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Sem infraestrutura, mercados públicos afastam clientes

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Sara Vasconcelos – Repórter

Frutas, artesanato, fumo de rolo, lambedor e especiarias, carnes, peças de antiquário e boa conversa. De um tudo se acha nos mercados públicos espalhados pela cidade, exceto boa infraestrutura e intenso fluxo de turistas e consumidores locais. Redutos que – assim como seus comerciantes – resistem ao cotidiano de abandono e subsistência, guardam  peculiaridades e tradições, há mais de 40, 50 anos.
Mesmo após reforma, o Mercado de Petrópolis não conseguiu atrair público e passa por dificuldades
Ao contrário de outras capitais brasileiras, como Recife (PE), Salvador (BA) ou Porto Alegre (RS), em que conhecer o mercado é parte de um roteiro turístico para conhecer a história do lugar e de seus habitantes, em Natal, os mercados públicos não tem o potencial atrativo. Em geral,  servem como local onde a vizinhança recorre para suprir eventuais lacunas nas despensas, durante a semana. O movimento é tão baixo que a partir das 13 horas, a maioria dos vendedores encerra  as atividades e poucas lojas e boxes ficam abertos.

No bairro das Quintas, na zona Leste da Capital, a estrutura erguida no ano de 1956 e reformada em 2007, abriga um grupo de pouco mais de 20 comerciantes que se desdobram para manter as atividades, nos boxes recobertos por azulejos brancos e gradeados.

Maria Francisca Lima, comerciante do Mercado da 4, no Alecrim, reclama do lixo e do abandono administrativo no localA confusão é maior no Mercado da 4, na Avenida Presidente Sarmento, no Alecrim. O espaço que já foi um sítio de descanso de religiosos há muito perdeu os ares de silêncio. Em meio a olhares atravessados e toda sorte de produtos, alguns de procedência duvidosa,  frequentadores se avolumam num “vuco-vuco”, entre as dez alas de boxes, de aparência suja e deteriorada.

A vendedora Maria Francisca Lima da Silva, 73 anos, há 30 trabalhando no mercado, diz que não pensa em sair do lugar. “Antes eu trabalhava vendendo refeições, depois montei esse bazar de roupas e devo ficar até quando puder”, afirma a aposentada, que se orgulha de ter criado dois filhos e uma neta com as vendas.

A sujeira que se acumula em frente aos quiosques e no sopé dos muros advém sobretudo,  da falta de uma administração, segundo ela. “A Semsur não vem aqui”, oberva. O marido dela, Francisco Raimundo da Silva, 63 anos, trocou o serviço numa borracharia para abrir um box de  conserto de eletrodomésticos. “Estou aqui desde 1996, o movimento é constante. Tenho uma clientela cativa”, afirma.

Melhor estruturado, com lojas de antiquários, sebos, videos, escolinhas de arte, praça de alimentação e artesanato, o Mercado de Petrópolis, localizado em bairro nobre, também enfrenta dificuldades em atrair frequentadores. A aposta é abertura do mezanino climatizado, um investimento de R$ 147 mil por parte do Banco do Brasil, que ainda espera os últimos retoques da Prefeitura para ser inaugurado.

O perfil do bairro, segundo o dono de antiquário Pedro Alcântara,  define as atividades. “Há uma oferta menor de frutas, peixes e carnes. É uma mudança natural. Estamos voltado a população da região, de melhor poder aquisitivo”, disse  Alcântara. A vendedora de frutas Cristina Silva, há 43 no local, lamenta que a cidade não tenha um mercado modelo. “Já ouvi sobre muitos projetos, todos terminam ficaram só na promessa”, lamenta.
Francisco Raimundo da Silva, comerciante  do Mercado da 4, no Alecrim, está no local desde 1996
‘Mercado da 6’ convive com lixo e insegurança

No Alecrim, o Mercado Público Antônio Carneiro, mais conhecido como o Mercado da 6, também convive com a sujeira e o abandono. O lixo acumulado na rua lateral ao Mercado da 6,  a Severino Alves Miller, impede o tráfego e impõe a convivência com o mau cheiro e insetos que invadem as mercadorias. A insegurança também faz parte do dia a dia do mercado.

Antônio Rocha, comerciante do Mercado da 6, no Alecrim, afirma que não há incentivo turístico para o bairroA estrutura construída a partir de 1967, foi inaugurada em setembro de 1970. Em 2008, o Mercado Público foi reformado, após um ano interditado devido a um incêndio que fez parte do ainda pouco frequentado, é um dos que mais recebem turistas em busca de artesanato. “Passamos dificuldades nesse período, porque tivemos que parar. Ficou só as tábuas. Ningem vinha aqui”, lembra Antônio Rocha, de 71 anos.

Locatário desde 1976 e orgulhoso de ser o primeiro a introduzir peças de artesanato no rol de mercadorias comercializadas, Antônio Rocha, de 71 anos, lamenta que não exista uma administração atuante no local. “Não há uma política de incentivo ao turismo, apesar de termos boas peças de artesanato de todo o Nordeste”, lembra.

A perda de espaço, segundo ele, se deve a quantidade de supermercados, shoppings e uma infinidade de comércio a cada esquina. “A bondade é que não pagamos e todos se conhecem, muitos estão aqui desde a inauguração”, disse ele.

Com a revitalização, há quatro anos, os comerciantes esperavam a implementação de projetos culturais que aumentassem a circulação de pessoas. “É fraco o movimento aqui. A desorganização é grande. Falta uma administração e fiscalização da Prefeitura, hoje aqui  se transformou numa favela”, disse a comerciante Lindalva André dos Santos, de 63 anos.

O diretor do Departamento de Feiras e Mercados Públicos da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), Alexsandro Rocha, assegura que há administradores da Semsur em cada um dos equipamentos. Entretanto, a fiscalização não ocorre “à contento, devido ao baixo número de técnicos da Secretaria”, alega ele.

Somente no Mercado da 4, enfatiza o diretor, não há intervenção da Semsur na administração. “Há grandes dificuldades, precisaríamos fazer um trabalho conjunto com a Polícia no local para regularizar o comércio local”, disse ele. Um esboço de projeto de revitalização está engavetado desde a gestão passada, segundo Alexsandro Rocha. “Precisa de recursos para reconstruir o Mercado da 4”, avalia.

O diretor não soube informar o valor dos investimentos feitos ao longo do ano para cada um dos mercados visitados pela reportagem da TN.
Pedro Alcântara, comerciante do Mercado de Petrópolis, diz que devido ao público do mercado, a menor oferta de frutas e peixes é natural
Obra não tem data para ser concluída

A obra do Mercado das Rocas, projetado para ser modelo, passou por diversas paralisações e entraves desde que foi iniciada em 2007. A primeira paralisação da obra aconteceu em novembro de 2008. Nesse intervalo, foram muitas as retomadas e anúncios de novos prazos. Contudo, a estrutura permanece abandonada.

Tapumes de madeira fecham os buracos onde seriam as janelas e as portas do prédio. Na entrada, um madeirite preso com correntes e cadeados. Pela fresta é possível perceber que o mato toma conta do interior do prédio. Do lado de fora, muito lixo, sujeira por todos os lados, e a placa informando “Reforma e ampliação do Mercado Modelo das Rocas. R$ 1.570.930,00”.

O projeto do Mercado Modelo das Rocas previa a construção de 44 boxes no térreo para comercialização de frutas, verduras e carnes. No primeiro andar, mais 44 boxes para serviços como praça de alimentação, casa lotérica, telefones públicos, salão de beleza, autoatendimento bancário, palcos para eventos culturais, elevador, rampas de acessibilidade e banheiros com fraldários.

Ao todo, 79 permissionários que ocupavam o Mercado das Rocas foram alojados na Feira das Rocas e em um galpão na Avenida Duque de Caxias.

De acordo com a futura secretária de Planejamento, Virgínia Ferreira, a retomada das obras é prioridade da gestão Carlos Eduardo Alves, que deverá concluir com complemento de recursos próprios. Uma vez que os cerca de R$ 600 mil referentes  ao convênio com o Ministério do Turismo para a reforma e ampliação do Mercado das Rocas obra, não são suficientes.

Sobre as irregularidades na prestação de contas desta obra, a equipe de transição e o Prefeito em exercício, Paulinho Freire, entraram num consenso para a abertura de sindicância para averiguar cada contrato referente ao Mercado das Rocas. “Entendemos que a devolução desse valor ao governo federal, seria uma atestado de concordância com o estado de abandono dos últimos quatro anos. A obra é prioridade”, afirma Ferreira.

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