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Salvem o velho Augusto Severo

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Thiago Gonzaga
Escritor

Lemos recentemente aqui mesmo neste conceituado jornal, um artigo do escritor Manoel Onofre Jr., membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras, intitulado “Memória Curta”, no qual ele critica o descaso com o histórico prédio do antigo Grupo Escolar Augusto Severo.  O relato do autor, que estudou lá, quando o prédio abrigava a velha Faculdade de Direito, nos sensibilizou, ao pedir socorro para preservação da memória desse monumento arquitetônico, onde está simbolizada uma parte da nossa história.

Criado no Governo de Antônio José de Melo e Sousa (outro esquecido pelos potiguares), o Grupo Escolar-modelo, projeto do arquiteto Herculano Ramos, (o mesmo que remodelou o Teatro Alberto Maranhão) foi construído num local privilegiado, na Praça Augusto Severo, principal centro da modernidade da capital à época. O Governador Antônio de Souza, estudioso da problemática educacional, autorizou a construção de um edifício moderno, sofisticado para o seu tempo. O Grupo Escolar Augusto Severo, homenageando o aeronauta pioneiro, foi a primeira instituição do gênero estabelecida em Natal, a partir do Decreto n. 174, de 05 de março de 1908, o qual especificou a construção do prédio, nos mesmos padrões dos Grupos Escolares do Estado de São Paulo. A arquitetura inspirou-se no estilo Art Nouveau (expressão francesa para “arte nova”), caracterizado principalmente por formas e estruturas naturais, não somente flores e plantas, mas também linhas curvas, e foi mais popular na Europa, mas teve influência no mundo todo.  Atingiu o seu auge na chamada Belle Époque. O Grupo seria oficialmente inaugurado no governo Alberto Maranhão. Entre os anos de 1911 e 1914, abrigou também a Escola Normal, estabelecimento dedicado à formação de professores.

Na década de 1950 continuou a ter função educacional com a instalação da Faculdade de Direito de Natal, a primeira escola de Direito do Estado, polo de uma geração de intelectuais, que, possivelmente, o Rio Grande do Norte nunca mais verá outra igual. A antiga Faculdade de Direito teve ilustres professores, juristas renomados, basta citar como exemplo, Otto Guerra, Luís da Câmara Cascudo, Edgar Barbosa… e formou grandes figuras do Rio Grande do Norte; algumas ainda estão ai na ativa. 

Nesse período foram realizadas algumas reformas e construido um pavilhão de estilo moderno, para a época, nos fundos da edificação. Em meados dos anos de 1970, o Curso de Direito foi transferido para o Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e o prédio da Faculdade passou a ser ocupado por algumas secretarias do Governo do Estado. Após sediar a Secretaria de Segurança Pública, foi assumido pela UFRN.

Os sinais de abandono são claros, não apenas da parte física, mas também de tudo quanto esta representa. Onde estão os políticos dessa cidade, os representantes do povo? Ninguém pode interceder por esse monumento centenário? Será que esse pessoal entende apenas de Shopping Center? Ouvi recentemente de um assessor de um político que o mesmo tinha dito que cultura não dá voto. É o cúmulo.

Daí nos questionarmos, porque tamanho abandono de uma parte da nossa história? Será que ao longo desses anos não foi possível disponibilizar recursos para restauração de um prédio tão histórico, e de tanto valor artístico, sobretudo quando se refere também a educação? 

Seria bom, para despertar atenção para a causa, que os ex-alunos da Faculdade de Direito, se reunissem e dessem um abraço simbólico no prédio, que traz marcas de um passado glorioso do nosso Estado e deveria ser motivo de muito orgulho.

Enfim, salvem o velho Grupo Escolar.

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