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Sem cuidados, a coluna fica por um triz

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Em alguma fase da vida de qualquer pessoa é possível que surja um tipo de doença da coluna vertebral. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população mundial está sujeita a esse problema. Há também uma tendência crescente, devido aos hábitos contemporâneos, de que pessoas cada vez mais jovens adquiram algum tipo de doença do gênero. A prevenção continua sendo a melhor forma de manter a coluna protegida desse estorvo físico que, se não for bem cuidado, acarreta sequelas sérias. Postura correta em todos os sentidos.

Neurocirurgião Marco Moscatelli alerta para os riscos do sedentarismo tecnológico para a coluna


Neurocirurgião Marco Moscatelli alerta para os riscos do sedentarismo tecnológico para a coluna

“A dor é o principal sinal de que algo não está correto com nossa coluna. Ao primeiro sinal é preciso procurar logo ajuda para que haja um diagnóstico precoce. Em um quadro mais grave é possível que haja déficits neurológicos e dores intratáveis”, alerta o neurocirurgião Marco Moscatelli. Esse tipo de dor é persistente, pode irradiar para outras partes do corpo, causa fraqueza muscular, dificulta movimentos, e não cede com uso de analgésicos ou anti-inflamatórios – entre outros sintomas. É o momento de ligar o alerta.

Sedentarismo tecnológico
Aquele pedido constante dos pais para que seus filhos corrijam a postura deve ser levado cada vez mais a sério entre as novas gerações. “Estamos vivendo uma geração em que os jovens praticam atividades físicas cada vez menos, tornando-se reféns da tecnologia e da introspecção, o que gera uma falta de fortalecimento e sedentarismo. Faltam mais atividades coletivas, esportes e interações cotidianas”, afirma o médico.

Ao sedentarismo crescente das crianças e adolescentes deste começo de século, veio se juntar outro “aliado” poderoso: o celular. “Com o sedentarismo e o uso cada vez mais constante dos smartphones, estamos criando uma geração de pessoas com retificação de coluna cervical e dores crônicas”, diz Moscatelli. A postura curvada, cabeça baixa e rosto em cima da tela, que praticamente todo mundo adota quando está manipulando o celular, tem sérias implicações. “A cabeça possui 6 kg em média na posição ereta, porém com a posição olhando para baixo, geramos um vetor força de até 24 kg, o que sobrecarrega nossa coluna cervical, que já não possui fortalecimento adequado”, explica.

No entanto, Marco Moscatelli ressalta que pessoas de qualquer idade podem adquirir algum tipo de problema na coluna. Cada qual com a sua prevalência: a escoliose juvenil é a mais comum entre os 10 e16 anos; a hérnia de disco lombar costuma surgir entre os 30 e 50 anos; a artrose facetaria e a degeneração discal acima dos 50 anos, ou mesmo uma simples distensão muscular. As principais doenças a afetar a coluna são hérnia de disco, lombalgia, artrose, osteoporose, e escoliose.

A passagem do tempo também é um fator natural no processo. “A coluna sofre um desgaste natural, iniciando a partir dos 50 anos um processo de artrose das articulações, degeneração dos discos intervertebrais por desidratação, hérnia de disco, e diversas instabilidades”, explica Moscatelli. Ele ressalta que essas alterações também podem depender da genética, fortalecimento, traumas, tabagismo, dentre outras variáveis.

Prevenção, atividade física e correção da postura são pontos importantes para a proteção da coluna vertebral no dia a dia


Prevenção, atividade física e correção da postura são pontos
importantes para a proteção da coluna vertebral no dia a dia

Prevenção
A prática de exercícios físicos regulares, sob a orientação de um profissional, é uma das medidas protetoras da coluna mais recomendadas. E para todas as idades. “O contexto principal para a realização de exercícios físicos é o fortalecimento corporal como um todo, não importando a idade, respeitando o limite de cada indivíduo e não sobrecarregando a coluna como um todo, pois a individualidade é o que rege o bom resultado. Temos idosos maratonistas e jovens sedentários, portanto devemos avaliar caso a caso”, afirma Moscatelli.

A má postura e o sedentarismo são problemas que os hábitos saudáveis combatem de frente. Segundo o neurocirurgião, um organismo saudável permite o fortalecimento corporal, principalmente o do “core”, que é a musculatura abdominal e lombar. Ao lado disso, se complementam a adoção de uma boa postura sentado, deitado ou em movimento; evitar também levantar pesos de forma incorreta, ficar sentado por um longo período, e até mesmo o excesso de atividades físicas.

Tratamentos
Há tratamentos diversos conforme a gravidade do problema. Se o caso não for de urgência neurológica, o tratamento clínico é a primeira opção. Há medicações analgésicas, anti-inflamatórios, relaxantes musculares, que são associados com os tratamentos adjuvantes como por exemplo fisioterapia convencional, terapia manual, osteopatia, Fisioterapia neurológica, RPG, e pilates. Marco Moscatelli ressalta que esses procedimentos podem ter de 90 a 95% de sucesso no tratamento, sem necessitar de intervenção cirúrgica.

Mas, nos casos em que o tratamento clínico não foi suficiente (ou em casos de urgência), a cirurgia se faz necessária. “Iniciamos o tratamento cirúrgico menos invasivo possível. Dispomos de técnicas minimamente invasivas como infiltrações, rizotomias, bloqueios e cirurgia endoscópica da coluna”, diz Moscatelli. Ele afirma que a cirurgia pode resolver de 80 a 90% dos problemas na coluna segundo os protocolos mundiais. O tratamento cirúrgico representa até 10% dos casos, segundo o médico.

Sob cuidados
A ativista social Ana Paula Felizardo precisou reeducar sua relação com a coluna. A falta de atenção com a postura e outras desatenções cotidianas levou a uma hérnia de disco e uma cirurgia. “Nunca mais quero sentir uma dor como aquela. Estou bem melhor, mas ainda sou uma pessoa vulnerável. Preciso redobrar a atenção nos cuidados”, diz. Ela conta que foi a partir de 2016 que as dores começaram. E foram piorando gradativamente.

“As crises que eram espaçadas no começo, foram aumentando. Comecei a ter espasmos na região da coxa esquerda, com formigamento e dormência na perna” conta ela, que na época estava sob cuidados de um ortopedista. Com o agravamento dos sintomas, ela foi orientada a procurar um neurologista. Fez um exame mais elaborado, com tomografia e ressonância, descobrindo a hérnia de disco. Era preciso a cirurgia, realizada em 2017.

O passo seguinte foi a fisioterapia. “É todo um processo de reeducação física. A gente que voltar a adquirir força na perna, ajeitar a coluna. É muito importante fortalecer a musculatura”, afirma. O seu cotidiano teve que se adaptar à novas necessidades. “Não uso mais notebook, optei pelo computador de mesa, que é melhor para a postura correta. Presto mais atenção como durmo, como ando, como me sento. É um processo de reeducação”, diz. Ela adotou o Método McKenzie como fisioterapia, que atua na base da prevenção, educação, e redução da dependência dos medicamentos. “Acho que a fisioterapia no Brasil precisa ser modernizada e mais democratizada. Seria um avanço para todos”, conclui.

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