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Saudades

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Vicente Serejo 
Vivi quarenta e cinco anos os verões da Redinha, de mil novecentos e setenta, a dois mil e quinze. Não desdigo do sol sobre o mar nas manhãs verânicas, se posso ousar no uso desse neologismo plural. Mas sempre tive um gosto pelo inverno quando adormece a praia e apaga as janelas das suas casinhas que faziam da simplicidade a vila inesquecível, feita de dias tão alegres, vividos entre copos e canções que acalentavam a doce lassidão da juventude. 
Muitas vezes, no silêncio das madrugadas de um mar muito calmo, tinha a companhia do meu vizinho, o artista plástico Diniz Grilo, de quem tenho vários quadros, inclusive um tríptico, premido em Lisboa, que ele titulou de ‘O Banquete dos Farofeiros’. Aqueles homens e aquelas mulheres, eles de cigarro nos lábios e elas de dinheiro enfiado no peito, que até hoje adornam esta sala; e a Nossa Senhora dos Navegantes louvada pelo ingênuo bloco ‘Dos Cão’. 
Nas madrugadas de lua, combinávamos, numa doce conspiração, as cadeiras na areia branca que estirava as nossas casas até perto do mar. E ficávamos ali, olhando aquele mundo sem novidades. Diniz só bebia café e, por isso, cuidava da garrafa térmica e do Nescafé que fazia de vez em quando, para fumar seu inseparável Hollywooh. E eu – pra que negar? – com meu uísque, muito de leve, só para temperar a alma livre da dor e do espanto, como no soneto.
No verão, era bom ter as meninas sob a guarda das nossas mãos, uns poucos amigos e uns pedaços de velhas canções que, de vez em quando, enchiam nossos ouvidos. Mas era ali, no inverno, naquelas madrugadas, que enfrentávamos com prazer o vento frio e dividíamos com os pescadores os goles que amornavam a carne. ‘Pirão’, pescador da vila, sempre passava para dois dedos de prosa, tomava o trago de cachaça e pedia cigarro, já a caminho do mar. 
 
As tainhas grandes e gordas eram mais fartas no fim do ano e durante o verão, de um mar que ainda era pródigo. Vinham as primeiras tainhas, corriam dos lados de Genipabu até o rio; as carapebas, salemas, saúnas, e brilhavam, intactas, como no poema de Sanderson Negreiros. No arrastão, lançado no dia já claro, vinham xaréus e cardumes de espadas, como no milagre bíblico da multiplicação dos peixes, fartura que saciava os homens e os gatos.
 
Diniz morava na sua casa que coloriu em losangos azuis, amarelos e vermelhos. Não tinha a pressa de viver os dias do veraneio. Pelo contrário. Quando a agitação do verão queria roubar a paciência, ele dizia, esperando os dias calmos: ‘O inverno chega já! Levava as horas sem fim pintando os seus quadros. E quando ouvia o barulho do meu bugre estacionar ao lado, na garagem, botava a cabeça no muro e perguntava, calmíssimo: -Alguma notícia da capital?
MOSSORÓ – Campanha de turno único e com oposição fragmentada em várias candidaturas são os pilares que apoiam a convicção de vitória de Rosalba Ciarlini, mesmo somando 30%.
ZEBRA – Mas, e ao mesmo tempo, algumas fontes admitem um crescimento do candidato Alysson Bezerra com o discurso da mudança se conquistar os votos indecisos. É imprevisível.
TEATRO – De um ex-militante que deixou as ruas, mas ainda vota no partido: ‘A candidatura de Jean-Paul Prates é uma solução antinatural. O PT parece que optou pelo teatro nas eleições’. 
RARO – O editor Abimael Silva reeditou ‘O Coronel de Milícias Caetano Dantas Correia’, de D. Adelino Dantas, que relançou em 2010 e é cotado hoje como raridade na Estante Virtual.
FACA – Por falar em raridade, um exemplar da edição original do ‘Apontamentos sobre a Faca de Ponta’, de Oswaldo Lamartine, autografado, alcançou uma cotação de R$ 800 reais.
DIÁRIO – Antes do fim da próxima semana a edição impressa do ‘Diário das Folhas Mortas’, de Antônio Melo, chega às livrarias da cidade. Para leitores que não gostam da leitura virtual.
ELEIÇÃO – A Cooperativa Cultural tem nova diretoria: a professora Wani Fernandes Pereira na presidência e o editor José Correia Torres Neto, como vice. Uma solução bem doméstica. 
ANL – O acadêmico Armando Negreiros fará a saudação sobre a vida e a obra de João Wilson Mendes Melo. E o nome bem cotado para sucedê-lo é do historiador Luís Eduardo Suassuna. 
TRUMP? – “Em algum grande e glorioso dia, a gente simples dessa terra realizará, finalmente, a plenitude de sua vontade e a Casa Branca será adornada por um completo idiota”. O recorte da frase é de H. L. Mencken, escrita em 1920, durante campanha eleitoral dos EUA. 
DIÁRIO – No Brasil, Mencken mereceu a tradução e publicação do seu famoso ‘Diário’ que circulou originalmente nos EUA e, aqui, em 1989, edição Charles Fecher. Foi traduzido por Bentto de Lima, edição Bertrand Brasil. São quase seiscentas páginas com as suas anotações.
AINDA – Um ano antes, em 1988, a Companhia das Letras já lançara a bela seleção antológica – ‘O Livro dos Insultos’ – com seleção e organização de Ruy Castro. E saiu depois pelo Círculo do Livro, uma segunda edição. Em ambas, foi mantido o posfácio escrito por Paulo Francis. 
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