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Segurança de Alcaçuz não é reforçada após fuga

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Marco Carvalho e Ricardo Araújo – repórteres

Quem pensou que veria alterações na estrutura de segurança da Penitenciária Estadual de Alcaçuz se enganou. Quatro dias após a maior fuga da história do sistema prisional do Rio Grande do Norte, os esforços no sentido de aumentar o efetivo de agentes penitenciários e policiais militares ainda não surtiram nenhum efeito na prática. Ontem, onze agentes eram responsáveis pela guarda de cerca de 800 detentos da unidade prisional, quantidade similar ao que estava de serviço na quinta-feira da semana passada – dia da fuga de 41 detentos do novo pavilhão. Apesar da promessa do comando da Polícia Militar, ainda existem guaritas desativadas. Nesta segunda-feira, seis das onze estavam em funcionamento.
Ontem, das onze guaritas do Presídio Estadual de Alcaçuz, apenas em cinco havia policiamento
“Eles estão esperando acontecer novamente”. A frase de Raul Moreira, vice-presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Rio Grande do Norte, faz referência à fuga recorde e é dirigida às autoridades da Secretaria de Justiça e Cidadania e do Governo do Estado. Para ele, a ausência de medidas no sentido de garantir a segurança da unidade prisional representa o descaso com a situação caótica do sistema prisional. “Falaram muito de negligência dos servidores. E a negligência do Estado que ninguém falou? A situação precária já é conhecida e denunciada há muito tempo”, afirmou.

As primeiras medidas práticas do Governo do Estado começaram a ocorrer no sábado passado, um dia depois da fuga em massa. A Sejuc atendeu a um pedido realizado pela direção do presídio e entregou 52 dos 90 cadeados requisitados. O pedido já havia sido feito pelo então diretor, major Marcos Lisboa, e não encontrou resposta do Governo. Todos os cadeados já estão em uso no pavilhão Rogério Coutinho Madruga, onde ocorreu a fuga durante a semana passada.

Apesar de terem visto o pedido parcialmente atendidos, os agentes penitenciários não sentem o local de trabalho mais seguro. “Cadeado não segura preso. Esse é um ditado da cadeia. O que segura preso é fuzil na guarita. É o que eles têm medo”. A declaração é de um agente penitenciário que preferiu não se identificar. Para ele, a unidade ainda apresenta fragilidade que coloca em risco tanto os funcionários quanto a sociedade.

Segundo o agente entrevistado  pela equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE durante a manhã de ontem, os detentos conseguem ter acesso a qualquer parte do pavilhão através das entradas de ar das celas. “Eles quebram um tijolo e já conseguem sair. O cadeado não representa nada para eles. O problema aqui é bem maior”.

Presos recapturados

Apesar do esforço da Polícia Militar em deslocar todo o efetivo de serviço para buscar os foragidos de Alcaçuz, até a noite de ontem apenas cinco dos 41 detentos haviam sido postos novamente atrás das grades. Outros 36, dentre assaltantes, homicidas e  traficantes, permanecem soltos. Os três primeiros a serem recapturados – Thiago Roberto da Silva, Caio César Marinho Cândido e Everton Patrick de Melo – foram encontrados ainda durante a noite da fuga. No sábado passado, Jeferson Câmara de França foi preso novamente no conjunto Vale Dourado, zona Norte de Natal. No domingo, a PM encontrou Rodrigo Carvalho Pacheco nas imediações da Barreira do Inferno, limite entre Natal e Parnamirim.. Ele fugiu para a área pertencente à Força Aérea Brasileira após ser abordado por uma viatura policial.

Detentos explicam como fugiram

A TRIBUNA DO NORTE entrevistou, com exclusividade, os quatro detentos recapturados pela Polícia Militar após terem fugido do Pavilhão Rogério Coutinho Madruga, no município de Nísia Floresta, na noite da quinta-feira passada. Além disso, teve acesso ao interior do presídio considerado de segurança máxima e percorreu os locais pelos quais os 41 presos fugiram.

De acordo com o relato de um dos recapturados, para abrir as celas, que na ocasião estavam sem cadeados, eles utilizam barras de ferro extraídas das colunas de divisão de um banheiro construído dentro do solário (espaço utilizado para banho de sol e recreação).

Após chegarem ao solário, ainda segundo um dos detentos, articularam como se daria o processo de fuga. Enquanto isso, um outro grupo cortava pedaços de lençóis e formava uma corda, chamada de “tereza”, utilizada como escada para chegarem ao teto e pularem o muro. Percebe-se que os ferros do teto do solário foram quebrados na emenda da chumbagem. Grande parte da estrutura está enferrujada.

Do lado de fora do pavilhão, eles retiraram a escada da estação de tratamento de esgoto, que é de encaixe e fácil de ser manuseada, e a posicionaram na lateral do muro do presídio, ao lado de uma das guaritas. Na ocasião, a guarita estava sem policiamento. Outros presos fugiram escalando um portão existente nos fundos da unidade prisional. As pegadas na areia da parte externa do complexo ainda podem ser vistas.

“Quando eu vi tudo aberto, eu me aprontei e fui embora. Era a tão sonhada liberdade ali, na minha frente. Eu fui um dos últimos a sair. Eu prefiro morrer do que soltar qualquer informação de como foi esta fuga”, disse Thiago Roberto da Silva, 29 anos, preso por assalto a mão armada e recapturado em Pirangi do Norte.

“Eu estava dormindo e quando ouvi foi o barulho e todo mundo querendo fugir. Eu não esperei por ninguém mais e fugi mesmo. A vida aqui dentro é cruel e a Justiça demora demais nos processos”, afirmou Everton Patrick de Melo, 24 anos, preso por tráfico de drogas e que também foi recapturado em Pirangi do Norte.

Secretário quer reformas emergenciais

O secretário de Justiça e Cidadania, Fábio Luís Monte de Hollanda, quer reformas emergenciais na estrutura da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta – Região Metropolitana. Para isso, ontem ele estava com reunião marcada com a titular da pasta de Infraestrutura do Governo do Estado, Kátia Pinto. Para ele, já houve mudanças cruciais em Alcaçuz e a expectativa é que uma nova realidade de segurança comece a se instaurar. Em entrevista à TN, Hollanda apresentou a justificativa para que as guaritas da unidade prisional não estivesse integralmente ocupadas, mesmo após o registro da fuga. “Há guaritas em Alcaçuz que não possuem a menor infraestrutura para que o policial militar possa trabalhar. Se chover, ele se molha”, afirmou.

Segundo o informado pelo secretário, são justamente as guaritas que receberão as reformas emergenciais. “São serviços urgentes e para isso estou me reunindo com a Secretaria de Infraestrutura”. Outra reformas começam a ser planejadas com a elaboração do levantamento da estrutura de Alcaçuz. “Vamos transformar o sistema. A fuga agora faz parte do passado”, declarou Hollanda.

Para investigar as circunstâncias da ocorrência durante a quinta-feira passada, a Sejuc instaurou desde a sexta-feira uma sindicância. A comissão formada analisa primeiramente a necessidade de afastamento de algum servidor público que possa ter facilitado a ação dos criminosos. “A urgência na apuração é necessária. Mas,  é preciso cautela para não haver erros”.

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