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Saúde é tema de campanha da Igreja

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Roberto Lucena – repórter

Hoje, a Igreja Católica no Brasil dará início, juntamente com a Quaresma
– período de quarenta dias que antecede a Semana Santa –, à Campanha da
Fraternidade (CF) 2012. Com o objetivo de sensibilizar a sociedade
sobre a realidade dos cidadãos que não têm acesso à assistência de
saúde, bem como discutir a funcionabilidade e qualidade dos serviços
prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) escolheu como tema da CF deste ano,
“Fraternidade e Saúde”. O lema é “Que a saúde se difunda pela Terra”.

Não é a primeira vez que o tema vem à tona para os religiosos. Em 1981, a
Igreja discutiu a problemática da saúde pública na CF daquele ano, cujo
tema foi “Saúde para todos”. Criada em 1963, em Natal, a Campanha da
Fraternidade sempre pautou assuntos de cunho social e buscou apontar
soluções para os problemas. De acordo com o coordenador arquidiocesano
da Campanha desse ano, Padre Alcimário Oliveira, há dois anos o tema foi
sugerido novamente e a CNBB resolveu discuti-lo agora. “Esse é um tema
que sempre está em discussão nos encontros das arquidioceses do
Nordeste. Fizemos inclusive um abaixo-assinado para que a CNBB colocasse
o assunto em pauta novamente durante a Quaresma”, explicou.

Os trabalhos preparativos para o lançamento da CF 2012 já começaram.
Nacionalmente, a campanha será lançada em Brasília, durante a celebração
da missa de Quarta-Feira de Cinzas. Na Arquidiocese de Natal, o
lançamento ocorrerá em dois momentos: no dia 2 de março, às 8h30, será
oferecido um café da manhã para a imprensa. No dia seguinte, em horário a
ser confirmado, Dom Jaime Vieira Rocha – que toma posse como novo
arcebispo no próximo domingo – celebrará uma missa na Catedral
Metropolitana. Antes disso, no dia 24 desse mês, o Ministro da Saúde,
Alexandre Padilha, bispos e arcebispos do Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco e Alagoas participam de uma mesa redonda em João Pessoa-PB.

A CNBB vai abordar, durante a Quaresma, três, de um total de oito, metas
da Organização das Naçõs Unidas (ONU) do início dos anos 90 até 2015:
redução da mortalidade infantil, melhoria da saúde materna e combate a
epidemias e doenças. Segundo Dom Joviano de Lima, arcebispo de Ribeirão
Preto-SP, a saúde é “dom de Deus”. O religioso sugere ainda a reflexão
sobre outros aspectos nesse período. “Pensemos na importância da
alimentação e da preservação do ambiente. Porém, não podemos nos
esquecer das estruturas insuficientes dos hospitais e dos postos de
saúde”, afirmou.

Pe. Alcimário explica que uma das orientações da CNBB para essa CF é a
criação da Pastoral da Saúde nas paróquias que ainda não contam com esse
serviço. “É obrigação dos cristãos olharem para os irmãos que sofrem
com doenças”, pontuou. De acordo com a Igreja Católica, a Pastoral da
Saúde, juntamente com a Pastoral da Criança, contribuíram para o
declínio da mortalidade infantil no Brasil. Segundo um estudo divulgado
na revista The Lancet, a taxa de mortalidade infantil no Brasil caiu
61,7% entre 1990 e 2010. O que corresponde uma queda de 52,04 mortes por
mil nascimentos em 1990 para 19,88/mil em 2010.

Mas a ação da Igreja não estará concentrada dentro dos templos, nas
homilias dos padres ou reuniões pastorais. “Queremos conversar com os
Conselhos Municipais de Saúde, pedir que haja mais engajamento, ver o
que é feito em prol da saúde pública da população”, disse Pe. Alcimário.

A CNBB quer que a Emenda Constitucional 29 (EC 29), sancionada pela
presidenta Dilma Rousseff através da Lei Complementar nº141, no dia 16
de janeiro passado, seja, de fato, implementada. A Lei esclarece o que
deve ser considerado gasto em saúde e fixa, por exemplo, que Estados
devam aplicar 12% de suas receitas e Municípios 15% em saúde.

Disseminar o conceito de bem viver e sensibilizar para a prática de
hábitos de vida saudável são exemplos de outros objetivos da CF 2012. Se
depender do empenho de padres e fiéis católicos, Natal pode deixar de
liderar um ranking divulgado, em 2010, pela ONG Corações Brasil. De
acordo com o estudo, a capital potiguar é a que possui a população mais
sedentária entre as capitais do país. “Vamos estimular a prática de
exercícios. Nós devemos ser os primeiros agentes de saúde. Dar exemplo é
fundamental. A exemplo de Cristo, devemos nos preocupar com os irmãos.
Porém, é necessário cuidarmos de nós mesmos”, enfatiza Pe. Alcimário.

Usuários do SUS narram dificuldades

No dia 12 de outubro do ano passado, o ajudante de serviços gerais
Ricardo Rodrigues da Silva, 32 anos, foi assaltado e espancado por cinco
homens. Quatro meses após o episódio, as marcas da violência ainda
estão no corpo do rapaz. O rosto foi um dos locais mais atingidos. O
raio-x comprova a fratura no maxilar. O músculo está inchado e é
necessário uma cirurgia para correção do problema. Porém, até hoje,
Ricardo, que é usuário do SUS, não conseguiu marcar o procedimento. Esse
é um dos problemas enfrentados pelos milhares de natalenses que, todos
os dias, peregrinam pelos postos de saúde em busca de atendimento
médico, exames ou remédios.

Na manhã da última quinta-feira, ele era uma das dezenas de pessoas que
aguardavam atendimento no Posto de Saúde da Cidade da Esperança. A
consulta com a cardiologista foi marcada há cerca de um mês depois de
uma longa espera na fila. Porém, no dia marcado, a médica não apareceu.
Um funcionário que remarcava as consultas para o dia 6 de março, não
sabia o motivo da falta. “Não informaram porquê ela não venho. Apenas me
pediram para avisar ao pessoal que não ia ter consulta hoje e remarcar
para março”, disse o servidor que não quis se identificar.

“Isso é um absurdo. Desde outubro que eu tive esse problema e não
consigo uma cirurgia. Vivo de posto em posto para fazer exame e marcar
consulta. Pensei que ia ser atendido hoje. Cheguei aqui bem cedinho.
Agora, venha o pessoal e diz que a médica vai faltar. Não sei mais o que
fazer”, disse Ricardo.

O coro de reclamações é fortalecido por outras pessoas que aguardavam
atendimento. “Moro lá em Dix-Sept-Rosado. Fecharam o posto de lá e o
jeito é vir aqui pra Esperança. É muita gente para pouco médico. Muito
desorganizado, bagunçado. Eu mesmo deixei um requerimento de um exame
aqui e está com mais de um ano que perderam”, disse Francisca da Silva,
46 anos. “Estou esperando uma consulta na geriatra . Nem sei quando vão
marcar. A gente que não tem plano de saúde sofre muito, meu filho”,
lamentou a aposentada Lourdes Fernandes, 67 anos.

No Centro Clínico Dr. José Carlos Passos, na Ribeira, mais reclamações.
Os primeiros pacientes começam a chegar logo cedo, com o céu ainda
escuro. A pressa é justificada pela quantidade de pessoas em busca de
atendimento e o total de fichas distribuídas. “Eu cheguei aqui às 4 da
manhã. Vim na chuva para conseguir uma ficha de exame. Já são 9h e até
agora não fui atendido e ninguém diz nada”, afirmou o ajudante de
pedreiro Sérgio da Fonseca, 40 anos.

A cozinheira Marlene Araújo, 56 anos, também aguardava atendimento na
manhã da última quinta-feira. Na fila de espera, contou seu drama. “Eu
tenho problema na tireóide e preciso me consultar. Mas é difícil arrumar
um médico. Já deixei meu nome lá no posto da Avenida 12, mas até agora
não marcaram. Vim atrás de uma exame hoje, vamos ver se vou conseguir”.

Período da Quaresma tem início hoje

Escolhido pela igreja católica como um dia de penitência e jejum, a
quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma e, em nível nacional, a
abertura da Campanha da Fraternidade que este ano, tem como tema:
“Fraternidade e Saúde”. A Quarta-feria de Cinzas (22) inicia o ciclo de
preparação para a maior festa do cristianismo, a ressurreição de Jesus
Cristo, que culmina com a celebração da Páscoa.

Este ano, a Semana Santa tem seu início no dia 2 de abril e finaliza no dia 8 de abril.

O ritual da quarta-feira de cinzas têm uma simbologia bíblica. As cinzas
são distribuídas na igreja, nas celebrações da quarta-feira, após o
carnaval, explicou padre Aerton Sales, “em sinal de humilhação e
penitência”. “O costume”, detalha padre Sales, “é de se guardar os
galhos da procissão de ramos, realizada no ano anterior para que, agora,
sejam queimados e distribuídos aos fiéis”.

As celebrações da Quarta-feira de Cinzas, na Catedral Metropolitana vão
acontecer, às 11h e às 19h, sendo esta última sob a presidência do
arcebispo Dom Matias Patrício. A expectativa é de participação intensa
dos fiéis.

SERVIÇOS

O comércio de rua, os shoppings e o setor de Serviços [bancos, correios e
sistema de trens urbanos] retomam o funcionamento normal nesta
quarta-feira de Cinzas (22/02), a partir das 12h. Os supermercados já
funcionam normalmente desde a terça-feira (21/02). As agências bancárias
reabrem hoje, a partir das 12 horas, mas fecham em horário normal.

Já o Sistema de Trens Urbanos de Natal, segundo informou a CBTU, volta a
funcionar também nesta quarta-feira (22), a partir das 12h40, partindo
de Natal com destino a Ceará-Mirim. Às 14h08 sairá uma composição de
Ceará-Mirim em direção a Natal. Já na linha sul, a primeira viagem com
destino a Parnamirim, partindo de Natal, sairá às 15h35 e de Parnamirim
em direção a Natal partirá um trem às 16h20.

Na quinta-feira (23), o sistema volta a operar normalmente nas linhas Norte e Sul.

Bate-papo

Pe. Alcimário Oliveira, coordenador arquidiocesano da Campanha da Fraternidade 2012

O tema saúde pública será, novamente, tema da Campanha da Fraternidade. Como foi a escolha desse tema?

O tema é escolhido pelo Conselho dos Bispos da CNBB. As regionais arquidiocesanas mandam sugestões que são avaliadas. A regional Nordeste 2, composta pelos estados do RN, PB, AL e PE, sugeriu esse tema mais uma vez. A CNBB achou por bem atacar a ideia e, da mesma forma que ocorreu em 1981, trataremos o assunto saúde pública.

E como o tema será discutido nas igrejas?

Na verdade as equipes de trabalho, em cada paróquia, estão debatendo quais ações serão feitas. Além disso, os padres vão levar o tema às missas, no momento das homilias. Pretendemos também conversar com os Conselhos Municipais de Saúde. É importante que, dentro desses conselhos, existam cristãos preocupados com a saúde dos irmãos.

Há a intenção de, por exemplo, levar palestras para às igrejas?

Sim. O cristão precisa amadurecer a ideia de que nós somos os primeiros agentes de saúde. Somos responsáveis por melhorar a qualidade de vida de nossa casa, bairro, rua. Observando os cuidados com o meio ambiente, tendo hábitos saudáveis, alimentando-se bem.

O SUS será um dos pontos mais discutidos durante a Quaresma. Há outros pontos relevantes nessa discussão?

O SUS realmente será amplamente debatido. Mas há outros fatores como o alcoolismo, saúde bucal e obesidade infanto-juvenil que queremos debater. Outra questão que a CNBB pretende conversar com governantes e a própria população é sobre a saúde dos povos indígenas. Isso é um assunto que vem despertando nossa atenção há algum tempo.

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