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Selva urbana

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Da mesa de um café, numa esquina, olho a Av. Paulista no domingo de sol depois da peste. Um Brasil desmascarado, real. Uns andam, outros correm, passeiam de bicicleta. Há os que vendem, tocam guitarras, bandolins, sanfonas e zabumbas. É o retrato do Brasil –  mestiço, misturado, confuso e profuso, enquanto as toalhas tremulam com os rostos de Lula e Bolsonaro com as rajadas do vento, e um mágico andrajoso esconde, entre os dedos, a tristeza de cada um. 
Somos assim, Senhor Redator, e tão perfeitamente, que a cena fez flutuar nas águas da memória o subtítulo que sustenta o livro de Paulo Prado quando explica que é um ensaio sobre a tristeza brasileira. Quem tiver olhos agudos nota, muito simplesmente, que há, em tudo, os traços daquele cenário melancólico. Essa alegria toda que veste jeans e calça tênis não deixa de ser a fantasia de um povo triste a viver numa terra radiosa, se assim, um dia, nos foi dito ser.
Não foi sem sentido que Paulo Prado, amigo de Capistrano de Abreu, e a quem recebia na sua mansão de Higienópolis, foi buscar numa carta do grande historiador aquela epígrafe do seu livro – um jaburu, uma perna encolhida e equilibrado na outra, triste, triste. Prado era um aristocrata que vivia entre Paris e São Paulo. Certa vez, confessou ao seu amigo René Thiollier que faltava ao prazer de conviver com as mulheres parisienses só para ouvir Eça de Queiroz. 
São Paulo é rica, mas não parece tão aristocrática quanto foi no final do século dezenove e primeiras décadas do século vinte. A riqueza, Senhor Redator, nem sempre enobrece. Alguns historiadores chegam a admitir que a crise do café tirou a riqueza das mãos dos barões do café e pôs no balcão dos comerciantes e nos industriais emergentes. Estes, desejosos da nobreza, casaram com as filhas de famílias decaídas e ganharam a nobreza pela certidão de casamento. 
Mas, a riqueza tem sua força de algum modo enobrecedora. E não é difícil distinguir os estamentos sociais a partir da roupa. São efígies do status econômico. Umberto Eco reconhece que a roupa é uma segunda pele. Não faz o monge, mas é capaz de vesti-lo. E é assim que todo esse mundo humano vai revelando os traços de poder econômico. Uns mais, outros menos, uns de verdade e outros que apenas sabem simular, num conjunto vário e rico de cores e marcas.  
Eis o mundo que vou vendo daqui, entre um gole e outro do café forte nessa manhã de sol frio. Depois de dois anos de ausência, nada mudou nessas manhãs de domingo na Avenida Paulista. Os heróis de plástico encantando as crianças, os músicos, os mágicos, os senhores e as senhoras de fino trato, brancas no contraste com os negros e seus cabelos e tranças rastafári. Cada um com a sua alegria e sua tristeza. Que a vida, avisou o poeta, não é de brincadeira não.
MEDO – Os percentuais de Styvenson Valentim nas últimas pesquisas fazem medo de Fátima Bezerra a Fábio Dantas. Fátima teme o segundo turno. Fábio de nem sequer chegar. É a luta. 
FORÇA – O livro ‘Liberdades’ que começa a chegar hoje nas livrarias, tem onze autores de peso em torno do grande esteio das sociedades democráticas: os onze ministros do Supremo.
ARROJO – O CEI Romualdo mostra sua lucidez. A aula temática foi sobre “O Angustiante Século XXI: revisionismos, negacionismos e desigualdades na contemporaneidade”. No alvo.
MISTÉRIO – Bodó, Lagoa Nova e Cerro Corá ficaram de fora da adutora de R$ 314 milhões. O povo de Cerro Corá vai ser o grande prejudicado por já não ter a água de Serra de Santana.
CAOS – Foi sereno, mas contundente como posição, o editorial de ‘O Estado de S. Paulo’ ao condenar o Projeto de Lei que tira dos governadores a autonomia sobre as Polícias  Militares.  
DIAMANTES – Pronto, e chega aos olhos do leitor ainda em agosto: “Diamantes Invisíveis”. É o novo livro do empresário Paulo de Paula. Organização é do biólogo Iveraldo Guimarães.
POESIA – De Newton Navarro, no seu sempre tão belo e relembrado poema ‘As Roupas’: “As roupas escuras / esconderam meus pecados mortais. / Roupas brancas – nunca mais…”. 
CENA – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, o olho certeiro vendo o jogo de uma figura do jet: “A elite sabe ser falsa quando é para compor as cores do cenário social”. 
LINS – Para demonstrar o valor do cronista José Lins do Rego, consagrado muito mais como romancista, a editora Global acaba de lançar, edição pocket, aquela que até hoje é a mais ampla e completa seleção das suas crônicas, ele que foi colaborador assíduo de vários jornais do Rio. 
QUEM – A antologia é organizada pelo professor Bernardo Buarque de Hollanda, nascido em São José da Costa Rica, filho de brasileiros exilados, hoje no Brasil. A organização é temática: sobre o Nordeste e o Rio de Janeiro, política, esporte, cinema, viagem, figuras e personalidades.   
CRISE – Resumo do editorial do jornal ‘O Estado de S. Paulo’, sobre a crise financeira que o próximo governo irá enfrentar: “Desarranjo fiscal, dívida mais cara, juros altos, baixo potencial de crescimento”. E afirma o jornal, isento: não importa o eleito, Lula da Silva ou Jair Bolsonaro.
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