sentido oeste/leste e tem como objetivo principal a fixação do homem no campo.

Em três anos e meio, a administração municipal fez mais do que o candidato havia prometido nos palanques. A usina de reciclagem de lixo começou a funcionar no início deste mês e é auto-sustentável. A rede de esgotamento sanitário cobre 48% da cidade, e as casas para famílias carentes estão sendo construídas. “Preparamos a infra-estrutura básica. Agora vem o mais importante: a ampliação dos programas de geração de renda”, lembra.

Analfabetismo

O fato de exercer a profissão de médico e o cargo de professor universitário, e ainda ter presidido a Casa do Estudante de Caicó nos anos 60, ajudou o prefeito a definir a política de combate ao analfabetismo no município. Em Serra Negra, todas os programas sociais e as ações na área de saúde são vinculadas à escola. Os estudantes têm prioridade no atendimento. A meta da Secretaria Municipal de Educação é reduzir o analfabetismo para 10% nos próximos anos.

Apesar de estar localizada em uma região famosa pela excelência do ensino público nos anos que antecederam ao golpe militar de 64, a taxa de analfabetismo em Serra Negra era altíssima. De acordo com levantamento do Ipea, feito com base nos dados do IBGE a pedido do Programa das  Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em 1970 o analfabetismo atingia 69,2% da população com mais de 15 anos de idade, índice que caiu para 53% em 1980 e para 48,5% em 1991.

Influenciado por uma experiência surgida na França nos anos 30 e implementada com sucesso pelo ex-presidente François Mitterrand, Ruy Pereira criou a Casa Familiar Rural para os filhos de agricultores que não têm condições financeiras ou não querem sair de perto da família para complementar os estudos em centros maiores.

O método aplicado é  conhecido como “pedagogia da alternância”, ou seja, o ensino acadêmico alternado com técnicas agrícolas e agropecuárias. “Com isso, estamos estimulando a modernização da agricultura, uma vez que a escola ensina a trocar as ultrapassadas práticas agrícolas por novos métodos de produção”, enfatiza Ruy. Os alunos moram na escola, onde aprendem, também, a lidar com informática.

Prioridade é o combate ao analfabetismo

O paraibano Ruy Pereira da Silva, 60 anos, era médico sanitarista (formado em Recife, PE). Chegou ao governo da professora Wilma de Faria em 2005 para ser o titular da Secretaria Estadual de Saúde. Em 2006, disputou como suplente pelo PT, o Senado Federal (companheiro do ex-senador Fernando Bezerra). Depois da eleição, voltou ao Governo do Estado como Secretário de Assuntos Institucionais e em seguida (junho de 2008) assumiu a Secretaria Estadual de Educação.

Antes de fazer parte da equipe de auxiliares do Governo do Estado, Ruy Pereira trabalhou como assessor especial do Ministério da Saúde. Pereira também já havia sido candidato ao Governo do Estado, em 2002, pelo PT.

Antes disso, em 1992, foi vereador de Serra Negra do Norte (RN), sendo eleito prefeito desta mesma cidade quatro anos depois. Derrotado nas eleições de 2000, ocupou a prefeitura do município novamente durante alguns meses de 2003, devido à decisão do TSE.

A governadora Wilma de Faria recebeu a notícia em sua residência. Bastante emocionada, ela cancelou a agenda dos próximos dias. Ontem, por volta das 23 horas, a governadora postou no twitter: “Chocada com a morte do amigo Ruy Pereira. Ainda não absorvi o impacto desta trágica notícia. Eu não consigo acreditar.” Wilma de Faria considerava Ruy Pereira não só um importante e leal auxiliar, mas um grande amigo.

A deputada Fátima Bezerra lamentou a morte do companheiro de partido. “Ainda nesta quarta-feira, conversei bastante com Ruy Pereira sobre as perspectivas da educação para 2010.”

Ontem à tarde,  Ruy  entregou  todos os projetos e o planejamento da Secretaria de Educação para 2010. Os documentos foram repassados para o vice-governador Iberê Ferreira de Souza, que assumirá o Executivo a partir do mês de abril. No planejamento para este ano, o secretário demonstra  grandes preocupações com o analfabetismo.

O secretário de Comunicação, Rubens Lemos Filho também se manifestou sobre a morte de Ruy no Twitter: “Desde a morte do meu pai, nunca tive um dia tão ruim. Perdi um tio-avô querido e um companheiro de equipe como Ruy Pereira. Ruy e Tio Derval não serão sepultados. Serão plantados. Deles, nascerão frutos de integridade. O meu 11 de setembro foi 11 de fevereiro.”

Ruy Pereira era irmão do prefeito de São Gonçalo do Amarante, Jaime Calado e do ex-vereador de Natal, Fernando Lucena. Muito abalado, Jaime não quis falar com a imprensa ontem.

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