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Sal, gosto mas preigoso sal

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Dr. Jorge Boucinhas
Médico e professor

Continuando e concluindo o Artigo anterior, tem-se que a magnitude do efeito da redução do consumo de sal sobre a tensão arterial em hipertensos é importante.  Os resultados das três maiores metanálises, as de Midgley (1995), Cutler (1997) e Graudal (1998) mostraram valores ponderáveis.

Um dos mais relevantes estudos epidemiológicos a explorar a relação entre ingesta sódica e pressão arterial foi conduzido em 52 centros de pesquisas localizados em 32 países, com aferições em 10.079 homens e mulheres entre 20 e 59 anos.  Foi estabelecido em todos centros haver relação linear significativa entre excreção urinária de sódio e TA sistólica, e análises de coorte transversal mostraram relação significativa entre ingestão de sódio e valores tensionais nas populações estudadas.

Um artigo publicado em 2014 na revista Pediatrics avaliou 755 adolescentes saudáveis com consumo diário de sódio acima de 1,5g.  Os resultados da pesquisa apontaram alto nível de leptina neles.  Esta é um hormônio produzido pelos adipócitos (células gordurosas) e responde por sensação de saciedade e queima de gordura, embora em níveis cronicamente elevados possa exercer efeitos opostos.  Outrossim, os jovens com ingestão elevada de sódio também apresentaram altos níveis de fator de necrose tumoral ?, uma substância que contribui para inflamação crônica e doenças autoimunes.

As Pesquisas de Orçamentos Familiares de 2002-03 e 2008-09 estimaram uma ingestão quotidiana de cloreto de sódio de cerca de 12g/pessoa/dia, e análises do consumo alimentar pessoal mostrar que mais de 70% da população ingeria demasiado.

Dados do Ministério da Saúde reforçam que a Hipertensão Arterial possui grande importância epidemiológica no Brasil, sendo que praticamente 1/4 da população adulta residente nas capitais brasileiras referiu já este diagnóstico médico, se bem que se estime que o proporção real levemente ultrapasse 1/3.   As doenças do aparelho circulatório representam aproximadamente 30% dos óbitos totais no Brasil, sendo a doença hipertensiva sozinha responsável por perto de 4% da mortalidade geral.

O mesmo Ministério tem coordenado estratégias nacionais visando redução do consumo de sódio, com ações articuladas a planos setoriais, quais o Plano Nacional de Saúde 2012-2015 e o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis no Brasil 2011- 2022.  Entre as principais estratégias encontram-se a reformulação, redução do conteúdo salino, de alimentos processados e a realização de campanhas, para profissionais de saúde, manipuladores e fabricantes de alimentos e população, visando a promoção de hábitos alimentares saudáveis, o que, segundo estimativas da OMS, poderiam evitar 2,5 milhões de mortes e poupar bilhões de dólares aos sistemas de saúde no mundo.  A agenda é reforçada pelo envolvimento das principais agências internacionais, com destaque para a Força-Tarefa para a Redução do Consumo de Sódio nas Américas, coordenada pela OPAS (Organização Panamericana da Saúde).  Como meta de redução para 2020, espera-se que sejam alcançados valores iguais ou menores que os do Reino Unido e do Canadá.

Mas é sempre fundamental o cuidado individual.  Nada de deixar nas mãos das autoridades.  Cada qual é o dono e senhor de sua saúde e é o único a saber em que direção deve seguir para melhorá-la e se está realmente disposto a fazê-lo. 

Atenção nas compras!  A diferença entre os inúmeros tipos de sal disponíveis no mercado está, basicamente, na textura e no tamanho dos grãos.  Já o sal light, realmente, tem uma proporção bem menor de sódio em sua composição, geralmente metade da quantidade presente na versão tradicional.  Portanto, é importante saber que o usuário não deve utilizar o dobro da quantidade do sal light em relação ao comum, pois estará excedendo o consumo de sódio da mesma forma.  E seu uso pode ser contra-indicado para pacientes com insuficiência renal por conta da alta quantidade de potássio que ele apresenta.

Que cada um procure vigiar o que come.  Os produtos industrializados podem se constituir  nos vilões ocultos das dietas.  Eles contêm lato teor de sal.  Deve ser frisado que mesmo produtos doces, como refrigerantes e bolos, podem ter sódio.  Ler sempre os rótulos!  Na comida de casa, a tática de redução lenta do salgar é mais efetiva do que a diminuição drástica e repentina.  Além disso, o uso de temperos vegetais, como tomilho, manjericão, gengibre, mostarda, pimenta, alho, cebola, cebolinha e coentro igualmente ressalta o sabor das preparações e diminui a necessidade de salgar.  O emprego de frutas secas e castanhas nas saladas ou pratos prontos também é recomendável.

Atenção, muita atenção, para um inimigo oculto: o (excesso de) sal!

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