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Sambas e arquibancadas

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Rubens Lemos Filho 
Ser filho de boêmio idealista me fez bem e mal. O lado ruim é a eterna crença na espécie humana que acabou com a vida de quem herdei o sentimentalismo. A boa é gostar de futebol e samba. 
Adoro samba. Samba de verdade, samba de quintal,  de raiz, de versejadores, de quem produz aos repiques e tamborins soando, melodias e não ladainhas dos  caipiras que fingem fazer  música para quem ouve com controle de qualidade abaixo de zero. Tipo  madame de salto alto. 
O samba é povão, é intuição, é suavidade, é adoração. O repertório que conheci nas mesas do velho bar Café Nice, no Alecrim, extinto  reduto bamba de Natal. 
Aprendi a gostar de Paulinho da Viola, com o Pagode do Vavá, onde a plebe prova do feijão da Vicentina e sabe que a coisa é divina. 
Onde me apresentaram à obra de Martinho da Vila para dela nunca mais me separar. Há um samba-enredo, chamado Gbala, no Templo da Criação que se fez hino em minhas idas ao estádio Castelão para ver o ABC jogar. 
A batucada apitava e eu entrava, cheio de cerveja, no trecho especial da letra, motivador da vitória do meu time: “Gbala, resgatar, salvar, e a criança, é a esperança de Oxalá, Gbala, resgatar salvar, a criança é a esperança, de Oxalá, vamos sonhar”. 
Martinho da Vila e Paulinho da Viola, por absoluto bom gosto, são ilustres vascaínos. Martinho da Vila cantando Pequeno Burguês e meu coração saltitando na bateria dos clássicos contra o Flamengo.  
A delicadeza de  Paulinho da Viola confessava seu amor que determinei ser pelo Vasco: “Meu coração tem manias de amor, amor não é fácil de achar, a marca dos meus desenganos ficou, ficou, só um amor pode apagar”. O Castelão foi um estádio que passou em minha vida, cometo o plágio, cheio de nostalgia. 
Dou pausa no teclado. Dou uma tamborilada na mesa porque é hora de me emocionar, mesmo e bastante. É quando o bafo da massa batia no meu rosto magro enquanto Dudé, nosso cheiroso Rei da Bateria, puxava Simone em O Amanhã, nada mais lindo na minha relação bola e pagode.
Cinco cervejas depois, repetia que a cigana leu o meu destino, eu sonhei, bola de cristal, jogo de búzios, cartomante eu sempre perguntei (nunca obtive resposta), o que será o amanhã? Como vai ser o meu destino? Já desfolhei (nunca desfiz uma flor), o malmequer, primeiro amor, de um menino”. 
O meu destino, já dizia Simone para eu aprender, será como Deus quiser. Uma tarde, meu destino foi vibrar com um gol de Sérgio China(ABC),  no minuto final da prorrogação em 1993. 
Numa festinha de interior, perguntei a uma mocinha quem ela apreciava cantando: “Fabio Júino”. Assim mesmo, Júino. Antes que ela puxasse o assunto da novela mexicana do SBT, encerrei o papo. A única produção de primeira linhagem de Fábio Júnior foi a estonteante filha Cléo Pires. 
Chato, sempre, aos acordes sambistas, preferi jogadores de classe, de ginga de passarela de carnaval de escola carioca. Meus centroavantes preferidos eram Roberto Dinamite, que, na área era um Coutinho do Santos.Reinaldo do Galo, Careca, Tostão, Bebeto e o melhor da eternidade, Romário. 
O mais injustiçado entre todos os atacantes do meu tempo: o negro elegante Cláudio Adão, estrofe de categoria acompanhada por um bom violão. Violão do alvinegro enciclopédico e dominador de cordas, Francisco Batista Júnior, gente fina.  
Porte majestoso, Cláudio Adão jogou com  Pelé, Zico, Roberto Dinamite, fez carreira-solo  e era magnífico. Jamais convocado para a seleção brasileira. Nível Copa do Mundo. 
Seleção que recebeu Casagrande Serginho Chulapa, Nunes, Hulk, Jô e Grafite, aberrações iguais às bandas de forró de obtusas e indistintas classes. Cláudio Adão merece Cartola. Deixe-o ir andar, procurar, rir para não chorar. 
Clássico 
ABC motivado contra o América de ressaca pela eliminação contra o Cruzeiro e a perda de R$ 1,7 milhão de prêmio pela Copa do Brasil. O clássico está definido? Nunca. As camisas, sozinhas, se enfrentam umas às outras. 
Solidão 
Está isolado o presidente do América, Ricardo Valério e a sua melancolia angustiada no jogo contra o Cruzeiro comoveu mas não mobilizou. Há quem pense em renúncia. Palavra banal no vocabulário rubro. 
Zezé
Foi importante ponta-direita da Era Juvenal Lamartine, campeão pelo Alecrim(invicto) de 1968 com Elson, Icário e Burunga no ataque e, também sem perder, pelo ABC dois anos depois, com Alberi, Petinha e Burunga. Zezé, 79 anos, morreu de doença hepática. 
Pastilha 
Em 1970, foi bem  no amistoso do ABC contra o Palmeiras de Ademir da Guia no JL. O famoso Mário Dourado, da Rádio Poti, encontra Zezé mastigando algo no vestiário. 
Engano 
Mário puxa a brasa para a patrocinadora da equipe esportiva, que tinha papai de comentarista: “Aqui encontro Zezé, repousando e mastigando suas Pastilhas Mentoladas São João!”. Zezé, gaguejando, esclarece: “Não Seu Mário, é a dentadura frouxa!”. 
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