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Sassaricando com Eduardo Dussek

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Ramon Ribeiro
Repórter

Um dos grandes destaques desta sexta-feira (9) de carnaval em Natal é o show do cantor e compositor Eduardo Dussek, artista que ao longo dos 40 anos de carreira se dedicou a valorizar as marchinhas e o carnaval de rua do Rio de Janeiro, se tornando uma peça fundamental da festa carioca. Em Natal, caberá a ele encerrar a programação do Palco das Marchinhas, no Largo do Atheneu, em Petrópolis. Seu show está marcado para às 22h30. No palco Dussek vai mostrar sua pegada dançante, com marchinhas autorais, clássicas e algumas divertidas versões para hits dos anos 80.

Grande nome da geração 80 do pop rock nacional, Dussek tem um estilo diferente de fazer músicas usando sátira e poesia

Grande nome da geração 80 do pop rock nacional, Dussek tem um estilo diferente de fazer músicas usando sátira e poesia

#SAIBAMAIS#“Estou preparando esse show já tem um tempo. Montei ele especialmente para o carnaval de Natal. Vai ser uma apresentação para o público cantar junto, rir e dançar com algumas músicas que marcaram época”, comentou Dussek por telefone ao VIVER.

Grande nome da geração dos anos 80 do pop rock nacional, Dussek se notabilizou pelo estilo que misturava sátira e bom humor, sendo dono de sucessos como “Nostradamus”, “Barrados no Baile”, “Cabelos Negros”, “Rock da Cachorra”, “Doméstica” e “Eu velejava em você”.

O artista carioca, que também é ator, tendo participado de várias novelas e espetáculos, é um apaixonado por marchinhas. A primeira música que compôs, quando tinha oito anos, foi dentro desse ritmo brasileiro. Já adulto, em paralelo ao sucesso, passou a fazer marchinhas todo ano. Em Natal, ele apresentará duas inéditas:  “Foge comigo” e “Marchinha raspadinha”.

Nesta entrevista, Dussek comenta um pouco sobre o universo das marchinhas do carnaval, lembra os anos 80 e alguns episódios da carreira.

Como surgiu esse teu interesse pelas marchinhas de carnaval?
A primeira música que fiz foi uma marchinha de carnaval. Eu tinha oito anos. Mas só fui me interessar de verdade mais velho. Antes eu achava que as marchinhas eram músicas de domínio público, como aquelas cantigas de “atirei o pau no gato…”, “ciranda cirandinha…”. Depois fui pesquisando e vi toda a história que tinha por trás desse ritmo, a presença de compositores importantes, como Braguinha, Lamartine Babo. Comecei a compor e não parei mais. Faço uma nova todo ano. É um ritmo tradicional do carnaval.

Está trazendo para Natal alguma marchinha nova?
Estou levando duas inéditas. “Foge comigo”, que brinca com o duplo sentido da palavra, e “Marchinha raspadinha”. Essa da raspadinha fala dessa turma chegada a depilar o corpo todo. Diz mais ou menos assim: “Tá todo mundo depilado, tem raspadinha, tem raspadão, hoje em dia todo mundo anda pelado, voltou o tempo de Eva e Adão”.

Como você cria suas marchinhas?
Eu escrevo sobre os temas que estão na moda. O difícil é fazer caber em duas estrofes. Marchinha de carnaval é tipo rock’n roll, você tem que resolver tudo na primeira estrofe, senão você não pega a galera. É uma ciência, lembra também um pouco o haikai japonês. Tem que medir as palavras e fazer uma coisa meio fluida, senão não dá certo. O esquema também é sempre pegar um assunto em voga.

Dá para fazer marchinha sem a pegada de humor?
No carnaval ou você quer avacalhar com tudo, mexer com o sistema, com alguma coisa jocosa, ou, por outro lado, você quer passar uma cantada em alguém no meio da folia, tipo, “vou beijar-te agora, não me leve à mal, hoje é carnaval”. Dá para se fazer marchinha romântica, como uma marcha rancho. Gosto de fazer nesse estilo também. Lembro que nos concursos, quando alguém botava uma marchinha romântica o público não gostava. A aprovação era melhor para as composições de deboche.

Como você vê a crescente presença de ritmos como funk e sertanejo no carnaval?
No carnaval tem espaço pra tudo. A essência da festa é misturar as coisas. Não vejo problema. Defendo que se promova o que tem qualidade. A música sertaneja, por exemplo, há 30 anos eu já sabia que ela iria dominar o mercado. Meu disco “Brega Chique” é de 84. Hoje tenho visto muita música com conteúdo e linguística pobres. O que sobrevive bem é o ritmo. O brasileiro tem um ritmo sensacional.

A marchinha tem perdido espaço nesse cenário de novas músicas chegando no carnaval?
Estou vendo muita música sobre bunda. Nada contra, pelo contrário, acho ótimo bunda. Mas acredito que se poderia valorizar mais outros aspectos da nossa cultura, fazer mais referência a cultura africana, indígena e até mesmo a europeia, que são a origem do Brasil. Antes, coisas como “Êêêêê, índio quer apito, se não der, pau vai comer” pegavam no carnaval. É uma melodia indígena muito boa. Tem uma europeia que o pessoal gosta: “Vem jardineira, vem meu amor, não fique triste, que este mundo é todo teu”. Das africanas, uma ótima é “Sassassaricando, todo mundo leva a vida no arame”, que tem algo forte de dialeto. Me parece que essas referências não surtem mais efeito no público.

Já teve problemas com alguma de suas composições?
“Troque seu cachorro por uma criança pobre” foi um problema quando eu lancei e tenho problema até hoje porque as pessoas acham que eu não gosto de cachorro. Pra começar a letra nem é minha, é do Leo Jaime, que é um cara genial. “Doméstica” eu também tive problema, as pessoas acharam que eu estava falando mal das empregadas. Com marchinha, já pediram para retirar do repertório uma que falava “eu comi você melhor”. Concordei, acho que peguei pesado, até porque, já pensou uma criança cantando à música? Carnaval também é uma festa infantil.

Como você tem acompanhado esse crescimento do carnaval de rua em todo o país?
O carnaval de rua pegou. Passei 30 anos da minha carreira tentando estimular isso. E tem surgido uma turma nova que que quer manter esse pegada. O carnaval de rua é bacana porque é aberto e barato. Esta crescendo em tudo que é lugar.

Você se acha um veterano da cena pop rock nacional? Se sentia conectado com aquela turma?
Eu era conectado com todo mundo ali. Renato Russo era meu amigo. Cazuza, Cássia Eller também. Cássia chegou a gravar uma música minha que lançaram um tempo desses. Eu fui criado no samba, mas fiz rock’n roll com muito gosto. Foram uns oito anos fazendo rock. Eu gosto da manifestação artística como um todo. Não tenho preconceito. Também fiz música brega, já dirigi show de Amado Batista, Roberta Miranda. Os dois são meus amigos. Sou bem recebido na Mangueira, entre o pessoal da Bossa Nova. Essa abertura que o pessoal me dá não veio de graça. Eu não cai de para-quedas no meio disso. Eu estudo bastante.

Você já revelou ter Mal de Parkinson. Como tem lidado com a doença?
Primeiro, aboli a palavra Mal de Parkinson. Chamo de Park Avenue. Não deixei que a doença atrapalhasse minha vida. Não dou força pra isso. Sou convidado para dar palestra sobre o tema, estou escrevendo um livro. Acabou virando uma vertente da minha carreira. Mas em entrevistas não gosto de falar nesse assunto, porque depois me vinculam a isso. O que importa é o meu trabalho, minha música. Estou fazendo vários shows por mês, estou trabalhando num disco novo de samba, estou escrevendo um livro autobiográfico, com passagens engraçadas. Então não tem coitadismo nenhum. Estou ótimo.

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