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Segredos de um velho mestre, Celso Martinelli

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CELSO MARTINELLI - Com amigos, foi ao departamento pessoal sua ficha de admissão

Apontado como o homem que revolucionou o rádio esportivo potiguar, Celso Martinelli após longos anos residindo em Belo Horizonte visitou Natal e pôde matar a saudade dos bons tempos em que atuou na cidade, revendo amigos, visitando o ABC e matando saudade da própria cidade, que considerou bastante evoluída. O locutor esportivo entrevistado especial do programa Esportes em Debate que vai ao ar hoje em duas edições fez revelações surpreendentes sobre a briga pela audiência durante aquela que foi considerada a época de ouro da radiofonia no RN, bem como tratou de colocar os pingos nos “is” de algumas histórias que a longo do tempo se transformaram em causos.

A primeira grande revelação foi quanto ao novo estilo implementado nas resenhas esportivas da Rádio Cabugi, hoje Globo Natal. Ele revelou que a forma já era utilizada com sucesso no rádio baiano pelo locutor França Teixeira, a quem reputa como a pessoa mais importante com que já teve a oportunidade de trabalhar no ramo radiofônico. Vindo da escola da Rádio Sociedade de Salvador, Martinelli afirmou que só fez chegar a Natal adaptar a forma de ancorar os programas ao seu estilo despojado e muito irreverente.

“Naquela época as resenhas eram frias, as informações dos clubes não passavam de notícias lidas no ar por um locutor. Quando ele chegou colocando repórteres para cobrir o dia a dia dos clubes, entrevistando técnicos jogadores e dirigentes ao vivo, dando vida a notícia, arrebatou toda audiência. Além disso, ele sempre cativava o ouvinte com o modo humorado de conduzir o programa”, recorda o repórter e historiador Everaldo Lopes,  da Tribuna do Norte.

Celso também conseguiu reunir o que se pode chamar da elite da radiodifusão potiguar naquele tempo, um dos nomes de maior prestígio era Souza Silva. “Esse rapaz tinha um talento incrível aquele jargão ‘alô Deus, a Frasqueira te agradece’ deve povoar o imaginários dos abecedistas até hoje. Mas a disputa pela audiência era muito ferrenha porque os outros prefixos também possuíam profissionais de alta qualidade”, lembra.

Martinelli ressalta que um dos maiores concorrentes na briga pela maior fatia do público potiguar era Roberto Machado, a quem realizou vários elogios. “Esse é um grande profissional. Se nós fôssemos dois músicos eu diria que Machado era aquele cara dedicado que tocava por partitura, digamos um músico clássico. Já eu era aquele cantor de MPB, afinado, mas que só pegava as músicas de ouvido mesmo. Ele era isso tudo só que não conseguia emplacar uma grande audiência na Rádio Nordeste, mas devo reconhecer que se alguém tiver de listar fazer uma lista com os 70 maiores locutores de futebol de todo país, certamente Roberto Machado estaria dentro dela”, frisou.

Se na década de 70 manter uma boa audiência no rádio era um grande desafio, o locutor esportivo acredita que atualmente o desafio ficou infinitamente maior e explicar o seu ponto de vista. “Na minha época nós tínhamos apenas de impor um tipo de programa que agradasse o ouvinte. Hoje a situação é mais complicada devido à difusão dos outros meios de informação, as pessoas que acompanham o noticiário esportivo atualmente estão mais exigentes quanto à qualidade da informação e os locutores são obrigados a interagir cada vez mais com o público. A comunicação mudou sua face de uma forma surpreendente que, sinceramente, não se atualmente eu faria o mesmo sucesso daquela época”, salientou, ressaltando o poder da televisão e da internet.

Celso Martinelli se mostrou feliz em saber que a rádio pela qual entrou no mercado potiguar de comunicação continua liderando a audiência e confessou que embora estivesse muito satisfeito na Cabugi, topou o desafio de sair para assumir a o comando e esporte da antiga Rádio Poti com objetivos apenas profissionais, só não entendeu o clima de ciumeira que se instalou no mercado após a mudança.

“Quando optei pela transferência estava visando apenas à abertura do mercado de rádio para as equipes esportiva. Não adiantaria nada querer monopolizar o mercado num único prefixo e fazer com que vários outros profissionais ficassem sem mercado. Pouca gente entendeu isso na época. Não foi por causa de dinheiro que sai, eu sabia que se fosse falar com José Gobat a direção da Cabugi cobriria a proposta”, afirmou salientando que só não esperava ser mal entendido.

“A partir de então surgiu um período de disse-me-disse na radiofonia que por pouco não acabou em bofete. Eu e Hélio Câmara criamos uma rixa muito grande através do microfone com piadinhas de lado a lado a ponto de ele subir a ladeira e ir até a Rádio Poti tirar satisfação comigo. Só não chegamos as vias de fato porque a turma do deixa disso agiu rápido e acalmou os ânimos. Depois virou lenda na cidade de que nós havíamos marcado um duelo, chegando a juntar um bom número na porta da Poti para ver a gente sair no tapa, mas isso é mentira”, revelou.

Radialista destaca a qualidade de Ben-Hur

Nem só de vanguarda vive o “velho mestre”, Celso Martinelli que teve a oportunidade de rever o ABC atuar e ficou impressionado com a qualidade de alguns componentes do atual elenco Alvinegro. O que chamou mais a atenção do narrador esportivo foi o zagueiro Ben-Hur, apontado como o grande timoneiro da equipe dentro das quatro linhas.

“Esse zagueiro Ben-Hur já está pronto para atuar em qualquer grande clube do país. Tem uma boa antecipação, um bom senso de colocação e muita raça. Todos os requisitos comuns em grandes zagueiros”, destacou.

Porém, os jovens valores do clube mereceram uma atenção especial de Martinelli, para quem o Alvinegro deve servir de exemplo para os demais clubes nordestinos, ao mostrar na prática, que se pode montar um bom elenco com jogadores apenas da região Nordeste. “Esses jovens Nêgo e Wallyson também possuem futebol suficiente para fazer sucesso fora de Natal, só precisam ser mais lapidados. Por sinal, Emerson Leão regressou a Belo Horizonte após a partida contra o América falando maravilhas desse lateral do ABC e parece que já indicou a contratação de Nêgo à diretoria do Galo”, salientou.

Bom observador de futebol o radialista também fez um alerta ao treinador Ferdinando Teixeira. “O ABC está muito afoito dentro de campo, partindo com sede de vitória para cima dos adversários. A equipe tem que ser mais paciente em campo e deve valorizar mais a posse de bola, caso contrário poderá ser surpreendida”, frisou.

Narrador testemunhou recorde abecedista

Diz o ditado que tudo o que é bom dura pouco, e foi assim a passagem de Celso Martinelli pela antiga Rádio Cabugi. Sua ficha de admissão na emissora foi assinada no dia 13 de fevereiro de 1972 e dada baixa exatamente um ano depois.  Esse curto período de tempo foi suficiente para marcar o nome do narrador esportivo na história da rádio e também do ABC, uma vez que ele foi o único representante da imprensa esportiva a acompanhar o Alvinegro na excursão de 110 dias pelo continente europeu e o africano.

O radialista recorda que esse fato ligado as várias injustiças realizadas contra o clube por parte da CBD (Confederação Brasileira de Desporto) — que eliminou a equipe do campeonato nacional e ainda o suspendeu por outros dois anos, aliada a algumas ameaças que ele sofreu por parte de alguns dirigentes americanos, fizeram nascer a sua afinidade com o ABC. “Sem poder atuar no Brasil o clube tinha de arranjar um meio para se manter ativo ao longo do ano e, por este motivo resolveu excursionar recebendo uma cota de cinco mil dólares. Uma verdadeira mixaria”, lembra.

Os resultados da equipe potiguar na Europa não foram tão significantes, uma vez que os espaços entre os jogos eram muito extensos devido à falta de definição dos adversários. Quando chegou à Romênia os jogadores ficaram comendo, bebendo e dormindo num hotel durante vários dias antes de voltar a campo o que refletiu no desempenho irregular, na visão do radialista. Mas na África, onde o calendário estava todo acertado e houve uma seqüência de jogos o ABC deslanchou.

Na época com todas as dificuldades impostas pela falta de tecnologia apropriada, Celso Martinelli gravava a narração dos jogos numa fita magnética e remetia para Natal por pilotos de algumas companhias aéreas com vôos para o Brasil. Em resumo, os torcedores natalenses escutavam a partida com uma semana de atraso, e ainda assim conquistava bons índices de audiência.

Foi justamente a guerra pela audiência que fez a emissora mandar interromper após a primeira fase, a sua jornada junto ao ABC no exterior. “Foi registrada uma queda de audiência nas pesquisas e os diretores mandaram que eu retornasse imediatamente a Natal. A briga na época era muito acirrada e ninguém queria perder um pontinho sequer para o outro”, explicou.

Sem sombra de dúvidas, o ano em que passou no comando da equipe esportiva da Rádio Cabugi, foi um dos mais movimentados na carreira do inesquecível Celso Martinelli. 

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