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Sem merenda, escolas do Rio Grande do Norte adiam retorno

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Cláudio Oliveira
Repórter
Quase um ano e meio após a suspensão das aulas nas escolas por causa da pandemia da covid-19, as escolas estaduais do RN iniciaram nesta segunda-feira, (26) o processo de retomada das aulas presenciais com 30% dos estudantes. Porém, nem todas as unidades conseguiram receber seus alunos. 
Expectativa era de ter entre 13 e 18 mil estudantes de volta às salas de aula. Secretaria de Educação saberá hoje quantas escolas foram afetadas por falta de merenda
Problemas no fornecimento de merenda, reformas em andamento e até a limitação no horário da concessão da meia tarifa na passagem de ônibus impediram o retorno na sua totalidade. 
A Secretaria Estadual de Educação e Cultura (Seec-RN) considerou que são “problemas pontuais, a serem resolvidos ainda nesta semana”.  Todas as 586 escolas estaduais estavam previstas para receber alunos nesta segunda-feira, 26, mas o levantamento daquelas que efetivamente conseguiram fazer essa retomada, só deve ser concluído nesta terça-feira, 27, pela Seec-RN.
Em Natal, a Escola Estadual Monsenhor Walfredo Gurgel, em Candelária, cumpriu com os requisitos para acolher os estudantes desde a recepção com tapetes sanitizantes, álcool em gel à disposição pelos corredores, sinalização horizontal e vertical indicando o distanciamento correto, além da organização de mesas nas salas e refeitório na distância exigida e avisos, com orientações sobre o uso obrigatório de máscaras, por exemplo. O colégio funciona com diferentes modalidades dos Ensinos Fundamental e Médio (Integral, regular, técnico).
“Estamos com 35% da demanda, que são alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio. Ainda não conseguimos chegar a todos, mesmo fazendo a busca ativa, mas continuamos com o ensino remoto para aqueles que não puderam voltar”, explicou a diretora Edijane Maria Vilar. 
 A escola tem 265 alunos e, para saber quais retornariam, seguiu as orientações da Seec-RN, consultando pais e alunos através de questionário virtual. Para o retorno, porém, houve dificuldade com a merenda escolar. A diretora disse que foi preciso usar alimentos dos kits que seriam eram entregues aos alunos com dinheiro da merenda e completar os itens que faltavam usando dinheiro próprio.
Por essa mesma razão, o Colégio Atheneu Norte-rio-grandense não conseguiu reiniciar as aulas, apesar de estar fisicamente preparado. Seriam 36 estudantes divididos em três turmas, com o turno vespertino permanecendo no ensino virtual. Tudo isso está em consonância com o documento da Seec-RN, que prevê que as escolas recebam nesta primeira etapa 30% dos estudantes para, 15 dias após análise da situação, ampliar essa quantidade.  
“Não retornamos por fata de merenda. A previsão é de que a entrega seja feita na próxima segunda-feira, dia 2. Mas nós estamos com a prestação de contas em dia. É o que cabe à escola, inclusive já providenciamos o cartão PNAE, mas o fornecedor alegou não ter condições de entregar a todas as escolas a tempo”, explicou o diretor do Atheneu, Magno Alexandre. O cartão PNAE foi criado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para possibilitar às escolas a realização dos pagamentos aos fornecedores da Alimentação Escolar.
Mas, em Natal, os estudantes enfrentaram mais um problema. No transporte público, o direito à meia passagem só estava sendo concedido a partir da 8h e até as 17h, contrastando com os horários de chegada de alunos no turno matutino e de saída do turno vespertino. “Imagine se eu não tivesse com mais de R$ 4? Sem merenda e com esse problema da passagem é mais um empecilho pra gente retomar as aulas nas escolas”, pontuou a estudante do Colégio Atheneu, Ana Caroline do Nascimento Fonseca.
Ela e a colega Syanne Oliveira foram à escola para debater no Grêmio Estudantil Celestino Pimentel sobre o adiamento do retorno às aulas na escola. “É complicado. A gente quer retornar com todos os cuidados, mas essas dificuldades nos fazem ver que não oferecem condições pra voltar agora e vira uma luta de mão única porque falta o básico, que é comida e transporte”, resumiu Syanne.
A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana de Natal (SSTU) informou que, para os estudantes que estão retornando às aulas presenciais, a meia tarifa no transporte público está sendo liberada em tempo integral. Segundo a pasta, as escolas estão repassando essas informações para que o benefício seja liberado.
Reforma
Algumas escolas também ficaram impedidas de recomeçar as aulas presenciais porque ainda estão concluindo reforma em suas dependências. Na Redinha, zona Norte de Natal, a Escola Estadual Leonor Lima, que tem apenas cinco salas de aula, está consertando o teto do pátio, que foi interditado pela Defesa Civil, há alguns meses.
“Nós não conseguimos receber a merenda ainda e, mesmo que tivéssemos recebido, não teríamos como receber os alunos por causa dessa reforma. O teto do pátio estava cedendo”, contou a vice-diretora, Anne Cristina Araujo.
A escola é de pequeno porte, com 200 alunos matriculados em três turnos do Ensino Fundamental I e II. Após a reforma, que começou há duas semanas, será dedicado ainda um dia para capacitação dos professores.
Alunos defendem retorno, mas Sindicato diverge
Os diretores das escolas ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE, bem como os estudantes, defenderam que o momento pede o retorno das aulas presenciais dentro das normas sanitárias contra a covid-19, mesmo que o ideal fosse ocorrer quando todos estivessem vacinados, que é o cenário defendido pelo Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Rio Grande do Norte (Sinte-RN).
Atualmente, ao menos a primeira dose da vacina já foi garantida aos trabalhadores da Educação, mas os estudantes continuam sem previsão de serem imunizados. Por isso o retorno é gradual, facultativo aos pais e alunos e no formato híbrido.
“A gente entende que deveríamos esperar a segunda dose do corpo docente. Mas retornamos com todas as medidas sanitárias”, disse a diretora da Escola Estadual Monsenhor Walfredo Gurgel, Edjane Vilar.
A professora Fátima Davim destacou que a insegurança continua porque o contato é maior quando há socialização. “Mas a dificuldade é maior sendo não-presencial. Os alunos relatam sobre a ansiedade que sofrem, as perdas para a covid, então é válido retornar porque a gente tem que recomeçar. Isso aumenta a responsabilidade e estamos dispostos a assumir, sendo que o cuidado não é só da escola, mas também da família”, enfatizou a professora.
Os estudantes concordam. A Yasmin Raquel, estudante do 3º ano técnico disse que esse é o momento, especialmente para a modalidade de ensino dela. “Temos projetos que precisamos fazer na prática com uma orientação mais próxima. A aula on line é diferente”, argumentou.
O estudante Madson Aurélio também é a favor. “Na escola temos toda uma ambientação, com o professor perto e maior concentração. Ajuda muito essa interação com os outros alunos para trocar ideia”, disse.
Para o Sinte, as aulas só deveriam retornar presencialmente após a completa imunização dos professores.  Permanece válida atualmente a decisão de primeiro grau da 2ª Vara para o retorno das aulas presenciais. A assessoria jurídica do Sinte disse que está recorrendo.

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