Numa tarde de julho de 2016, no Rio, eu bebericava uns chopes com amigos no badalado bar Jobi, no Leblon, quando vi passar a figura delgada do cantor Ney Matogrosso. Deslizava entre as pessoas que tomavam a calçada, olhar fixo no rumo da venta, carregando uma pequena sacola de supermercado, onde decerto estavam alguns víveres recém-comprados. Impossível não me remeter ao passado, ao surgimento do fenômeno do Secos & Molhados.
Foi João Ricardo, durante umas férias em Ubatuba, que viu uma velha placa com o termo “secos e molhados” e ligou para o amigo Gerson Conrad, com quem desde o fim dos anos 1960 tinha sonhado cantar e compor canções.
Nesse meio tempo, Ney Matogrosso tentava ganhar trocados vendendo bugigangas de artesanato hippie nas praias cariocas. Já tinha mais de 30 anos e nenhuma perspectiva profissional, abortada fazendo teatro no ano de 1964.
Os dois jovens amigos tocavam em São Paulo, o português João com 24 e o paulistano Gerson com 21. O segundo detestou o nome, mas encarou a sugestão do parceiro de adolescência. Ficava faltando alguém para cantar.
Ney foi exportado do Rio por sugestão da amiga e cantora Luhli, que acabou sendo coautora do estrondoso sucesso “O Vira”, já no icônico primeiro LP que saiu pela gravadora Continental com o empurrão do jornalista Moracy do Val.
Secos & Molhados balançou o coreto da conjuntura de censura e deu uma sacudida na MPB como se fosse a sobrevida da Tropicália se levantando mais transgressora e mais desbundada, unindo poesia, glam rock e teatro kabuki.
Semana passada mergulhei mais nas lembranças do fenômeno musical que ameaçou a hegemonia do rei Roberto Carlos, vendendo seis vezes mais discos nos primeiros meses de lançamento do LP que ainda toca na minha vitrola.
O mergulho foi possível com a chegada do livro “Primavera nos Dentes – A História do Secos & Molhados”, um belo e profundo trabalho do escritor e cineasta Miguel de Almeida e que vai virar uma série de TV no Canal Brasil.
Agora é aguardar a produção e conhecer os atores que irão interpretar o trio. Ney Matogrosso completou em agosto 78 anos; João Ricardo vai fazer 70 em novembro; e Gerson Conrad fará 68 anos no próximo abril.
Quando será que a Política (maiúscula), o Judiciário, o MP ou o TCE irão exigir que nas licitações públicas seja obrigatória a presença de gente qualificada nas comissões julgadoras? Em cada setor, um profissional apto para avaliar.
Assaltos
O estilo dos recentes assaltos a aeroportos brasileiros faz lembrar as ações terroristas dos anos 1970. Uma incrível coincidência com as manifestações que ocorrem simultaneamente no Peru, no Equador, no Chile e na Argentina.
Confrontos
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, disse com todas as letras que o país está em guerra contra uma esquerda baderneira. Botou as Forças Armadas na rua e decretou toque de recolher em várias cidades, principalmente Santiago.
Radicalizou
No Peru, o presidente Martín Vizcarra fechou o Congresso e destituiu o Superior Tribunal. Dias depois sua popularidade disparou para 79% de aceitação. E olhe que o supremo peruano nem estava soltando bandidos.
Caos catalão
Domingo em Barcelona, manifestantes seguindo orientação de lideranças de esquerda depredaram lojas e espalharam lixo pelas ruas, após derrubarem os latões encontrados nas calçadas. Turistas estão cancelando visitas à cidade.
Frota do Lula
Alexandre Frota ameaça aderir à campanha do Lula Livre para confrontar Bolsonaro. Faz o caminho inverso daqueles que levantaram a bandeira do PT e depois se baldearam para o candidato do PSL. É o pragmatismo cínico.
Na Paraíba
O governador João Azevedo (PSB) vai fazer uma limpa nos cargos comissionados oriundos da administração anterior de Ricardo Coutinho, hoje desafeto interno no partido. As exonerações devem sair nos próximos dias.
Em Portugal
O cantor e compositor potiguar Geraldinho Carvalho vai apresentar o show Estilhaço de Alegria (do novo disco) em Lisboa, no próximo dia 2 de novembro. O local é o Acarajé da Carol, point de brasileiros, no Bairro Alto, às 19h.