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Se não chover em dois dias, Safra está comprometida

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Sara Vasconcelos – Repórter

Hudson Helder – Especial para Natal

O serviço de meteorologia da Emparn alerta que a safra de grãos, no Rio Grande do Norte, estará comprometida se não chover neste sábado e domingo. A previsão é para ocorrência de chuvas em quase todas as regiões do Estado, mas segundo o meteorologista Gilmar Bristot, nem mesmo entre os especialistas há consenso quanto às razões para o prolongamento desse veranico.

Pequenos agricultores são os mais prejudicados com os veranicos e podem perder toda a safra“Se não chover nas próximas 48 horas é certo que nossa safra estará comprometida. As chuvas irregulares e esse veranico ocorrem quando todo mundo já plantou. Se a água não chegar haverá interrupção do ciclo”, afirma.

Chefe da meteorologia da Emparn, Bristot sustenta que os dados disponíveis continuam apontando para um inverno de normal a acima da média. “Mas as chuvas estão caindo no oceano [Oecano Atlântico]. Há uma espécie de ‘barreira’ que impede as chuvas no continente. Até agora, isso pode ter relação com o vento”.

A situação, segundo Bristot, não ocorre apenas no Rio Grande do Norte. O veranico tem afetado toda a região do semiárido do Nordeste, apesar dos indicadores usados como parâmetros para previsão do tempo apontarem possibilidade de chuva nos últimos dias. “Esse veranico deveria ter terminado na quinta-feira da semana passada, quando houve aquelas chuvas. Mas é fato que continua”, diz o meteorologista.

Na segunda quinzena deste mês ocorre mais uma reunião de avaliação dos meteorologistas, em Alagoas, quando devem ser analisadas as possíveis causas. A expectativa é que para este fim de semana os ventos diminuam e, com isso, a zona de convergência atue sobre o continente.

Apesar do prognóstico limitar a este fim de semana, como será a safra no Rio Grande do Norte este ano, a Companhia  Nacional de Abastecimento (Conab) mantém o otimismo. Em levantamento sobre a safra de grãos divulgado  na Tribuna do Norte, do dia 11 de março, a expectativa apontava um crescimento de 94% na produção do Estado, em comparação com o registrado em 2009/2010. Chegando a 55,9 mil toneladas de milho, feijão e arroz. Algodão e sorgo.

“O posicionamento continua o mesmo, de boa safra, mas a projeção ainda está indefinida. Só poderemos afirmar quando encerrarmos o levantamento em campo, junto aos produtores rurais, nos meses de abril e maio”, afirma o analista de mercado de produtos agrícolas da Conab Luiz Gonzaga Araújo e Costa. A projeção inicial foi feita com base nas previsões meteorológicas de chuvas acima da média.

Fetarn garante que safra já está comprometida

A Federação  de Trabalhadores de Agricultura do Rio Grande do Norte (Fetarn) já afirma. “A safra já está comprometida devido o atraso no plantio”, garante o engenheiro agrônomo e assessor da Fetarn Obdon Fernandes Neto. Apesar do anúncio de inverno acima da média e das fortes chuvas que caíram em janeiro, o agricultor em muitas regiões ainda aguarda o corte de terra. O atraso se deve a irregularidades das chuvas e também a falta de incentivo de algumas prefeituras, quanto o corte de terra.

“O plantio para mercado está atrasado. Mas é cedo para dar estimativas”, disse Obdon Fernandes. Isto porque as chuvas dos meses de abril a junho são as que definem a produção. Contudo, o agricultor familiar (cultivo para consumo) que aproveitou as primeiras chuvas de janeiro, já está colhendo. “Mas é agricultura de subsistência, a de mercado pode sofrer alguma perda, mas nada comparado ao ano passado”, pondera o engenheiro. 

O inverno em condições normais inicia  pelo Alto Oeste  e no Médio Oeste, e na região do Agreste potiguar somente a partir de abril e maio. Em alguns pontos da região do Trairi, como Tangará e Jucurutu, os índices pluviométricos chegaram a medir chuvas de até 200 milímetros em apenas quatro horas, provocando a sangria de reservatórios locais. Na região do Mato Grande os campos ainda aguardam a semente, apesar de terrenos estarem preparados.

Emater continua apostando em inverno regular

Caso não chova de fato a partir deste mês, o cenário agropecuário passará a preocupante. “Não aguardamos mais a boa perspectiva de safra robusta, como no início do ano, mas de uma safra regular. Se conseguirmos colher até 60% do que for cultivado não estaremos em prejuízo”, disse Emmanoel Costa.

A situação atual gera uma sensação de fragilidade para o produtor, explica o diretor técnico da Emater Emmanoel Mateus Alves da Costa.  “Apesar do aporte do Estado, algumas prefeituras também adiaram ações sistêmicas em virtude das anormalidades deste inverno”.

Segundo o diretor técnico da Emater, todos os municípios possui estrutura básica para atender a  demanda local, quanto ao corte de terra. Este ano, foram entregues 80 tratores. Os municípios são beneficiados ainda com uma parceria entre o estado e a Petrobras, que garante subsídios o óleo.

O Programa Banco de Sementes do Governo do Estado distribuiu 120 toneladas de sementes de feijão, 120 de milho e 98 toneladas de grãos de sorgo. Este ano, o programa implanta uma área para plantio de girassol. O programa atende mais de 30 mil produtores rurais e o Semear atenderá cerca de 5 mil famílias de comunidades e assentamentos rurais.

Os técnicos da Emater também prestam assistência em praticamente todos os municípios do Estado. Muitas famílias de pequenos agricultores já plantaram as sementes e agora esperam as chuvas.

Deslocamento do eixo da terra está sendo estudado

A falta de chuvas que contraria a previsão meteorológica, suscita na população questionamentos sobre possíveis causas no deslocamento do eixo da Terra causado pelo terremoto no Japão.  À época da catástrofe que assolou aquele país muito foi falado sobre o assunto. Para o astrônomo e Professor Titular da UFRN José Renan de Medeiros (Ph.D.), é impossível estabelecer uma relação direta entre os terremotos acontecidos recentemente no Japão e mudanças climáticas ou falta de chuva numa determinada região do planeta. Esta impossibilidade surge de uma constatação simples feita pela Ciência ao longo dos anos: mudanças climáticas associadas a qualquer fenômeno, seja em escala regional ou em escala global, levam muito tempo para se manifestar  e nunca acontecem da noite para o dia.  “É falacioso afirmar que em tão pouco tempo os terremotos do Japão já possam produzir mudanças climáticas”.   O clima, esclarece Renan Medeiros, tem um comportamento de variação sazonal natural,  e as mudanças só podem ser consideradas reais se forem observadas repetitivamente em grandes intervalos de tempo.  Falta de chuva, menor ou maior precipitação num período ou numa região é perfeitamente natural. O que deixa de ser natural e passa a ser preocupante é se esses fatos começarem a se repetir todo ano.O histórico das chuvas na região Nordeste e no Rio Grande do Norte, apresenta extremos climáticos, com anos de muita chuva e anos de seca. “Não podemos em hipótese alguma afirmar que um possível período de secas ou “veranico” aqui no estado, este ano, esteja ligado com terremos no Japão.  Trata-se de um fenômeno completamente independente”, garante Renan Medeiros. Segundo o astrônomo, não é possível afirmar que os deslocamentos atuais observados no eixo da Terra tenham implicação imediata em mudanças climáticas ou falta de chuva numa região. Apesar de variações no eixo da Terra afetarem toda a dinâmica terrestre, incluindo fenômenos atmosféricos como as chuvas,  tal fenômeno levaria muitos anos.

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