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Secos e molhados

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Valério Mesquita
Escritor

01) Doutor Zé Leão, médico mossoroense, gozador por natureza, postava-se na fila do cinema. De repente, chegou um rapaz e interpelou: “Doutor Zé Leão, por favor não se mexa”. Ele sentiu um choque. “Não é nada demais, não”, explicou o jovem, “é só um besouro daqueles fedorentos aqui no seu paletó”. Em seguida, deu um capilé no coitado, que foi cair longe. Zé Leão devolveu: “Obrigado”. O conterrâneo esperou um instante e falou: “Doutor, dá pra o senhor arranjar aí dois contos para eu ‘enterar’ a minha entrada?”. Zé Leão olhou o jovem e detonou: “Vá buscar o besouro e bote o bichinho aqui de novo”.

02) O dr. Luiz Antônio, ateu juramentado, sempre repetia que da sua cabeça pra cima não acreditava em nada. Um dia faleceu um grande amigo que residia no bairro da Ribeira. Por força da amizade, foi ao velório e ao enterro. Luiz Antônio, bastante gordo, mesmo assim, postou-se a frente e segurou a alça do caixão do compadre que beirava uns cem quilos de peso. O cortejo subia a velha Junqueira Aires, rumo ao cemitério do Alecrim. O famoso médico e escritor, já suado, olhava de lado mas ninguém se candidatava a substituí-lo. Tirou o lenço, enxugou o rosto, mostrou cansaço e ninguém o acudia. Chegaram à catedral na Cidade Alta. Missa de corpo presente, recomendações, etc. Abriram o caixão. Muito choro dos parentes. Quando o padre se aproximou, o médico fitou o caixão e soltou o verbo em tom de oração: “É, meu compadre, até aqui eu lhe trouxe. Daqui pro Alecrim o diabo que o carregue. Você pesa demais.”

03) No seu governo, Geraldo Melo criou um programa tipo: “Conversa com o povo”. O pessoal escrevia e Geraldo respondia a missiva pelo rádio. Um jovem inventor dirigiu uma missiva ao governador pedindo um motor de um fusca, o qual seria usado num aeroplano concebido pelo próprio. Geraldo, num misto de sapiência e ironia, comentou via rádio: “Meu caro José, desde já admiro sua inteligência. Não vou poder atendê-lo, pois tenho medo que você saia voado – se voar – por aí e caia em cima de uma casa e, eu seja chamado de irresponsável. No entanto, vou lhe presentear com um jumento andaluz. É um meio de transporte bem mais seguro. Um abraço do seu governador.”

04) Sezildo Câmara foi líder estudantil no Atheneu nos idos 67/68. Estudante rebelde, foi perseguido e preso pelo regime. Por conta desses problemas políticos, prejudicou a sua juventude. Anos mais tarde, o seu primo Eduardo Moura se elegeu prefeito de Patu e o nomeou para ser uma espécie de assessor de imprensa da prefeitura. Como não existia rádio em Patu, foi montado um programa que ia ao ar através do serviço de som da Igreja Católica, com excepcional escuta na comunidade. Na primeira viagem do prefeito, ele se esmerou na divulgação: informou o horário do voo, a companhia aérea, o número da poltrona do avião, etc., etc. Dia seguinte, o prefeito telefonou informando que a aeronave sofrera uma pane muito séria entre Recife e Fortaleza. O assessor não perdeu tempo: colocou no ar um dobrado militar e passou a detalhar o fato pela amplificadora. No final do relato, já emocionado dizia: “O nosso prefeito se comportou como um verdadeiro herói; em momento algum demonstrou medo; suava muito; tremia muito; sua face empalideceu, teve náuseas, mas não chegou a chorar, apesar de sentir um nó na garganta. Finalmente quero enfatizar que a palavra medo não existe no vocabulário do nosso prefeito.” Não precisa dizer que o relato dúbio e hipócrita do assessor provocou na cidade incontornável crise política.

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